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Mais de 71 mil pessoas esperam por doações de órgãos no Brasil

Cristina Matias<br>Especial para o UOL Ciência e Saúde

24/10/2008 21h00

Na última segunda-feira (20), Maria Augusta Silva dos Anjos, 39 anos, foi submetida a uma cirurgia aguardada com ansiedade desde 2006. Ela é a mulher que recebeu o coração de Eloá Cristina Pimentel, 15 baleada após ser mantida em cárcere privado pelo ex-namorado durante cinco dias. A família da vítima autorizou a doação, ainda, dos rins, pâncreas, pulmões, fígado e córneas.

A iniciativa dos pais de Eloá certamente trouxe esperança para os mais de 70 mil pacientes que esperam um órgão no Brasil. O caso provavelmente chamou mais atenção do público que a campanha lançada no mês passado pelo Ministério da Saúde, com o slogan "Tempo é vida", em referência ao aspecto mais aflitivo na vida de quem precisa de um transplante.

Para que um órgão seja doado, é preciso que a família autorize. "Não é necessário o doador regulamentar sua vontade por escrito, mas é a família que dá a palavra final e se ela souber disso vai respeitar a vontade da pessoa e, certamente, autorizar", diz José Medina Pestana, presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e diretor e coordenador da Unidade de Transplantes do Hospital do Rim e Hipertensão da Unifesp.

O trabalho das equipes envolvidas na doação e captação de órgãos não é fácil. Pestana ressalta que, além do desafio de convencer os parentes de um potencial doador com morte encefálica comprovada, os procedimentos de retirada e transporte devem ser feitos em tempo hábil para que o órgão doado não seja perdido. De acordo com o Ministério, as notificações de potenciais doadores só ocorre em 50% dos casos e apenas 20% delas são concretizadas. E a conta é simples: menos órgãos aproveitados, mais tempo na fila para receber um órgão.

Espera

"No primeiro semestre deste ano, foram realizados 8.365 transplantes no país, o que representa um aumento de 15,68% no número de procedimentos com relação ao mesmo período do ano passado, mas podemos aumentar ainda mais este número", diz o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. O Brasil detém o maior programa público de transplantes de órgãos e tecidos do mundo, sendo que 95% das intervenções são realizadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

"Embora o país tenha uma série de dificuldades econômicas, temos uma medicina de alta complexidade bastante evoluída. O SUS fornece ao transplantado toda medicação necessária para o resto da sua vida. Um custo em torno de R$ 2 mil por mês", revela Medina. O Brasil também é o segundo país no mundo na realização de transplantes, apesar do número alto de pacientes que esperam um órgão.

O Novo Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes, lançado pelo Ministério da Saúde no mês passado, prevê a padronização das regras da fila de espera em todos os Estados, além de mecanismos para evitar "tentativas de fraude e irregularidades" como a instalação de um sistema de acompanhamento da situação da fila, pela Internet, somente acessado por pacientes cadastrados.

O Governo também divulgou uma consulta pública para colocar em vigor o sistema de "doador expandido", que permite a doação de órgãos entre portadores de hepatites B e C, Aids, doença de Chagas e alguns tipos de tumores intracranianos, com o consentimento do receptor, para aproveitar órgãos até então desperdiçados.
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