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Em experimento científico, pediatra come apenas alimentos orgânicos por três anos

Por Tara Parker-Pope<br>The New York Times

15/12/2008 13h18

Frutas, vegetais e animais podem ser 100% orgânicos. E as pessoas?

Em um experimento fascinante - com ele próprio - Dr. Alan Greene, pediatra e escritor residente em Danville, Califórnia, decidiu descobrir a resposta. Nos últimos três anos, Greene só comeu alimentos orgânicos, preparados em casa, no restaurante ou comprados na rua.

Ele escolheu três anos como meta porque esse é o período de tempo necessário para que um animal seja certificado como orgânico pelo Departamento de Agricultura. Agricultores e pecuaristas devem obedecer às normas orgânicas diariamente, e Greene se perguntou se uma pessoa conseguiria atingir os mesmos padrões.

Não foi nada fácil.

Arquivo Folha Imagem
Após três anos alimentando-se apenas com comida orgânica, o pediatra Alan Greene afirma ter mais energia e acorda mais cedo
FRUTAS: APARÊNCIA NÃO É TUDO
"Não é a alimentação que eu recomendaria a ninguém, pois é muito incomum", disse Greene, 49 anos, criador de um popular site da Internet sobre saúde infantil, o drgreene.com. "Foi um desafio maior do que eu pensava, e olhe, eu já previa que seria difícil. Houve dias em que definitivamente não encontrei nada orgânico".

Outros escritores já se aventuraram por alimentações incomuns, com destaque para Barbara Kingsolver em "Animal, Vegetable, Mineral" e Michael Pollan em "The Omnivore's Dilemma". No entanto, o que faz o experimento de Greene ser extraordinário é a quantidade de tempo que ele dedicou, e seu esforço para incorporar a alimentação orgânica na rotina. Suas descobertas oferecem uma nova compreensão sobre os desafios enfrentados pela indústria de alimentos orgânicos e por aqueles que desejam adotá-la.

Agricultores e pecuaristas orgânicos não usam métodos convencionais para fertilizar o solo, controlar espécies daninhas e pestes, ou até prevenir doenças em rebanhos.

Métodos orgânicos geralmente acarretam custos mais altos, e os consumidores pagam duas vezes mais por alimentos orgânicos em relação aos produtos convencionais. No mês passado, o site de dicas financeiras SmartMoney.com informou que para alimentar oito pessoas com uma ceia tradicional e orgânica de Thanksgiving, um consumidor teria de pagar US$ 295.36 - ou seja, US$ 126.35 a mais, ou 75%, que uma ceia não-orgânica.

Para reduzir os custos de uma dieta como esta, Greene afirmou ter sido obrigado a diminuir o consumo de carne. "Quanto mais você sobe na cadeia alimentar, mais custo dispara", disse ele. "Se você não come carne em todas as refeições, ou se a carne se tornar mais um acompanhamento do que um item central, você pode encher o prato com alimentos orgânicos saudáveis pelo mesmo preço".

A questão que permanece é se os alimentos orgânicos são realmente melhores para a saúde. Os dados são confusos. No segundo semestre, pesquisadores da Universidade de Copenhagen relataram um experimento de dois anos de duração no qual eles plantaram cenoura, couve-flor, ervilhas, batata e maçã utilizando métodos de plantio orgânicos e convencionais. Os pesquisadores descobriram que os diferentes métodos não tiveram nenhum impacto nos nutrientes das colheitas ou na quantidade de nutrientes retida por ratos que se serviram desses alimentos. O estudo foi publicado no The Journal of the Science of Food and Agriculture.

No entanto, outra pesquisa sugere que alimentos orgânicos contêm mais de alguns nutrientes - quase o dobro, no caso de tomates orgânicos estudados em 2007 para uma análise publicada no The Journal of Agricultural and Food Chemistry.

Greene afirmou ter se inspirado a "virar orgânico" após conversar com um produtor de leite. O homem observou que o rebanho ficou doente menos vezes depois da adoção de práticas orgânicas. Ele se perguntou se poderia melhorar sua própria saúde sendo 100% orgânico.

Três anos depois, Alan Greene afirma ter mais energia e acorda mais cedo. Como pediatra, regularmente exposto a crianças doentes, ele se acostumou a ficar doente várias vezes por ano. Greene conta que, hoje em dia, praticamente não fica enfermo. Sua urina tem um tom mais vívido de amarelo, sinal de uma maior ingestão de vitaminas e nutrientes.

Em casa, disse ele, a nova rotina foi relativamente fácil. Alimentos orgânicos estão largamente disponíveis, não só em lojas como a Whole Foods, mas também em supermercados tradicionais. Ele também comprava em mercados de agricultores e se juntou a um grupo de agricultura apoiado pela comunidade. Pelo fato de ter ingerido menos carne, os custos tenderam a se equilibrar. Sua família (dois dos seus quatro filhos ainda moram com ele) participou ativamente do experimento.

No entanto, na rua a vida era mais difícil. Em cafés empresariais e lojas de conveniência, ele procurava adesivos que começavam com o número nove, significando orgânico; adesivos em alimentos convencionais começavam com o número quatro.

Quando saía para jantar, ele telefonava antes; restaurantes sofisticados estavam dispostos a atender seu pedido 100% orgânico. Ele também descobriu algumas linhas de produtos alimentícios orgânicos que podiam ser levados consigo no dia-a-dia.

Greene atingiu o marco dos três anos em outubro, mas sua dieta permanece orgânica. Ele ainda não decidiu se vai mantê-la integralmente ou se vai aliviar um pouco, em nome dos custos e da conveniência. Em seu livro mais recente, "Raising Baby Green: The Earth-Friendly Guide to Pregnancy, Childbirth and Baby Care" (Jossey-Bass), ele defende uma abordagem "estratégica", encorajando pais a insistirem em versões orgânicas de alguns alimentos básicos, como leite, batata, maçã e comida de bebê.

A maior surpresa de toda a experiência, ele conta, foi que muitas pessoas ainda não sabem o que significa "orgânico".

"É surpreendente ver que poucas pessoas sabem que orgânico significa sem pesticidas, antibióticos e hormônios", ele disse. "Em lojas ou restaurantes por todo o país, eu perguntava: 'Você tem algo orgânico?' Metade das vezes eles respondiam: 'Você quer dizer vegetariano?'"