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Antes de comprar uma esteira, pense na sua motivação real (e não ideal)

Por Tara Parker-Pope<br>The New York Times

08/01/2009 19h35

Um ano atrás, comprei um aparelho elíptico - uma máquina de ginástica que seguramente me faria obter uma malhação diária.

Hoje, minha máquina de exercícios top de linha permanece ociosa a maior parte do tempo. Mas eu não estou sozinha. A cada ano, consumidores gastam cerca de 4 bilhões de dólares em esteiras elétricas caseiras, bicicletas ergométricas, steppers e outros equipamentos que terminam juntando poeira. Uma pesquisa da revista "Consumer Reports" do ano passado descobriu que quase 40% daqueles que compram máquinas para exercícios em casa afirmam usá-las menos do que esperavam.

The New York Times
Isso pode ser desmotivador para pessoas como eu, mas é uma fonte de fascinação para cientistas comportamentais. A esperança é que, ao compreender melhor o comportamento, eles possam ajudar as pessoas a tomar melhores decisões de compra - e ajudá-las a iniciar os exercícios e seguir com eles.

Comprar um aparelho de exercícios parece realmente influenciar se as pessoas começam ou não a malhar. No entanto, alguns pesquisadores sugerem que as mesmas pessoas têm menos chances de continuar se exercitando do que quem não possui equipamentos em casa.

Em outubro, o jornal "Annals of Behavioral Medicine" divulgou um estudo com 205 adultos sedentários estimulados a iniciar um programa de exercícios. Em seis meses, cerca da metade deles havia começado a se exercitar, mas aos 12 meses, um terço já havia abandonado a atividade.

Pessoas com aparelhos caseiros de ginástica apresentaram 73% mais chances de começar a se exercitar. Porém, ao final de um ano, elas também tiveram 12% a mais de probabilidade de desistir do que as pessoas sem equipamentos.

Isso não significa que um aparelho caseiro de ginástica implique menos exercícios. Apenas indica que ter equipamentos caseiros não é o fator mais importante. O mais importante é a "autoeficácia" - uma idéia profundamente arraigada de que nós realmente temos o poder de atingir nossos objetivos. No estudo publicado, aqueles que atingiram maiores resultados nas medições psicológicas de autoeficácia tiveram quase três vezes mais chances de continuar se exercitando após um ano do que aqueles com resultados mais baixos de autoeficácia - possuindo ou não um aparelho de ginástica.

Suprir as próprias expectativas também influencia a continuar ou não com o exercício. Participantes do estudo satisfeitos com os resultados de seu plano de exercícios tiveram duas vezes mais chances de continuar a atividade física do que os descontentes.

Embora acreditar que é possível e ficar contente com os resultados possa parecer uma parte óbvia do sucesso, pesquisadores dizem que as pessoas muitas vezes não conseguem considerar esses assuntos psicológicos ao iniciarem um plano de exercícios.

"Qual é sua confiança na sua habilidade de manter um programa de exercícios quando está de férias, doente ou ocupado?", pergunta David M. Williams, professor assistente de psiquiatria e comportamento humano da Alpert Medical School da Universidade Brown, que comandou o estudo sobre exercícios. "Não é que os aparelhos caseiros de exercício não funcionem. Eles são apenas um pedaço muito pequeno do quebra-cabeça, pois pode facilitar o exercício, mas as pessoas ainda precisam se motivar a isso."

William conta que há maneiras mais simples de aumentar as chances de se continuar com os exercícios. Malhar com amigos ou membros da família, dominar um exercício (como a maneira correta de usar um aparelho) e trabalhar com alguém que o motive, como um personal trainer, tudo isso cria segurança e reforça as chances de continuidade.

No entanto, os consumidores precisam distinguir entre a motivação real e o otimismo ilusório que muitas vezes aparece quando se está comprando um novo aparelho de ginástica.

"A maioria das metas que definimos para nós mesmos tende a ser romanticamente alta", diz Ravi Dhar, diretor do Yale Center for Customer Insights e professor de marketing e psicologia. "Ao comprar esses aparelhos, você provavelmente acaba focando em um ou dois atributos, como a facilidade de uso ou a praticidade de tê-lo em casa. Não pensa nos obstáculos, no que está abrindo mão, como no tempo com os amigos ou a internet".

Em experiências a serem publicadas no próximo mês em "The Journal of Consumer Research", cientistas da Duke e da Universidade do Wisconsin estudaram maneiras de ajudar pessoas a tomar decisões de compra mais realistas.

Em um grupo, estudantes do ginásio foram questionados com que frequência se exercitariam num período de duas semanas. Eles estimaram em cinco vezes, e então indicaram que pagariam cerca de 610 dólares por uma esteira elétrica.

Num segundo grupo, os estudantes foram questionados com que frequência se exercitariam sob condições ideais, sem restrições em seu tempo, motivação ou capacidade física. A resposta: 10 vezes. Então foram questionados com que frequência eles realmente se exercitariam, e a resposta baixou para menos de quatro vezes. Com base na realidade, este grupo estava disposto a pagar apenas 480 dólares por uma esteira.

Quando os participantes registraram seu exercício real num período de duas semanas, ele totalizou cerca de três dias. Isso mostra que o simples ato de distinguir entre definições ideais e o mundo real ajudou aqueles do segundo grupo a formular estimativas mais realistas.

"Não estamos dizendo às pessoas para pararem de comprar esteiras", explica Kurt A. Carlson, professor assistente da Fuqua School of Business na Universidade Duke. "A questão é como fazer com que as pessoas certas as comprem. Todos os outros deveriam reconhecer que não possuem a motivação, e gastar seu dinheiro num personal trainer ou em qualquer outra coisa que os motive."