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Americanos descobrem jarro de plutônio "safra 1944" em depósito de lixo

Pro Henry Fountain<br>The New York Times

06/03/2009 17h54

Um velho cofre enterrado num depósito de lixo da Reserva Nuclear Hanford, no estado de Washington, rendeu um artefato do início da era atômica: um lote de plutônio, dos primeiros já feitos.

O plutônio, encontrado num jarro de vidro de um galão depois que uma equipe de limpeza destruiu o cofre com uma escavadeira, foi processado em Hanford, no final de 1944, a partir de combustível de urânio empobrecido de um reator em Oak Ridge, no Tennessee. Foi produto dos testes de uma planta construída para a separação de plutônio para uso no Projeto Manhattan - de produção da bomba atômica.

Além do significado histórico da descoberta - a única amostra conhecida de plutônio feito pelo homem foi produzida em 1941 num acelerador e está armazenada na Instituição Smithsonian - as técnicas empregadas para determinar sua origem oferecem um vislumbre do tipo de trabalho detetivesco que pode ser usado contra o terrorismo atômico.

"Este é um exemplo completamente sem classificação do tipo de ciência que poderia ser aplicado na criminalística nuclear", disse Jon M. Schwantes, que comandou uma equipe na análise do plutônio no Laboratório Nacional do Pacífico Norte, em Richland, Washington. Suas descobertas foram divulgadas na publicação científica Analytical Chemistry.

Através de análises isotópicas, simulações de reatores e outras técnicas, Schwantes e sua equipe determinaram quando o plutônio foi separado e qual reator forneceu o combustível. Como cada reator produz combustível empobrecido com uma "impressão digital" única de pequenas variações em concentrações isotópicas, análises parecidas poderiam ajudar os investigadores a determinar a fonte de material para uma bomba terrorista.

Os pesquisadores também demonstraram como outra assinatura isotópica poderia ser usada para calcular quando uma quantia de plutônio havia sido separada de um lote maior, além do tamanho do lote original. Isso ajudaria a determinar se uma quantidade apreendida de plutônio representa apenas parte de um pedaço maior.

O jarro de vidro, contendo menos de meio grama de plutônio-239, uma minúscula parte da quantia necessária para uma bomba, foi encontrado rabiscado com as palavras "dejetos para devolução", ao ser removido do cofre de concreto em 2004.

Assim que foi determinado que o plutônio teve sua origem no Tennessee, os pesquisadores descobriram antigos manifestos de remessa documentando a transferência de 96 cápsulas de combustível de reator empobrecido de Oak Ridge a Hanford, em setembro de 1944.

Em Hanford, grandes fábricas para separar o plutônio do combustível de reator, e os reatores para fornecer o combustível, estavam sendo construídos simultaneamente. Uma instalação de separação, a Planta T, foi a primeira a ser finalizada, no final de 1944. Como não havia combustível local pronto para testar a eficiência do processo, o combustível de Oak Ridge foi utilizado.

Posteriormente, combustível de Hanford foi usado na produção de plutônio para a primeira bomba-teste, detonada no Novo México em julho de 1945, e para a bomba lançado sobre Nagasaki, no Japão, um mês mais tarde.

Robert S. Norris, autor de "Racing for the Bomb," uma biografia do General Leslie R. Groves, líder militar do Projeto Manhattan, disse que havia plutônio sendo produzido ainda antes disso em Oak Ridge, usando uma planta-piloto de separação. Aquelas pequenas amostras eram analisadas por cientistas do projeto, e suas descobertas levaram a abruptas mudanças de planos para o projeto da bomba de plutônio. Mas onde aquele plutônio foi parar é desconhecido, disse Norris.

Quanto à amostra de Hanford, não espere que ela esteja em exposição no Smithsonian em breve. Uma razão de se examinar o Projeto Manhattan com objetivos forenses, disse Schwantes, "é identificar e adquirir amostras de interesse que podemos usar como material de referência cruzada" em novas investigações. O plutônio de Hanford é exatamente essa amostra, disse ele, e permanecerá nas mãos do governo.