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The New York Times: Resultados na saúde direcionam projetos de novos hospitais nos EUA

Carol Ann Campbell<br>The New York Times

22/05/2009 21h01

A cortina entre duas camas de hospital não isola o som da televisão, não oferece privacidade durante conversas críticas com médicos e tampouco impede a disseminação de germes. Mesmo assim, na maioria dos velhos hospitais dos Estados Unidos, ela é a única separação entre estranhos alocados como companheiros de quarto simplesmente por estarem doentes.

Porém, em muitos hospitais novos, esses quartos semi-privados desapareceram. Hoje, quartos particulares são vistos como um importante elemento num tratamento de saúde de alta qualidade.

Os benefícios do quarto particular emergiram com os projetos de hospitais baseados em evidências, um novo campo que direciona as construções da área de saúde. Mais de 1.500 estudos examinaram formas pelas quais o projeto pode reduzir os erros médicos, infecções e quedas - além de aliviar o stress dos pacientes.

Os hospitais americanos iniciaram 16 milhões de metros quadrados de novas construções e grandes adições em 2008, de acordo com relatório da McGraw-Hill Construction, uma empresa que acompanha tendências industriais. Defensores dos projetos baseados em evidências dizem que um edifício exerce uma força poderosa sobre a entrega de saúde, e os melhores centros de saúde são calmos, de simples navegação, e não estão lotados.

"Alguns hospitais estão levando muito a sério o projeto com base em evidências", disse Roger Ulrich, diretor do Centro de Projetos e Sistemas de Saúde da Universidade Texas A&M. "Outras instituições usam projetos bastante tradicionais que não dão a menor importância às evidências. Pode haver grandes estilos, mas o hospital continua barulhento e as janelas pequenas demais para que entre luz o bastante. Há muitas oportunidades perdidas".

Além da privacidade, pesquisas mostram que os quartos particulares reduzem as infecções e o stress dos pacientes, além de aprimorar o sono. Em 2006, o Instituto Americano de Arquitetos pediu por quartos particulares na construção de um novo hospital.

Em Plainsboro, Nova Jersey, o University Medical Center de Princeton está construindo um hospital de 237 leitos ao custo de US$447 milhões. Um modelo do quarto está sendo montado no prédio atual.

"Queremos testar isso no mundo real", disse Barry S. Rabner, presidente da Princeton HealthCare System, administradora o hospital.

Como estudos sugerem que a luz natural pode reduzir a depressão e que cenas da natureza podem diminuir os níveis de dor relatados, os quartos no novo hospital terão grandes janelas com vista para as árvores e o Rio Millstone. Um corrimão ao lado da cabeceira da cama ajudará para evitar as quedas. Para evitar trocas de medicamentos e reduzir o tempo gasto pelas enfermeiras buscando remédios e suprimentos, um pequeno armário trancado - chamado de servidor de enfermeiras - conterá apenas o medicamento para o paciente daquele quarto.

Uma pia ao lado da porta permitirá às enfermeiras, médicos e visitantes a limpeza de suas mãos antes de entrar. Os quartos serão angulados para criar linhas de visão do corredor à cama, desta forma as enfermeiras podem enxergar os pacientes e vice-versa. Materiais acústicos reduzirão o barulho, e, para encorajar famílias a visitar e passar tempo ali, os quartos serão espaçosos e equipados com armários adicionais.

Rabner recentemente mostrou a um repórter um quarto semi-privado no prédio atual. Era uma construção envelhecida e atualizada com uma confusão de adendos.

"Isso não cria privacidade", disse ele enquanto puxava uma cortina entre as duas camas vazias. "Não há espaço para a família. Não tem armários. O paciente da janela enfrenta uma longa caminhada para chegar ao banheiro. Não há corrimão ao lado da cama".

Mais adiante nesse corredor, um paciente, Jay Paszamant de Princeton, disse que se sentiria mais confortável num quarto particular. "Eu tenho de passar pela família dele quando vou ao banheiro", disse, referindo-se ao jovem da cama ao lado. "Me sinto desconfortável escutando os assuntos de meu vizinho. Não quero invadir sua privacidade".

As seguradoras que pagam as contas querem saber se os quartos particulares e as vistas da natureza serão mais do que simplesmente atraentes. "Quando um hospital faz uma mudança - compra um novo aparelho, constrói um novo prédio -, ele precisa estar preparado para discutir essas mudanças com compradores de seus serviços", disse Susan Pisano, porta-voz da associação comercial America's Health Insurance Plans. "Eles têm de comprovar que essas mudanças irão melhorar a qualidade, segurança e eficiência".

O Center for Health Design, uma organização sem fins lucrativos, baseada na Califórnia, está promovendo pesquisas através de seu Projeto Pebble. Um estudo no Centro Médico Regional St. Alphonsus, em Boise, Idaho, por exemplo, descobriu que a redução dos níveis de ruído melhorou a qualidade de sono auto-reportada pelos pacientes em quase a metade - numa escala de 1 a 10, avaliação foi de 4,9 a 7,3.

Outro estudo, no Hospital Metodista Bronson, em Kalamazoo, Michigan, descobriu que, depois da inserção de novos quartos particulares, com pias bem localizadas e projeto de circulação de ar, as infecções hospitalares caíram 11%.

A pesquisa de projeto examina elementos grandes e pequenos. Depois que o Centro Médico Sacred Heart de RiverBend em Springfield, Oregon, instalou elevadores de teto em parte de seu prédio original, os ferimentos do staff, relacionados ao processo de movimentação dos pacientes, caiu para um por ano - antes eram dez. "Achamos que eles pagaram por si mesmos em dois anos, graças à redução nas compensações à equipe", disse Jill Hoggard Green, a administradora do hospital.

Arquitetos e administradores estão ouvindo os pacientes. Em Michigan, o Hospital Henry Ford West Bloomfield praticamente eliminou os planos para o departamento de emergência do novo hospital depois que os pacientes testaram um laboratório de simulação.

"Começamos tudo de novo", disse Christine Zambricki, diretora de operações e de enfermagem do novo hospital, inaugurado em março. Pacientes da emergência, conforme o hospital aprendeu, queriam quartos grandes o bastante para que os visitantes não precisassem ficar na sala de espera. Também queriam mais privacidade - paredes ao invés das cortinas entre as camas - e um banheiro privativo.

"Eles não queriam andar até o banheiro e ver outras pessoas sangrando e chorando", explicou Zambricki.

Em muitos hospitais novos, as estações centrais de enfermagem estão sendo substituídas por estações menores, mais próximas dos pacientes, disse Anjali Joseph, diretora de pesquisa do Center for Health Design. "Projetar não significa simplesmente fazer novos hospitais bonitos e agradáveis", continuou. "Significa focar nos resultados de pacientes pretendidos pelo projeto do prédio".

"É possível que os velhos hospitais que contam com enfermeiras e equipes ótimas possam ter sucesso no pior ambiente. Mas eles têm enormes obstáculos para superar".