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ONG e universidade lançam livro com plantas raras do Brasil

Do UOL Ciência e Saúde<br>Em São Paulo

01/07/2009 17h33

A ONG Conservação Ambiental e a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) lançam nesta quinta-feira (2) o livro "Plantas Raras do Brasil", durante o 60º Congresso Nacional de Botânica, na Bahia.

A obra, que contou com o trabalho de 175 cientistas de 55 instituições nacionais e internacionais, identifica 2.291 espécies de plantas exclusivas do país e com distribuição pontual, ou seja, restritas a uma área de até 10 mil quilômetros quadrados.

CI-Brasil e UEFS
A Calliandra hygrophila, encontrada em campos rupestres da Serra do Sincorá, no Mucugê (BA), na beira de riachos
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Segundo a ONG, o lançamento deve reacender o debate ocorrido no ano passado quando o Ministério do Meio Ambiente anunciou a Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção, que considerou 472 espécies, enquanto um consórcio de 300 especialistas indicava 1.472.

Para um dos organizadores da obra, o professor de biologia da UWFS Alessandro Rapini, a situação da flora brasileira pode ser mais grave do que os números oficiais apontam. "O número total de espécies reconhecidas nesse levantamento significa cerca de 4% a 6% de todas as espécies de angiospermas (subdivisão do reino vegetal que compreende as plantas com flores) do país e, dada a área restrita de ocorrência, muitas delas podem ser consideradas ameaçadas de extinção", comenta.

Os autores ressaltam que o número de espécies raras e de áreas consideradas estratégicas no Brasil é certamente maior do que o apontado no livro. Isso se deve ao fato de algumas famílias não terem sido incluídas nessa edição ou não terem sido completamente analisadas devido ao grande número de espécies.

Em 496 páginas, o livro traz um catálogo completo com informações sobre as famílias (são ao todo 108, dentre as 177 analisadas) e suas espécies detalhando dados e distribuição de cada uma, além de um acervo fotográfico com 113 imagens e um capítulo especial, sobre as áreas-chave para a biodiversidade (ACBs), organizadas por região geográfica.

As áreas-chave para biodiversidade, ou ACBs, são lugares de relevância biológica detectados e delineados a partir da presença de espécies raras (distribuição restrita), endêmicas (exclusivas de uma determinada região) ou ameaçadas de extinção. No escopo da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), as ACBs devem ser os alvos preferenciais dos governos para atividades integradas de conservação, pois há o compromisso global de proteger, até 2010, grande parte dessas áreas contra a degradação.

A Conservação Internacional informa que, das 752 ACBs identificadas a partir da presença de plantas raras, 47% apresentam alto grau de degradação, com mais de 50% de área já alterada por atividade humana. Em contraste, somente 7,8% das ACBs possuem mais de 50% de suas áreas em unidades de conservação ou terras indígenas, indicando lacunas importantes no sistema nacional de áreas protegidas.

O vice-presidente de ciência para América do Sul José Maria Cardoso da Silva, co-organizador da obra, diz que a situação é preocupante. "A combinação desses dois indicadores nos traz uma mensagem explosiva: se nada for feito rapidamente, estamos produzindo um evento de megaextinção de plantas brasileiras, que pode aniquilar em poucas décadas o produto de milhões de anos de evolução e criar um embaraço diplomático para o Brasil, um dos primeiros signatários da CDB, pois o governo brasileiro se comprometeu a fazer todos os esforços para evitar a perda de espécies no país", declara.

Plantas Raras do Brasil
CI-Brasil e UEFS
496 páginas
R$ 80
Um site com informações sobre o livro (http://www.plantasraras.org.br) entrará em funcionamento nesta quarta-feira (1º) à noite.