Topo

Enfermeira-parteira narra sua primeira experiência triste

Elizabeth Letts*<br>The New York Times

02/07/2009 19h28

O caso era simples e direto. A mãe estava perto dos nove meses de gestação de seu primeiro filho. Um dia, ela notou que o bebê não estava chutando tanto. Esperou um pouco, achando que, talvez, estava se preocupando por nada.

No dia seguinte, o bebê ainda não se movia. Então, ela veio para uma avaliação de rotina. Não havia batimentos cardíacos. O bebê havia morrido no útero.

Ela era uma paciente de baixo risco. Nenhuma complicação. Nenhum alerta de que isso pudesse acontecer. Apenas um bebê, antes saudável, cujo coração parou de bater e ele morreu. Um dia, batimentos cardíacos. No outro, nada.

Eu tinha acabado recentemente um programa de treinamento de três anos de duração, que transformava graduados em artes liberais em enfermeiros habilidosos. Eu tinha tão pouca experiência que sempre havia uma mentora ao meu lado, todo o tempo.

Minha mentora era Barb, ex-parteira doméstica que havia ajudado no nascimento de milhares de bebês, usava brincos de jade - a pedra da sorte das parteiras - e tinha dedos longos e afinados, que pareciam ter sido desenhados para trazer novas vidas ao mundo. Uma vez, enquanto ela conduzia um bebê com batimentos cardíacos reduzidos para fora do canal do parto, ela me disse não "temer o nascimento".

Eu também não tinha o menor medo do nascimento, mas tinha medo da morte. Até aquele momento da minha carreira, ela tinha se mantido longe da vista.

Porém, naquele dia, o bebê morto precisava sair. O procedimento mais seguro era induzir o parto com pitocina, um parto vaginal. Barb, atrasada na clínica, me telefonou para analisar o caso junto com ela. Ela queria que eu fosse "ficar com a mãe".

Entrei no quarto e cumprimentei a paciente, quem eu não conhecia. A pitocina intravenosa já estava a caminho; o anestesiologista tinha iniciado a epidural. Clinicamente, não havia nada mais a ser feito. Meu trabalho, como vi, era animá-la um pouco.

Ela estava sozinha. Seus cabelos castanhos amarrados em um rabo-de-cavalo despenteado, sua camisola apertada contra sua enorme barriga. Mas, pela ausência do tique-taque confortante dos batimentos cardíacos do feto, aquele não poderia ser um dia feliz para ninguém. Eu me lembro de ter me sentido aliviada, pois ela não parecia infeliz. Sem lágrimas, sem raiva, somente o olhar levemente confuso de alguém que, por acidente, acabou indo para no lugar errado.

Havia uma cadeira no canto, sentei nela. O monitor de batimentos cardíacos, silencioso, emitiu uma tira de papel, uma linha mostrando ascensões arredondadas para cada contração. Sem o barulho do monitor de batimentos cardíacos fetal, não havia som nenhum ali, a não ser por nossa respiração e o barulho distante dos carros do lado de fora.

Sem saber direito o que fazer, enchi o vazio silencioso da sala de parto com o som da minha própria voz. Eu contei à paciente sobre meu treinamento para parteira, minha cidade-natal, meus gostos. Soube que ela era estudante de gerenciamento agrícola, que tinha crescido em Ohio, e que nós duas gostamos de um filme que havia estreado na semana anterior.

O tempo se arrastava, o monitor emitia mais papel, e eu continuava conversando. Eu me lembro de ter ficado orgulhosa de mim mesma por ter lidado com essa situação difícil com diplomacia e tato.

Eu fiquei ali por horas, até que Barb chegou, cheia de energia. Ela usava um jeans surrado e chinelos. Seus brincos de jade balançavam ao lado do pescoço. Ela jogou os braços ao redor da paciente, a abraçou por um longo minuto, depois disse: "Sinto muito mesmo".

Minha paciente se desmanchou em lágrimas incontroláveis. Barb sentou na beira da cama, sua mão segurando a mão da paciente, e elas falaram, com palavras cortadas, lentas e molhadas, sobre a terrível gravidade do que estava acontecendo. Eu sentei na minha cadeira, em choque silencioso.

A morte estava no quarto, mas tinha sido perfeitamente escondida sob os lençóis, sob nossa conduta animadora, sob o silêncio das coisas que não foram ditas.

Finalmente, o bebê chegou. Enquanto Barb levantava o corpo perfeitamente formado e sem vida, o cordão umbilical se desenrolou e revelou um verdadeiro nó. Um acidente raro, imprevisível.

Barb e eu deixamos o quarto, para que a mãe pudesse se despedir do bebê. Naquele momento, o pai já tinha chegado, e eles estavam juntos no quarto. Nunca mais os vi.

Mas minha despedida tinha acontecido antes.

Eu me despedi daquela enfermeira-parteira imatura, aquela que achava que dar apoio significava sentar no canto e fingir que a morte poderia ser encoberta por uma conversa mole.

Hoje, sei que o nascimento e a morte estão bem próximos um do outro, e que, como parteira, posso ser encarregada de trazer um ou outro ao mundo.

*Elizabeth Letts é enfermeira-parteira certificada na Pensilvânia e autora dos livros "Quality of Care" e "Family Planning."