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Ciclistas com diabetes tipo 1 participam de maratona nos EUA

Tara Parker-Pope<br>The New York Times

03/07/2009 21h32

Na semana passada, um time de oito ciclistas completou a maratona litorânea de bicicleta chamada Race Across America, em tempo recorde. Foi um verdadeiro feito em qualquer circunstância, mas o que fez disso algo extraordinário foi que todos eles tinham uma coisa em comum: a diabetes tipo 1.

The New York Times
As conquistas dos atletas com diabetes tipo 1 chegam em um momento de crescente preocupação sobre mudanças nos padrões da doença
UOL CIÊNCIA E SAÚDE
Essa doença, às vezes chamada de diabetes juvenil, representa desafios especiais para atletas. Uma pessoa com diabetes tipo 1 não consegue produzir insulina e deve tomar injeções regulares para controlar o açúcar no sangue. No entanto, o exercício também pode levar a quedas brutais, até mesmo fatais, no nível de açúcar no sangue. A diabetes tipo 2, de longe a forma mais comum da doença, tipicamente se desenvolve mais tarde na vida, geralmente relacionada a hábitos alimentares inadequados e ganho de peso; o exercício é geralmente prescrito como uma forma de manter baixo o nível de açúcar no sangue.

A conquista dos ciclistas, que têm um patrocinador corporativo e competem sob o nome de Time Tipo 1, se tornou uma fonte de inspiração para os estimados três milhões de americanos com a doença, e especialmente para pais preocupados diante de um diagnóstico de diabetes tipo 1 em seus filhos.

Porém, a vitória também oferece boas lições para todos nós, salientando os benefícios da vigilância diária, quando se trata de saúde. Pelo fato de que pessoas com diabetes tipo 1 não produzem insulina, elas não podem sobreviver se não injetarem a substância antes de cada refeição, e devem usar um monitor ou fazer testes de sangue várias vezes por dia, a fim de checar seus níveis de glicose.

Refeições, lanches, exercícios e medicação são cuidadosamente equilibrados. Esse regime meticuloso é necessário para prevenir complicações, que podem incluir insuficiência renal, cegueira e morte. No entanto, o controle rígido do nível de açúcar no sangue também pode resultar em um padrão invejável de controle de peso e saúde em geral.

"Estamos mostrando às pessoas que a diabetes é nossa força. Por causa dela, podemos fazer coisas incríveis", disse Phil Southerland, 27 anos, ciclista e corredor de Atlanta que fundou o time com outro ciclista diabético, Joe Eldridge. Ambos competiram em 2006 e 2007, mas não este ano.

"Acho que o resto do mundo pode olhar para o time", continuou Southerland, "e dizer: 'Esses caras acabaram de vencer uma corrida de bicicleta, e fizeram isso mesmo tendo diabetes. O que posso fazer para viver uma vida mais saudável, melhor?'"

As conquistas dos atletas com diabetes tipo 1 chegam em um momento de crescente preocupação sobre mudanças nos padrões da doença. Enquanto a diabetes tipo 2 está associada a um estilo de vida pouco saudável, cientistas ainda não sabem a causa da diabetes tipo 2, apesar de que fatores autoimunes, genéticos e ambientais aparentam ter um papel importante.

Com a obesidade e péssimos hábitos de saúde aumentando entre adultos e crianças da mesma forma, é pouco surpreendente que a diabetes tipo 2 tenha aumentado de forma prevalecente. Porém, oficiais de saúde da Europa estão relatando um aumento inexplicável também na diabetes tipo 1. No mês passado, o jornal médico Lancet relatou que a incidência estava aumentando em cerca de 4% por ano entre crianças europeias, particularmente aquelas com menos de cinco anos de idade. Nesse ritmo, o número de casos de diabetes tipo 1 irá aumentar 70% na próxima década. A doença também parece estar ganhando força nos Estados Unidos.

A rápida ascensão sugere influências ambientais, e pesquisadores estão observando possíveis fatores, incluindo partos de cesárea, infecções virais e a nutrição nos primeiros meses de vida, até mesmo deficiência de vitamina D.

A diabetes tipo 1 tem muitas faces. Talvez seu maior porta-voz seja Mary Tyler Moore, 72 anos; a indicada do presidente Barack Obama para um posto na Suprema Corte, Judge Sonia Sotomayor, 55 anos, recebeu um diagnóstico de diabetes tipo 1 quando tinha oito anos.

Jay Cutler, grande zagueiro de futebol americano, cujo passe foi recentemente comprado pelo time Chicago Bears, soube que tinha diabetes tipo 1 aos 24 anos, depois de uma perda de peso de 16 quilos e uma fadiga severa, originalmente atribuída ao estresse. Um exame físico finalmente levou ao diagnóstico.

"Quando descobri, acho que me senti mais aliviado do que qualquer outra coisa, só de saber que isso podia ser administrado", disse Cutler em entrevista. "Você sente um pouco de pena de si mesmo, mas acaba aceitando a situação".

Agora, quando Cutler corre para as linhas laterais, durante um treino ou jogo, ele encontra um treinador, que checa seu nível de açúcar no sangue para garantir que ele não tenha caído a um patamar perigoso.

"O treinador fica ali com um medidor, eles picam, fazem tudo, e depois dizem meu número", disse ele. "Se estamos bem, continuamos. Se o nível está baixando, tomo Gatorade".

Durante a Race Across America, os ciclistas do Time Tipo 1 usaram monitores de glicose e viajaram com um médico, comendo ou bebendo algo sempre que o nível de açúcar no sangue começava a cair. Apesar de que todos os atletas devem tomar insulina regularmente para prevenir níveis altos de açúcar no sangue, o exercício intenso faz com que a necessidade de medicação caiu de 60 a 75% durante os primeiro dias da corrida. À medida que o corpo se adapta nos últimos dias da corrida, os ciclistas devem aumentar suas injeções de insulina.

Para completar a corrida, os ciclistas se dividiram em dois times de quatro. Os primeiro quatro atletas se alternavam pedalando em velocidade máxima por 10 a 15 minutos, ou seja, cada atleta fez somente uma pequena pausa antes de ter de pedalar de novo. Após cerca de 240 quilômetros de corrida, os ciclistas, exaustos, encontraram o segundo grupo de quatro atletas, que assumiram a competição, dando aos primeiros atletas tempo para comer e descansar antes de retomar.

Apesar de problemas mecânicos, o time, que começou em Oceanside, Califórnia, chegou a Annapolis, Maryland, a 4.800 km de distância, em cinco dias, nove horas e cinco minutos. A velocidade média deles foi de 37,67 km/hora - 0,27 km melhor que os vencedores do ano passado, uma equipe profissional de noruegueses.