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Livro conta história dos arriscados tratamentos para aumentar altura das crianças

Abigail Zuger<br>The New York Times

07/08/2009 15h59

Adolescentes com interesse em medicina são geralmente empurrados a tediosos empregos de verão, num hospital ou laboratório, para familiarização com a área. Aqui está uma ideia melhor: dê-lhes uma cópia de "Normal a Qualquer Custo". Quando terminarem (e eles o terminarão: seus tons de "Gossip Girl" e do Livro de Eclesiastes o tornam irresistível), eles terão aprendido sobre a área.

Se eles ainda quiserem perseguir uma carreira médica, então dê mais força. Isso significa que eles estão pelo menos parcialmente preparados para os sutis tons de cinza que definem a paisagem médica de hoje, à medida que incríveis funcionalidades científicas se encontram com partes da natureza humana que não mudou muito desde a Idade da Pedra.

Susan Cohen e Christine Cosgrove, duas experientes jornalistas médicas, sabem como contar uma história. Elas não poderiam ter escolhido um estudo de caso alegórico melhor sobre a medicina moderna do que a história da altura das crianças, uma das questões intermináveis dos territórios exteriores onde saúde, beleza e fantasia se cruzam.

Foi nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial que um punhado de hormônios fundamentais, descobertos décadas antes, foi transformado em poderosos medicamentos. Inicialmente, eles foram usados para corrigir deficiências em crianças doentes. Depois, foram experimentados em crianças saudáveis. Então, nas palavras das autoras, subitamente ocorreu uma "corrida às glândulas" - um vasto e novo horizonte na medicina empresarial.

Quem era a criança mais triste em sua sala de sétima série? Era o pequeno menino em seus jeans da quarta série? Era a menina alta demais, uma cegonha encurvada usando sapatos achatados e listras horizontais? Talvez nenhum deles fosse particularmente triste. Mas pode apostar que, nos consultórios de seus pediatras, um roteiro estava sendo encenado.

Quanto mais cresceria a criança, os pais perguntavam. Mesmo hoje, ninguém pode responder essa simples pergunta com precisão. Quão infeliz seria essa criança? Muitas opiniões, mas também nenhum dado real para essa. O que poderia ser feito? Ah, finalmente uma pergunta com respostas.

Para a menina, pelo menos de 1950 até o início dos anos 70, a melhor opção para evitar a suposta catástrofe social da altura excessiva era o DES, um estrogênio sintético ministrado em meninas altas para acelerar a puberdade e fechar as placas de crescimento dos ossos.

Apesar das preocupações iniciais com segurança, o medicamento foi usado livremente, até que uma ligação clara com o câncer acionou um aviso federal de segurança, em 1971. Mesmo assim, alguns médicos continuaram a recomendá-lo, e alguns recorreram a outras formas de estrogênio com o mesmo propósito. Na Austrália, um entusiasmado endocrinologista se tornou uma autoridade mundial em "controle do crescimento", e tratou mais de mil pacientes com DES.

Hoje, sabemos o bastante sobre estrogênios para estremecer à ideia de ministrá-los, durante anos, a saudáveis meninas pré-adolescentes. Porém, mesmo com todos os perigos, o que realmente acabou com a prática não foi uma análise médica racional de custo-benefício, mas uma mudança social, que elevou as meninas altas a supermodelos e estrelas do basquete.

O menino baixinho não teve essa sorte. Ele ainda combate os estereótipos e um conjunto de terríveis (e não provadas) previsões psicológicas. Dezenas de milhares de garotos (e algumas garotas) nos Estados Unidos recebem injeções de hormônio de crescimento humano, a secreção pituitária essencial a essa complexa cascata hormonal que media a altura.

A história do hormônio de crescimento contém muitas das mais dolorosas lições na saúde moderna. Primeiro, ele era cuidadosamente extraído de cadáveres, e o pequeno suprimento era reservado para crianças com falência pituitária. Como se sabe atualmente, entretanto, tecidos humanos formam perigosas drogas, e os recipientes de hormônios de cadáveres cresciam sob a condição neurológica da doença de Creutzfeldt-Jakob, transmitida por algumas daquelas injeções.

Então, em 1985, novas tecnologias inundaram o mercado com hormônio de crescimento humano sintético, livre de contaminantes infecciosos - e produzido em quantidades suficientes para tratar não só os verdadeiramente deficientes pituitários, mas todos os pequeninos.

A oferta subitamente farta veio com difíceis questões. As fronteiras de uma altura "normal" são obscuras, e o desempenho do medicamento é medido apenas em médias. Crianças tratadas crescem, em média, uma a duas polegadas acima do previsto - mas essas previsões são inexatas, e o crescimento de cada criança, desconhecido.

Psicologicamente, as crianças serão mais ajudadas pela possibilidade de mais algumas polegadas, do que feridas pela implicação de que são defeituosas, decepções a seus pais por fracassar em seu "desempenho biológico"? Decidir contra o uso do hormônio numa criança seria o mesmo que decidir contra uma plástica no nariz, ou seria o mesmo que decidir não usar óculos corretivos?

Enquanto isso, o custo chega a cerca de US$ 50 mil por polegada supostamente ganha, com os ávidos fabricantes de remédios felizes em combater as seguradoras em defesa de pais que podem ter suas próprias definições de normal.

Um exasperado pediatra, refletindo se o lucro justificava o custo, sugeriu um experimento clínico para resolver a questão: um grupo de meninos baixinhos receberia hormônio de crescimento, e cada garoto do outro grupo receberia US$ 100 mil em dinheiro. Quem estaria mais feliz, e mais saudável, vinte anos à frente?

Esse mesmo experimento pode muito bem ser desejado para outras partes da medicina, conforme colocamos um olho crítico sobre nossos hábitos de despesas nestes dias de introspecção orçamentária. "Normal a Qualquer Custo" conta sua própria história, com ritmo e fluência tristemente raros no jornalismo médico. E, como o melhor em toda literatura, também ilumina a paisagem que o cerca.

'TALL GIRLS, SMALL BOYS, AND THE MEDICAL INDUSTRY'S QUEST TO MANIPULATE HEIGHT'
'Meninas Altas, Meninos Baixos, e a Jornada da Indústria Médica para Manipular a Altura' (Tradução livre)
Por Susan Cohen and Christine Cosgrove. Jeremy P. Tarcher/Penguin.
405 páginas.
$26.95 (EUA).

Tradução: Pedro Kuyumjian