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Descobertas podem explicar diferenças raciais no índice de sobrevivência ao câncer de garganta

Roni Caryn Rabin<br>The New York Times

10/08/2009 20h08

Cientistas afirmam terem realizado uma descoberta que ajuda a explicar as diferenças raciais no índice de sobrevivência ao câncer. Ela oferece pistas sobre os motivos pelos quais pacientes brancos muitas vezes vivem mais que os negros, mesmo quando eles possuem o que aparenta ser o mesmo tipo de câncer.

Os esclarecimentos se originam de uma pesquisa realizada na Universidade de Maryland sobre o câncer de garganta e câncer de células escamosas de cabeça e pescoço, que vêm aumentando acentuadamente nos últimos anos. Aparentemente, a causa é o papilomavírus humano - o mesmo vírus sexualmente transmissível causador do câncer cervical e o alvo de vacina para garotas.

O vírus também pode se espalhar através da prática de sexo oral, causando câncer de garganta e amídala, ou câncer orofaríngeo.

A nova pesquisa amplia trabalhos anteriores e sugere que tumores de câncer de garganta causados pelo vírus se comportam de forma muito diferente de outros tipos de câncer de garganta, mas respondem melhor a tratamento. A nova pesquisa sugere que os brancos têm maior tendência, em relação aos negros, a desenvolver tumores relacionados ao vírus. Isso pode explicar os fracos resultados de afro-americanos com tumores negativos para HPV.

Pesquisadores da Universidade de Maryland realizaram o estudo após descobrir que seus pacientes brancos com câncer de garganta sobreviviam, em média, 70 meses, contra 25 meses para pacientes negros, mesmo quando eles eram tratados no mesmo hospital.

A disparidade racial na sobrevivência ao câncer orofaríngeo explica grande parte das diferenças entre pacientes negros e brancos para todos os tipos de câncer de cabeça e pescoço, afirmam os pesquisadores.

"Ficamos surpresos ao observar esse aspecto na nossa própria instituição, onde mais da metade dos pacientes tratados são afro-americanos", disse Kevin J. Cullen, diretor do Greenebaum Cancer Center, da Universidade de Maryland, e principal autor do novo estudo, publicado na "Cancer Prevention Research".

Na mesma época, os pesquisadores da Universidade de Maryland estavam analisando casos de tumores de cabeça e pescoço coletados de participantes, em testes de tratamento chamados de estudo TAX 324, a fim de determinar quantos tumores estavam relacionados ao HPV.

Os resultados foram impressionantes: os pacientes do TAX 324 cujos tumores foram causados pelo vírus responderam muito melhor ao tratamento com quimioterapia e radioterapia. Eles também eram, em sua maioria, brancos.

Apesar de metade dos tumores dos pacientes brancos terem sido causados pelo HPV, apenas um dos pacientes negros tinha um tumor causado pelo vírus, disse Cullen.

"Não houve diferença no índice de sobrevivência entre pacientes negros e brancos nos testes TAX 324, se subtrairmos os pacientes HPV positivos", disse ele.

Essa diferença racial tem sido explicada, muitas vezes, como resultado de diagnóstico tardio entre afro-americanos, falta de acesso a assistência médica e tratamento menos agressivo. No entanto, especialistas disseram que, no caso do câncer orofaríngeo, parecia haver diferenças biológicas distintas entre os tumores.

Isso sugere que as diferenças raciais na sobrevivência para esse tipo de câncer em particular podem ter origem em diferenças sociais e culturais entre brancos e negros, incluindo práticas sexuais distintas, afirmaram especialistas.

Num comunicado à imprensa, especialistas líderes em câncer classificaram o novo relatório como um divisor de águas que transformaria o tratamento do câncer orofaríngeo e desafiaria os médicos a desenvolver novas opções de tratamento para pacientes com tumores HPV negativos.

Otis Brawley, diretor médico da Sociedade Americana de Câncer, autor de um editorial acompanhando o relatório, disse que a mudança das práticas sexuais estava aumentando os índices de ocorrência de câncer de cabeça e pescoço, e talvez também de outros tipos.

"Há uma importante mensagem de saúde pública aqui", disse ele.

Tradução: Gabriela d'Avila