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Toque de cinco segundos pode transmitir emoções específicas, diz estudo

Nicholas Bakalar<br>The New York Times

18/08/2009 10h11

Pesquisadores descobriram evidências de que um toque pode valer mais que mil palavras. Um rápido contato físico pode expressar emoções específicas - silenciosamente, sutilmente e inconfundivelmente.

Cientistas liderados por Matthew J. Hertenstein, professor associado de psicologia da DePauw University, recrutou 248 estudantes. Cada um tocaria ou seria tocado por um parceiro antes desconhecido, para tentar comunicar uma emoção específica: raiva, medo, alegria, tristeza, repulsa, amor, gratidão ou compaixão.

The New York Times
Homens e mulheres foram igualmente aptos a interpretar o toque, mas usaram ações diferentes para comunicar emoções
UOL CIÊNCIA E SAÚDE
A pessoa tocada estava vendada e não sabia o gênero da pessoa que a estava tocando, que era instruída a tentar transmitir uma das oito emoções. Ambos os participantes permaneciam em silêncio. Quarenta e quatro mulheres e 31 homens tocaram uma parceira do sexo feminino, enquanto 25 homens e 25 mulheres tocaram um parceiro do sexo masculino.

Depois, cada pessoa tocada recebeu uma lista de oito emoções e foi orientada a escolher a transmitida. Havia também uma nona escolha: "nenhuma dessas emoções", para eliminar a possibilidade de forçar a escolha de uma emoção quando nenhuma delas foi verdadeiramente sentida.

Os participantes que tocaram as outras pessoas foram instruídos a tocar qualquer parte do corpo. Eles escolheram, em geral: cabeça, rosto, braços, mãos, ombros, tronco e costas.

A compreensão correta variou de 50% a 78%, muito mais alta que os 11% esperados pelo acaso e comparável a índices observados em estudos de emoção verbal e facial.

Os pesquisadores também registraram um vocabulário complexo de toques - balançar, esfregar, alisar ou apertar, pequenas mudanças na quantidade de pressão aplicada, variações na brusquidão do toque, índices de movimento dos dedos pela pele, e diferenças na localização e duração do contato.

Tiffany Field, diretora do Instituto de Pesquisa do Toque da Universidade de Miami, ficou impressionada com o trabalho. "Essa informação é muito interessante, e acrescenta muito à ciência da emoção e da comunicação".

No entanto, ela continuou: "Não é provável que usemos o toque como forma de expressão com estranhos. É algo reservado para interações mais íntimas".

Field não esteve envolvida no estudo, publicado na edição de agosto do jornal "Emotion".

Os participantes consistentemente escolheram certos tipos de toque para transmitir emoções específicas. Eles muitas vezes expressaram medo, por exemplo, segurando e apertando, sem movimento. A compaixão era demonstrada segurando, alisando e esfregando.

Homens e mulheres foram igualmente aptos a interpretar o toque, mas usaram ações diferentes para comunicar emoções. Os homens raramente tocaram o rosto de outra pessoa. Quando o fizeram, foi apenas para expressar raiva ou repulsa a mulheres, e compaixão para outros homens. As mulheres, por sua vez, tocaram rostos com frequência para expressar raiva, tristeza e repulsa em relação a ambos os gêneros, e para transmitir medo e alegria para os homens.

As razões evolucionárias para esse sistema de comunicação são desconhecidas, mas os autores sugerem que elas podem ter a mesma origem de rituais de cuidados com a aparência de outros primatas. Os autores reconhecem que os dados são limitados a uma amostra de americanos jovens, e que diferenças culturais podem desempenhar um papel importante.

Mesmo assim, Hertenstein disse: "Essas descobertas têm fortes implicações em relação ao poder do toque. A maioria dos toques durou cerca de cinco segundos. Porém, nesses breves momentos, somos capazes de comunicar emoções distintas, assim como fazemos com nossa face. É um sofisticado sistema de sinalização diferenciada que antes não conhecíamos".

Tradução: Gabriela d'Avila