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Tratamento online pode ajudar quem sofre de insônia

Amanda Schaffer<br>The New York Times

18/08/2009 11h17

Hoje em dia é possível fazer praticamente qualquer coisa pela internet. Então, que tal uma boa noite de sono? Isso pode ser possível, segundo alguns pesquisadores. Programas baseados na web para tratamento de insônia estão proliferando. Dois pequenos - porém rigorosos - estudos sugerem que aplicativos online baseados em terapia comportamental podem ser eficazes.

"Quinze anos atrás, as pessoas achariam loucura fazer um tratamento à distância", disse Bruce Wampold, professor de psicologia na Universidade de Wisconsin. "Contudo, à medida que fazemos cada vez mais coisas por meio eletrônico, incluindo relacionamentos sociais, mais terapeutas passaram a acreditar que essa pode ser uma maneira eficaz de entregar serviços a algumas pessoas".

The New York Times
Dois pequenos estudos sugerem que aplicativos online baseados em terapia comportamental podem ser eficazes
UOL CIÊNCIA E SAÚDE
O primeiro estudo controlado de um programa online para insônia foi publicado em 2004. Os resultados mostraram benefícios similares àqueles que usaram o programa e às pessoas do grupo de controle. Os dois novos estudos, conduzidos por pesquisadores na Virgínia e no Canadá, adiantam evidências de que tais programas podem funcionar.

No estudo da Virgínia, chamado SHUTi, pacientes inserem várias semanas de diários de sono e o programa calcula uma janela de tempo, durante a qual lhes é permitido dormir. Os pacientes limitam o tempo gasto na cama para aproximadamente as horas que eles passaram efetivamente dormindo.

O objetivo é consolidar o sono, e então expandir gradualmente sua duração - a mesma técnica que seria usada num tratamento "ao vivo", diz Lee Ritterband, psicólogo da Universidade da Virgínia que desenvolveu o programa.

Stella Parolisi, de 65 anos, enfermeira registrada na Virgínia e paciente no estudo, contou que se limitar à agenda de sono restrito foi difícil, "mas, perto do fim, tudo começou a valer a pena".

"Antes, se eu estivesse exausta, tentaria ir para cama mais vez mais cedo, e isso era errado", disse ela. "Isso apenas me dava mais tempo para ficar revirando na cama".

Porém, depois de usar o programa, ela começou a dormir durante pelo menos quatro horas, direto, por noite.

O programa SHUTi, que se estende por nove semanas, aconselha os pacientes a sair da cama caso acordem e não consigam voltar a dormir por mais de 15 minutos.

Ele também usa leituras, vinhetas, animações e exercícios interativos para ajudar pacientes a lidar com fatores que interferem com o sono. Por exemplo, o programa ajuda os pacientes a administrar pensamentos de ansiedade, como a ideia de que não podem funcionar sem oito horas de sono diárias. Ele também reforça a mensagem de que eles não devem trabalhar ou ver TV na cama, devem limitar a luz no quarto e evitar estimulantes, como cafeína, durante o dia.

Num pequeno e aleatório estudo controlado, que incluía 45 adultos, aqueles que foram designados para testar o programa online reportaram aumentos significativamente maiores em eficiência de sono, e quedas em tempo insone durante a noite.

Especificamente, a eficiência de sono dos participantes, uma medida da proporção de tempo dormindo em relação ao tempo total na cama, melhorou 16%, e seu tempo de insônia (minutos acordados ao longo da noite) foi reduzido em até 55%; nenhuma das medidas mudou significativamente para o grupo de controle. As descobertas apareceram no mês passado no "The Archives of General Psychiatry".

"As consequências foram bastante impressionantes, quase inacreditáveis", disse Jack Edinger, psicólogo do Centro Médico da Universidade Duke.

O estudo canadense testou um programa de cinco semanas que também enfatizava a restrição de sono, controlando pensamentos negativos e evitando estímulos como luz e ruídos no quarto. Ele também incluía leituras e clipes de áudio e vídeo para ensinar e reforçar suas mensagens.

Conduzido por Norah Vincent, psicóloga da Universidade de Manitoba, o estudo incluiu 118 adultos que foram aleatoriamente designados para completar o programa ou permanecer numa lista de espera.

"Gostei do fato de que era pela internet", disse uma participante, Kelly Lawrence, 51, de Winnipeg, "pois quando não dorme, você não quer acordar e ir aos compromissos. Você não quer estar lá fora, nas ruas".
O formato online tornou mais fácil o trabalho de cuidar de crianças e outras responsabilidades, além da facilidade de "pausar o programa e voltar a qualquer coisa que eu estivesse fazendo", acrescentou.

Trinta e cinco por cento daqueles que completaram o programa descreveram sua insônia como "muito melhor", em comparação a apenas 4% dos que permaneceram na lista de espera. As descobertas foram publicadas em Junho no jornal "Sleep".

Ritterband diz que a ideia é tornar o programa publicamente disponível, embora não antes de estudos adicionais. Vincent também disse que planejava comercializar seu programa, cobrando cerca de 30 dólares dos participantes.

Outros programas online, oferecendo terapia comportamental cognitiva para falta de sono, incluem o CBTforinsomnia.com, desenvolvido e executado por Gregg Jacobs, um especialista em insônia da Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts, e o "Overcoming Insomnia", criado pela HealthMedia, empresa baseada em Michigan.

A terapia comportamental cognitiva não está prontamente disponível a muitos dos insones, por eles não terem acesso a um terapeuta experiente ou porque suas agendas dificultam a manutenção de compromissos.

"A comunidade do sono reconhece que, se cada pessoa com insônia aparecesse em nossa porta hoje, não conseguiríamos ajudar a todos", disse Lawrence Epstein, instrutor da Harvard Medical School e diretor de medicina dos Centros de Saúde do Sono, em Boston.

Ainda assim, Wampold, de Wisconsin, diz que algumas pessoas são inclinadas ao ceticismo a respeito da terapia online. Terapeutas que tendem a ver "a relação interpessoal entre paciente e médico como uma fonte fundamental de motivação e mudança apresentam grandes probabilidades de serem suspeitos", explicou.

Para muitas pessoas que sofrem de insônia, diz, "o verdadeiro distúrbio do sono é apenas um indicativo outros problemas que precisam ser abordados".

"E você não consegue fazer isso sem mais flexibilidade e contato clínico".

Tradução: Pedro Kuyumjian