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Em área carente de transporte, SP inaugura hospital que usa até videogame em tratamento terapêutico

Silvana Salles<br>Do UOL Ciência e Saúde<br>Em São Paulo

03/09/2009 20h01

O governo de São Paulo inaugurou oficialmente nesta quinta-feira (3) o Instituto de Reabilitação Lucy Montoro, na capital. O centro deverá ser o carro-chefe de uma rede para o tratamento terapêutico de deficientes físicos e pacientes com mobilidade reduzida, e terá capacidade para atender 12 mil pessoas por mês, segundo informação oficial. O hospital custou aos cofres públicos R$ 50 milhões, mas fica em uma região relativamente carente de transporte público. A estação de metrô mais próxima, por exemplo, está na Linha 5-Lilás, que só terá ligação com as outras linhas daqui a três anos.

O novo hospital fica na Vila Andrade, na zona sul da capital, em uma travessa da avenida Giovanni Gronchi, na região do Morumbi. A estação de metrô mais próxima é a Giovanni Gronchi, a cerca de 2 km de distância do centro de saúde. A estação faz parte da Linha 5-Lilás, que liga o Capão Redondo ao Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, e não tem interligação com as outras linhas.


Visualizar Instituto de Reabilitação Lucy Montoro em um mapa maior

Os ônibus que passam na avenida mais próxima fazem trajetos que cobrem somente parte da zona sul, a região de Pinheiros e as principais rotas até o centro da cidade. Quem sai de outras regiões da cidade tem de fazer pelo menos uma baldeação.

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Durante inauguração, Serra disse que a expansão do metrô resolverá os problema de acesso ao hospital
O governador José Serra (PSDB) conta com a expansão da rede de metrô para melhorar o acesso ao centro de reabilitação. "Nós vamos ter uma estação de metrô a 2 km daqui e a Linamara (Rizzo Battistella, secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência) vai organizar um esquema de transporte da estação até aqui. O acesso vai ser fácil com toda a expansão da rede de metrô. Então, se alguém quiser vir de Itaquera pra cá, poderá vir com conforto significativo", disse ele em discurso de inauguração do hospital.

O projeto de expansão da Linha 5-Lilás prevê que a interligação com a Linha 1-Azul na estação Santa Cruz e com a Linha 2-Verde na Chácara Klabin fique pronta daqui a três anos, em 2012.

Apesar da inauguração oficial hoje, o hospital começou a funcionar no dia 3 de agosto, segundo Linamara Rizzo Batista. O local foi equipado com aparelhos modernos de fisioterapia, oficinas de capacitação e integração com uma rede de educação à distância na área de saúde criada pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Silvana Salles/UOL
Rosalvo Guimarães, 65, "pedala" com as mãos no centro de terapia no Morumbi
O paciente Rosalvo Domingos Guimarães, 65, começou o tratamento no instituto no começo de agosto. Diabético, ele teve a perna direita amputada há um ano. Antes de o centro de reabilitação abrir, Rosalvo ia a consultas em uma divisão de reabilitação do Hospital das Clínicas no Jardim Umarizal, zona sul de São Paulo.

"É a primeira vez que eu uso essa máquina", disse ele, sentado em um aparelho cicloergométrico para os braços, que é usado para desenvolver a capacidade cardiorrespiratória do paciente. "No Umarizal, os médicos brincam, conversam, é uma benção. Às vezes, a gente entra triste e sai alegre. Aqui é a mesma coisa, mas o maquinário é bem maior", contou.

Segundo a mulher de Rosalvo, Lucinete Pereira Guimarães, 61, ele foi selecionado para o tratamento no local antes dos outros pacientes da unidade do Jardim Umarizal porque a família tem carro próprio.

INSTALAÇÕES
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Praça de atividades tem até cinema e deve receber oficinas de costura, culinária, barbearia e cabeleireiro
Silvana Salles/UOL
A piscina com rampa será usada para hidroterapia dos pacientes
UOL CIÊNCIA E SAÚDE
"Quem usa o Atende (serviço de transporte da prefeitura paulistana dedicado a pessoas com problemas de mobilidade) ficou na lista de espera", disse ela.

De acordo com o governo estadual, o foco da unidade será o atendimento de pacientes vindos do interior do Estado, em locais onde a rede de saúde para atendimento ao deficiente físico é deficitária.

Novo hospital vai usar tecnologia de ponta, diz governo
Segundo Linamara Rizzo Batista, as principais inovações do centro de reabilitação são o uso equipamentos com tecnologia sofisticada e de plataformas de informática, como o cybertutor da USP.

A plataforma não é nova. Chao Lung Wen, professor responsável pela disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da universidade, diz que ela começou a ser construída em maio de 2003. Desde então, é utilizada como uma forma de compartilhar digitalmente conhecimentos na área médica nos cursos de medicina, odontologia e enfermagem da USP e no Instituto Central do Hospital das Clínicas. Como faz parte do programa de telessaúde do Ministério da Saúde, o sistema também oferece contribuições da UEA (Universidade Estadual do Amazonas) e da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), em Manaus.

"O cybertutor é uma espécie de rede social que promove a aprendizagem colaborativa na área de saúde", diz Chao. Ele permite que os profissionais da área consultem outros casos e discutam problemas e soluções em grupos de debate virtuais.

Silvana Salles/UOL
Enfermeiras auxiliam criança em aparelho que simula e equoterapia
Na ala infantil, a novidade é um aparelho que simula o movimento de cavalo -parecido com um touro mecânico, porém menor, com movimentos suaves e criado para fins terapêuticos. "Especialistas dizem o movimento é bem semelhante ao do cavalo, e um programa vai mostrar imagens que simulam a cavalgada", explicou Linamara, apontando uma televisão de LCD em frente ao equipamento.

A secretária afirma que será feita uma comparação entre a evolução das crianças que usaram o equipamento e os efeitos da terapia convencional com animais.

A Associação Nacional de Equoterapia não reconhece este tipo de tratamento como equoterapia, porque não usa cavalos. Segundo a entidade, o que define este tipo de terapia é justamente a interação dos pacientes com os animais.

Para os adultos, parte da terapia contará com o apoio de videogames como o Nintendo Wii e o Playstation da Sony. Além disso, serão oferecidas oficinas de costura, culinária e cabeleireiro, entre outras, e acesso a computadores para estimular a inclusão digital.