Topo

Geleiras da Groenlândia são tomadas por águas mais quentes, dizem pesquisadores

Do UOL Ciência e Saúde*<br>Em São Paulo

23/09/2009 16h44

Uma equipe do Woods Hole Oceanographic Institution, de Massachusetts, nos Estados Unidos, passou o mês de agosto ziguezagueando por icebergs na Groenlândia para medir a temperatura da água do fiorde Sermilik. O objetivo era provar que águas de latitudes mais baixas estão invadido a região gelada.

"Se você colocar a mão na água, ela não vai parecer morna", diz Ruth Curry, uma cientista americana que se dedica a estudar o clima. "Mas ela está morna o suficiente para derreter gelo".


Karl Ritter/AP
A pesquisadora Fiamma Straneo, do Woods Hole, percorre fiorde na Groenlândia a bordo de navio do Greenpeace
Os pesquisadores acharam as provas que procuravam desde o topo até a base das geleiras do sudeste da Groenlândia. Dentro do fiorde Sermilik, foram encontradas águas subtropicais a uma temperatura de 4°C. Junto com outras descobertas semelhantes no oeste da região, seria possível explicar porque as geleiras passaram a derreter em uma velocidade mais rápida na última década - um fenômeno alarmante porque contribui para a elevação do nível dos mares.

"Só as medidas não são suficientes para concluir que o derretimento glacial é em boa parte causado por águas subtropicais. Mas acho que a história começa a fazer sentido", contou a líder da pesquisa, Fiamma Straneo.

As evidências levam a crer que as águas do Ártico, que normalmente dominam a região, recuaram devido a um fluxo de águas subtropicais que desviaram do rumo da Corrente do Golfo. A corrente começa no Golfo do México e segue em direção ao Atlântico Norte.

Cientistas dizem que o processo é natural - em uma época, as águas geladas predominam, em outra as águas quentes assumem. No entanto, o aumento crescente nas temperaturas dos oceanos em áreas subtropicais sugere que o equilíbrio possa estar sendo quebrado por algo além da variável natural, diz Curry.

H. Pritchard/Efe
Imagem de satélite colorida mostra áreas mais afetadas pelo derretimento dos mantos de gelo na Antártida e na Groenlândia
VEJA FOTO AMPLIADA
UOL CIÊNCIA E SAÚDE
"Nós medimos as temperaturas da água direto da fonte e vimos que elas sobem de uma maneira que não pode ser explicada sem considerar influencia humana", completa a pesquisadora.

A pesquisa sublinha a relação entre os movimentos dos mares e oceanos e o aquecimento da atmosfera. Os oceanos ajudam a conter o aquecimento global absorvendo cerca de metade do CO2 emitido pelos seres humanos na atmosfera, mas os níveis de água também aumentam de volume conforme ela fica mais quente. O processo também pode ter grande impacto no clima por meio de mecanismos de retroalimentação, como o derretimento das geleiras litorâneas e as mudanças nas correntes oceânicas que aquecem ou gelam partes distintas do planeta.

Entre junho e agosto, a média temperatura de superfície dos oceanos no mundo foi a mais alta desde 1880, segundo a agência meteorológica oficial dos EUA. Marcou 17°C, ou 0,6°C acima da média do século 20. Meteorologistas dizem que o avanço da temperatura foi causado pelo El Niño, aliado ao aquecimento causado pelo homem.

A situação é mais grave no Atlântico Norte. A temperatura da água que segue para o Ártico aumento 2°C desde a década de 1990, diz Helge Drange, professor de oceanografia da Universidade de Bergen, na Noruega.

"Esse fenômeno só pode ser entendido como um efeito combinado de variabilidade natural e aquecimento causado pelo homem", explica Drange.

*Com informações da Associated Press