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Inovações científicas deixam projeções sobre o clima mais confiáveis, diz climatologista

Silvana Salles<br>Do UOL Ciência e Saúde<br>Em São Paulo

01/10/2009 17h27

Em 2007, o quarto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) previa um aumento de 1,8°C a 4°C na temperatura do planeta até o final deste século. Desde então, foram feitos diversos estudos que procuravam estimar o impacto que o aquecimento global terá sobre o clima no futuro próximo. Um dos mais recentes, divulgados nesta semana pelo Centro Hadley, do Reino Unido, afirma que o aumento de temperatura deve ser de 4ºC nos próximos 50 anos.

Segundo Gilvan Sampaio, climatologista e pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), as novas previsões apontam para um intervalo menor de temperaturas em um período menor de tempo por conta de inovações na área de pesquisas sobre o clima.

"Em 2001, falava-se em um aumento de 1°C a 5,8°C na temperatura até 2100. Em 2007, o relatório do IPCC já apontava para um aumento entre 1,8°C até 4°C", diz. "A diferença é que hoje as previsões são mais precisas, temos mais segurança na hora de falar de qualquer uma das projeções. A previsão do serviço britânico é um pouco mais recente, mas não está fora do que foi previsto pelo IPCC".

Segundo o pesquisador, atualmente órgãos de todo o mundo trabalham para produzir novos modelos matemáticos capazes de prever com mais exatidão o que acontecerá com o planeta caso as projeções de aumento de temperatura se concretizem. No Brasil e na América do Sul, o Inpe é o responsável por produzir um novo modelo regional. No mundo, outras agências ligadas ao IPCC fazem o mesmo, baseando-se em características de suas próprias regiões.

"Algumas novidades devem aparecer [no próximo relatório do IPCC]. Até 2007, só eram consideradas as emissões de gases de efeito estufa. Não havia a combinação com o desmatamento, por exemplo, o que é importante para nós", explicou Sampaio. A previsão do painel é de que o próximo relatório de avaliação sobre as mudanças climáticas no planeta seja finalizado até 2014.

De acordo com o pesquisador, o atual desafio do Inpe é desenvolver um novo modelo de previsão da mudança climática que considere o desmatamento e as queimadas, além das emissões de gases estufa.

"Estamos construindo um modelo brasileiro que considera o efeito do fogo das queimadas também. Além de modificar a superfície, o fogo despeja muitos gases que contribuem para o efeito estufa, e entre eles há combinações muito complexas", disse Sampaio.

"Catástrofe"
Segundo Gilvan Sampaio, do Inpe, um aumento de 4°C na temperatura do planeta seria uma "catastrófico".

"As regiões mais úmidas podem ter chuvas mais intensas, e as secas podem ficar mais áridas, como já observamos no sul do Piauí, onde semi-árido está ficando árido", disse ele.

Além de desequilibrar ecossistemas, o pesquisador afirmou que o aumento da temperatura pode também ter impacto na economia. "Na agricultura, se aumentar 4°C, a produtividade de várias culturas no Brasil caem enormemente, inclusivo no caso dos pastos. Soja, milho, feijão, café, arroz, todos sofrem com o aumento excessivo da temperatura", explicou ele.

A estimativa do departamento de meteorologia britânico, segundo nota da BBC Brasil, é que um aumento de 4°C na temperatura do planeta possa elevar entre 8°C a 10°C as temperaturas da região amazônica até 2060. Estas mudanças destruiriam boa parte da floresta.