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Dois macacos agora veem o mundo em cores

Por Nicholas Wade<br>The New York Times

05/10/2009 20h08

Dalton e Sam são macacos esquilos do sexo masculino, com cerca de 30 cm de altura. Seus ancestrais se alimentavam de frutas e insetos e fugiam de falcões nas copas das árvores de florestas da América do Sul e Central. Dalton e Sam levam uma vida mais protegida no laboratório de Jay and Maureen Neitz, na Universidade de Washington, Seattle. Recentemente, os Neitzes lhes proporcionaram um novo dom genético: a capacidade de ver o mundo com visão totalmente em cores.

Macacos esquilos do sexo masculino têm apenas dois dos pigmentos de cor conhecidos como opsinas - os seres humanos têm três. Os Neitzes, junto com Katherine Mancuso e outros colegas, utilizaram a técnica de terapia genética para introduzir o gene do pigmento vermelho que faltava nos cones das retinas dos macacos. Vários meses após a terapia, Dalton e Sam puderam ver um mundo no qual tons de vermelho eram visíveis e as laranjas não mais se pareciam com limões, disseram os pesquisadores na edição atual da "Nature".

Embora os macacos não possam relatar que veem o mundo com novos olhos, sua capacidade de fazê-lo foi julgada por seu desempenho num teste de visão em cores com uma recompensa de suco de fruta.

Jay Neitz disse que Dalton recebeu esse nome em homenagem a John Dalton, que não apenas inventou a teoria atômica moderna, mas em 1794 também foi a primeira pessoa a descrever a cegueira de cores - sua própria.

Foi uma surpresa que os cérebros dos macacos pudessem tirar vantagem de uma terceira opsina. No entanto, a retina parece trabalhar ao gravar a diferença entre os sinais de cones vizinhos, as células que detectam cor. Assim, o gene adicional de opsina dado a Dalton e Sam poderia ter mudado o sinal de cones afetados e a mensagem encaminhada da retina para o córtex visual no cérebro.

O gene vermelho de opsina foi transmitido num vírus padrão usado para experimento de terapias genéticas. Injetado no olho, o vírus deu o gene opsina aos cones dos macacos, junto com um pedaço de DNA que direcionou os cones a produzirem a nova opsina vermelha, em vez de sua própria opsina verde.

Pelo fato de alguns cones terem sido infectados pelo vírus e outros não, os macacos tiveram cones vermelhos e verdes funcionando, além de seus cones azuis não afetados.

Dr. Jeremy Nathans, biólogo molecular da Johns Hopkins University que realizou engenharia genética num rato com visão total em cores, disse que o experimento com os primatas ajudaria os pesquisadores a entender o circuito usado pelo cérebro dos animais para analisar a cor. O próximo passo poderia ser a verificação de como as células no córtex visual dos macacos respondem aos novos sinais da retina, disse Dr. Nathans.

Macacos do novo mundo do sexo masculino, como Dalton e Sam, são deficientes cromaticamente, pois seus ancestrais se separaram dos primatas do velho mundo antes da evolução da visão em cores totais. Na época da separação, os primatas tinham apenas dois pigmentos visuais, um particularmente sensível à luz azul e outro que responde melhor ao verde ou vermelho, dependendo de qual variante do gene é herdada.

Após a separação, iniciada com a abertura do Atlântico entre a África e a América do Sul, há 150 milhões de anos, os primatas do velho mundo se beneficiaram de um acidente genético. O gene para a opsina verde ou vermelha foi duplicado, permitindo que indivíduos vissem vermelho e verde, em vez de uma cor ou outra.

Macacos do novo mundo nunca desenvolveram o gene duplicado, mas muitas fêmeas têm visão em cores totais. A razão para isso é que o gene opsina verde/vermelho fica no cromossomo X, então as fêmeas que herdam uma versão diferente de cada pai têm as opsinas verdes e vermelhas, além da azul, em outro cromossomo. No entanto, os machos, com apenas um cromossomo X, herdam apenas uma variante da opsina verde/vermelho - no caso de Dalton e Sam foi a verde.

Tradução: Gabriela d'Avila