Dor de cabeça para evitar sexo é desculpa pouco usada por mulheres com enxaqueca

Usar a dor de cabeça como desculpa para evitar a relação sexual parece piada, mas a verdade é que algumas mulheres ainda adotam essa tática. As que sofrem de enxaqueca, no entanto, tendem a mentir menos. É o que mostra uma pesquisa apresentada no XXIII Congresso Brasileiro de Cefaleia, que termina neste sábado (10) em Vitória (ES).

Após entrevistar 60 mulheres com e sem enxaqueca, os pesquisadores descobriram que apenas 10% das que têm o problema admitiram já ter usado a dor como justificativa para se esquivar de relação sexual com o parceiro, contra 30% das que não sofrem desse tipo de cefaleia.

A coordenação da pesquisa foi do neurologista João José Carvalho, professor da Universidade Estadual do Ceará, que estuda cefaleia há mais de 25 anos.

Ele conta que, depois de receber uma paciente que levou o marido ao consultório para que o médico lhe garantisse que suas dores de cabeça não eram apenas desculpa, ele foi procurar estudos sobre o tema na literatura científica e não encontrou nada. Por isso decidiu começar o trabalho.

"Certas mulheres passam a vida tentando provar para os outros que o que elas têm não é brincadeira", comenta.

A pesquisa revelou que 67% das mulheres com enxaqueca têm suas vidas sexuais prejudicadas pela enxaqueca, porém somente 24% já interromperam uma relação sexual por causa de uma crise.

Mais fantasias sexuais

Segundo o médico, há algumas explicações possíveis para o fato de as mulheres com enxaqueca usarem menos a desculpa. "Uma é que, justamente por valorizarem o que sentem, elas não usam a dor de forma inadequada", relata.

Outra justificativa para o resultado, baseada em outros dois estudos, é que as mulheres com enxaqueca têm mais fantasias eróticas e uma libido aumentada em relação às que não sofrem do problema. "A doença está ligada à serotonina, neurotransmissor que também está associado ao prazer sexual", explica o médico.

Tratamento

A enxaqueca é uma doença causada pelo desequilíbrio do mecanismo cerebral responsável pelo controle da dor. Cerca de 18% das mulheres sofrem do problema, no Brasil, contra 6% dos homens.

O neurologista ressalta que certos alimentos e estresse podem deflagrar as dores, mas nem sempre é possível combater a enxaqueca com mudanças de hábitos. "Eu adoraria que fosse possível resolver o problema só com dieta e atividade física, mas infelizmente não é assim", diz. O tratamento é feito com medicamentos preventivos e para os momentos de crise.