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Especialistas dão dicas de como prevenir e tratar a depressão depois das férias

Cristina Almeida

Especial para o UOL Ciência e Saúde

30/10/2009 21h36

Voltar à realidade, depois de um período de férias, exige uma adaptação que pode ser interpretada como tristeza ou desânimo. Mas essas sensações têm prazo de validade e devem durar de 10 a 14 dias. Se os sintomas persistirem, é preciso procurar um especialista. Diagnosticada a depressão pós-férias, o tratamento poderá ser clínico ou medicamentoso e, no primeiro caso, a terapia cognitivo-comportamental é uma excelente opção; no segundo, pode ser necessária a prescrição de antidepressivos.

A psicóloga Lídia Weber, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pondera que uma possível terapia não deve ser encarada como mais uma tarefa a ser cumprida, mas como uma oportunidade para “rever o cotidiano, pensar sobre o que está errado, refletir sobre as coisas que precisam ser mudadas”.

Já o psicológo Richard Shadick, diretor do Departamento de Psicologia da Universidade Pace (Nova York, EUA) acredita que “um tratamento formal raramente é necessário, bastando colocar em prática algumas estratégias, tais como gerenciar a rotina diária para que ela seja executada sem afobação, organizar-se para ter uma agenda menos intensa nos primeiros dias de retorno, cuidar da própria saúde física, começando por se alimentar melhor, exercitar-se além de dormir melhor”. E, em alguns casos, acrescenta, “relembrar as férias, revendo fotos ou contatando amigos encontrados durante a viagem, pode ajudar”.

Independentemente da escolha que se faça para superar o problema, a recuperação dependerá da resposta individual de cada um. “Quem tem temperamento mais positivo, flexível e criativo possui maiores possibilidades de recuperação. Para quem tem perfil antagônico, o desafio é sempre maior”, adverte Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR).  

Para prevenir, Shadick sugere auto-organização e precisão na escolha das férias: “Se duas semanas de descanso levam à depressão, tire apenas uma semana. E tente não extrapolar nesse período, pois se exigir demais de você mesmo, será mais difícil ter energia para lidar com a transição em seu retorno”.

“Quando o problema for apenas a insatisfação com o trabalho, ações para motivar o desempenho ou trocar de atividade resolve a questão”, conclui a psiquiatra Paola Alves,  supervisora da residência médica em psiquiatria do Hospital Nossa Senhora da Luz.

 

SAIBA COMO EVITAR A DEPRESSÃO PÓS-FERIAS
1) Organize-se para sair de férias, minimizando a pressão do retorno. Isso significa delegar atividades relacionadas a projetos urgentes, respostas a email e assuntos urgentes. Outra boa providência é deixar avisado que o celular estará desligado durante esse período
2) As férias são para descanso do corpo e da mente. Portanto, evite telefonar para o trabalho ou ficar acessando email profissional. O uso do computador deverá ser para lazer e não para trabalho
3) Aproveite a oportunidade do recesso para aprimorar ou introduzir hábitos saudáveis que ajudem a suportar melhor as pressões do dia-a-dia. Passear, dormir, praticar esportes, colocar a vida social em dia são ótimas opções e ainda ajudam a relaxar
4) A alimentação deve ter atenção especial, com a adoção de rotina alimentar que preveja horários apropriados e alimentos nutritivos. Nos dias de retorno, evitar cafeína e álcool. Este último está associado à depressão
5) Não ignore o fato de que o retorno das férias pressupõe a existência de tarefas acumuladas. Por isso, adote uma estratégia para dosar o ritmo das atividades nos primeiros dias. A ideia é ter um comportamento de maratonista: não exagere no começo para ter energia para finalizar a competição
6) Tente manter o ritmo do sono nos primeiros dias, procurando ir para a cama mais cedo, propiciando um sono reparador. Use todas as estratégias para beneficiar-se disso: escureça o quarto, isole-os dos sons externos, durma com roupas confortáveis etc


Fontes: Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR), Paola Alves, médica psiquiatra, supervisora da residência médica em psiquiatria do Hospital Nossa Senhora da Luz, Lídia Weber, psicóloga, pesquisadora e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Richard Shadick, psicólogo, Ph.D. Director, Counseling Center Adjunct, Psychology Department Pace University