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Professores desafiando a gravidade para obter a atenção dos alunos

Kenneth Chang

New York Times News Service <br>Em Norwalk, Connecticut

03/01/2010 07h01

Antes de exibir um vídeo aos alunos do colegial nesta aula de física, Glenn Coutoure, professor da Norwalk High School, avisou-os que suas bocas ficariam escancaradas, em admiração infantil, durante quase todo o tempo.

Coutoure então iniciou o DVD, que exibia ele e outros professores de ciências flutuando em um avião durante um voo em setembro. Ao voar para cima e para baixo como uma montanha-russa gigante ao longo de caminhos parabólicos, o avião simulou a gravidade reduzida da Lua e de Marte, e a falta de peso em blocos de 30 segundos.

Os professores realizaram uma série de experimentos e manobras brincalhonas, como fazer flexões com outros sentados em suas costas e pegar com a boca M&M’s que voavam em linhas retas, buscando explicar melhor a seus alunos as leis do movimento que Sir Isaac Newton deduziu séculos atrás.

“Vejam que a bola simplesmente fica ali”, disse Coutoure.

“Isso é legal”, interrompeu uma estudante.

A Northrop Grumman Foundation enviou professores de ciência nesses voos de gravidade zero durante os últimos quatro anos para instigar professores e alunos acerca de ciência e matemática.

“De repente, esse professor se torna um super-herói”, disse Sandra Evers-Manly, presidente da fundação.

Quando a fundação questionou os 205 professores que voaram em 2005 e 2006, quase 92% relataram um aumento no interesse geral por ciência entre seus alunos. Cerca de 75% disseram que mais estudantes expressaram o desejo de continuar estudando ciência e matemática.

O voo em 29 de setembro, a bordo de um 727 modificado operado pela ZeroGravity Corp., que oferece voos comerciais de gravidade zero por US$5 mil por pessoa, levantou voo no Aeroporto Internacional Stewart, em New Windsor, e se dirigiu ao sul. Na costa de New Jersey, perto de Atlantic City, o jato começou suas manobras para cima e para baixo – uma parábola em gravidade marciana, duas na gravidade reduzida da Lua e então uma dúzia com gravidade zero.

Qualquer um pode sentir ausência de peso ao cair. Durante a parte em gravidade zero do voo, o avião voa em direção ao solo na mesma velocidade de queda livre e aceleração que os passageiros. O avião possui poucas janelas para visualizar o chão se aproximando, e os passageiros se sentem como se estivessem flutuando em voo de nível, ao invés de um mergulho para baixo. Quando o avião arremete do mergulho, os passageiros, que foram instruídos a se deitar rapidamente no chão, sentiram o dobro de seu peso usual.

Para a maioria dos professores como Coutoure, essa experiência de cair o queixo foi o mais perto que jamais chegariam do espaço (mas um deles, Rachel Manzer, professora de ensino médio em Suffield, em Connecticut, pode chegar lá. Ela foi escolhida como candidata a voar em uma das naves espaciais sub-orbitais sendo desenvolvidas e construídas por empresas privadas).

Como fez Barack Obama no mês passado, ao anunciar US$260 milhões em iniciativas educacionais público-privadas para gerar interesse em matemática e ciência, os professores no voo falaram repetidamente sobre estimular e inspirar seus alunos. Eles falaram especificamente sobre aqueles da sexta à oitava serie, que geralmente parecem perder interesse e proficiência.

Geoffrey Bergen, da Whisconier Middle School em Brookfield, Connecticut, um professor que estava no voo, disse que os métodos tradicionais de ensino lutavam para manter o interesse dos estudantes na era dos videogames e tecnologias de ritmo avançado. “É muito difícil ensinar a partir de um livro didático quando você pensa no mundo em que vivemos”, afirmou Bergen. O voo de gravidade zero, segundo ele, “fornece uma nova ferramenta para as leis de Newton”.

Ver seus professores realizando feitos de astronautas, os alunos “certamente são envolvidos”, disse.

Após o voo, Adrienne Manzone, professora da Captain Nathan Hale School em Coventry, Connecticut, estava exultante. “Meu fator ‘descolada’ subirá 100%”, explicou.

Francis Q. Eberle, diretor executivo da Associação Nacional de Professores de Ciência nos EUA, disse que programas como os voos Northrop Grumman de gravidade zero eram úteis para aprimorar a educação científica. “Isso ajuda a revitalizar a paixão dos educadores pela ciência”, disse Eberle. “O objetivo é aluda-los a levar essa empolgação de volta à escola e trabalhar junto aos estudantes”.

Mas outros, como Grover J. Whitehurst, um antigo sócio da Brookings Institution e e-diretor do Instituto Federal de Ciências da Educação, teme que a ênfase no comprometimento e na inspiração para alunos possa ser de alguma forma mal colocada.

“Certamente, fazer isso não causa nenhum dano”, disse Whitehurst sobre o programa Northrop Grumman. Porém, ele acrescentou que os US$5,1 milhões gastos pela fundação no programa ao longo dos últimos quatro anos talvez pudessem ter sido mais eficazes em outro lugar. “Se tivessem me contratado como consultor, eu não teria nem imaginado gastar tudo em voos de gravidade zero”, disse ele. “A questão é, será que isso realmente aprimora o ensino? Isso causa impacto? Essas perguntas não são feitas ou respondidas com a frequência suficiente”.

Whitehurst disse que os esforços para tornar a matemática e a ciência mais atraentes a mais alunos poderiam até mesmo ser contraproducentes, caso se diluísse a mensagem de que é preciso trabalhar duro para dominar os assuntos. Ele apontou os testes chamados Tendências no Estudo Internacional de Matemática e Ciência (ou Timss, da siga em inglês). Países onde uma maior fração dos estudantes diz gostar de matemática geralmente têm baixa pontuação, enquanto em países como a Coreia, onde os alunos afirmam não gostar de matemática, os resultados estão entre os melhores (há algumas exceções, como Singapura, onde os alunos gostam de matemática e mesmo assim se saem bem).

A noção de que o ensino americano de matemática e ciência está em crise é exagerada, segundo Whitehurst. Nos mais recentes testes Timss, alunos americanos se saíram bem acima da media e melhoraram ao longo da ultima década, embora algumas outras comparações internacionais mostrem estudantes americanos no meio do pacote.

Na classe de Coutoure, o vídeo do voo em gravidade zero foi reproduzido perto do final da aula, depois que ele havia explicado a física do movimento, da equivocada crença de Aristóteles de que objetos em queda caem todos à mesma velocidade, às observações e deduções mais rigorosas de Galileu. Ele também realizou demonstrações simples para ilustrar os conceitos, derrubando uma bola de beisebol e um pedaço de papel, em seguida amassando o papel numa bola e fazendo-o cair tão rápido quando a bola de beisebol.

Jamie Heverin, um dos alunos, disse: “Estou curioso para saber o que ele vai inventar da próxima vez”.