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Maioria das gestantes não é orientada sobre uso de medicamentos, diz estudo

Do UOL Ciência e Saúde*

19/01/2010 17h02

Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP (Universidade de São Paulo)  mostra que 60% das gestantes que utilizam medicamentos durante a gravidez não recebem informação sobre possíveis riscos para a saúde do feto.

O estudo, realizado com 699 mulheres com mais de 30 semanas de gestação no interior de São Paulo, ressalta a necessidade de orientação adequada sobre medicamentos muito utilizados, como os receitados para cólicas, mas que não possuem estudos aprofundados sobre seus efeitos.

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"Durante a gestação, os medicamentos ingeridos pela mãe podem atravessar a placenta e provocar efeitos teratogênicos, como defeitos na formação do feto”, afirma a farmacêutica Andrea Fontoura, que realizou a pesquisa.

Como ela explica, todo medicamento é lançado após exaustivos testes clínicos com seres humanos, mas como eles não podem ser realizados em gestantes, seus efeitos são conhecidos apenas quando já estão no mercado.

Das gestantes entrevistadas, 98% apontaram que usavam pelo menos um tipo de princípio ativo, com um número médio de sete princípios ativos por gestantes. Uma das mulheres revelou que usava 34 medicações diferentes.

O trabalho utilizou a classificação da Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador de medicamentos nos EUA, que divide os princípios ativos em cinco grupos: A (para os quais não foram constatados riscos para o feto em testes em humanos), B (estudos com animais não demonstraram risco fetal), C (estudos com animais revelaram efeitos adversos na gravidez, mas não houve testes em humanos), D (experiência na gravidez é associada a má-formação, mas a relação risco-benefício deve ser avaliada) e X (estudos com animais e humanos indicam anormalidades fetais e a relação risco-benefício contraindica uso na gravidez).

Os remédios mais utilizados pelas gestantes estão nas categorias A e B, com 20,55% e 25,20%, respectivamente. A farmacêutica alerta para os riscos da utilização dos princípios ativos da categoria C, verificada em 14% das mulheres pesquisadas, e que inclui a escopolamina, receitada em casos de dor e cólicas. “Essa categoria inclui medicamentos que apresentaram efeitos adversos no feto em pesquisas sobre reprodução animal, mas, em seres humanos, não existem estudos adequados ou os resultados não foram divulgados”, afirma.

Apenas uma das gestantes pesquisadas usava medicamentos da categoria X, que apresenta maiores riscos ao feto, uma mulher que tomava anticoncepcional e soube da gestação apenas no quinto mês de gravidez. Além dos contraceptivos, o grupo também inclui medicamentos como a isotretinoína, utilizada para tratamento de acne severa, e a vitamina A em doses elevadas.

Orientação

Embora 86,4% das gestantes utilizassem remédios com prescrição médica, 60% não receberam nenhuma orientação sobre a medicação utilizada. De acordo com a pesquisadora, essa disparidade acontece porque em muitos casos os medicamentos são apenas entregues pelo farmacêutico com a apresentação da receita. “Na verdade, a medicação deveria ser dispensada, ou seja, no ato da entrega são fornecidas todas as informações necessárias para o usuário”, explica.

A pesquisadora recomenda a presença de farmacêuticos nas equipes de saúde que cuidam das gestantes durante o pré-natal. “Elas não devem utilizar medicamentos sem receberem informações adequadas sobre os possíveis efeitos negativos dos princípios ativos”, defende.

A farmacêutica também aponta que a realização de estudos farmacoepidemiológicos sobre a utilização de medicamentos ajuda a promover seu uso de forma mais racional. “De posse dessas informações, é possível deixar de prescrever medicação apenas por prescrever, sem consciência dos riscos para a gestação”.

*Com informações da agência de notícias da USP (Universidade de São Paulo)