Topo

Equipe da USP transforma bagaço de cana em tecido para curativos

Da Redação*

05/05/2010 18h17

Um dos mais abundantes resíduos da indústria sucroalcooleira, o bagaço de cana-de-açúcar, poderá ter uma destinação nobre graças a uma pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo (USP). Com o acréscimo de enzimas e fármacos, a fibra extraída do material tem potencial para virar um curativo com múltiplas aplicações.

A pesquisa, coordenada pelo professor Adalberto Pessoa Júnior, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, surgiu a partir da iniciativa da professora Silgia Aparecida da Costa, do Curso de Têxtil e Moda da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

O objetivo foi aproveitar dois importantes resíduos, o bagaço da cana e a quitosana, substância extraída da carapaça de crustáceos e que tem propriedades fungicida, bactericida, cicatrizante e antialérgica.

O primeiro desafio foi extrair a fibra da cana-de-açúcar, trabalho feito pela pesquisadora Sirlene Maria da Costa, que já tinha desenvolvido um tipo de papel a partir da celulose do bagaço da cana.

Testes feitos no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) indicaram que o tecido derivado do bagaço é bastante resistente. Além disso, é confortável e agradável ao toque. 

No entanto, para ser utilizada como curativo era preciso analisar se não haviam vestígios dos reagentes utilizados no processo de obtenção da celulose. A equipe constatou que 99% do reagente é recuperado após o processo, portanto a fibra não agride a saúde.

O passo seguinte foi agregar enzimas, como as que existem no talo do abacaxi e na clara do ovo, e fármacos, como a anfotericina B e a sulfadiazina. Os testes realizados posteriormente em células mostraram que o tecido curativo da cana não apresentava efeitos tóxicos.

“O produto se mostrou tecnicamente viável. A avaliação econômica caberá à iniciativa privada, caso alguma empresa se interesse em licenciar o processo”, afirmou o coordenador do estudo à Agência Fapesp. Ele diz que o material é útil para tratamento de queimaduras, por exemplo.

Curativos bucais e roupas repelentes

Um grupo de pesquisa da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP já entrou em contato com a equipe a fim de desenvolver um curativo em parceria para ser utilizado na mucosa bucal.

A professora do Curso de Têxtil e Moda também vai iniciar uma pesquisa para incorporar citronela a tecidos de algodão. A substância extraída do capim-limão é eficiente para repelir insetos. “Roupas com citronela seriam úteis para afastar insetos como o mosquito da dengue”, destacou.

Os desafios do trabalho, segundo ela, é fazer com que a substância permaneça na roupa mesmo após sucessivas lavagens e que não seja absorvida pela pele.

*Com informações da Agência Fapesp