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Estudiosos analisam comportamento de risco de irmãos jogadores de beisebol

Por Alan Schwarz

27/05/2010 16h40

Quando B.J. Upton fez um “home run” (jogada máxima de ataque no basebal) na semana passada para ajudar o time Tampa Bay Rays a vencer os New York Yankees, não foi a primeira vez naquele dia que Upton tinha ido longe. Apenas algumas horas antes, conversando diante de seu armário no vestiário, ele tinha ajudado a confirmar os resultados de um recente estudo sobre o comportamento de risco de irmãos.

Na edição atual do “Personality and Social Psychology Review”, Frank J. Sulloway e Richard L. Zweigenhaft buscaram evidências de irmãos que se comportam de forma diferente na ampla base de dados das estatísticas do beisebol. Considerando que os irmãos mais novos demonstraram se arriscar mais do que os mais velhos – talvez originalmente para lutar por comida, hoje por atenção paternal -- Sulloway e Zweigenhaft analisaram se o fenômeno pode persistir ao ponto em que irmãos que jogam baseball tentariam roubar mais bases em índices significativamente diferentes.

Na verdade, isso aconteceu mesmo: em mais de 90% dos pares de irmãos que tinham jogado em grandes ligas ao longo da história registrada do beisebol, incluindo Joe e Dom DiMaggio e Cal e Billy Ripken, o irmão mais jovem (independente do seu talento em geral) tentou roubar bases com mais frequência do que o irmão mais velho.

B.J. e seu irmão mais novo, Justin, do time Arizona Diamondbacks, estão, na verdade, entre as exceções que ocorrem uma vez a cada dez casos (B.J. tem 25 anos e é três anos mais velho que Justin, e tem sido um rápido primeiro rebatedor, uma posição na ordem dos rebatedores muitas vezes associada ao roubo de base).

Mesmo assim, B.J. balançou a cabeça em sinal positivo quando soube que os cientistas tinham descoberto que irmãos mais novos tendem a assumir mais riscos.

“Ele sempre foi o que leva as coisas até o limite”, disse B.J., referindo-se a Justin. “Quando a mamãe dizia ‘Não ande de bicicleta ali’, ele fazia o contrário. Quando a mamãe disse ‘Não fique em pé na arquibancada’, ele ficou em pé, caiu e abriu a cabeça”.

As descobertas de Sulloway e Zweigenhaft não vão revolucionar a ciência comportamental, mas é um exemplo intrigante de como as personalidades dos irmãos podem ser diferentes de acordo com a ordem de nascimento. Como estudioso convidado do Instituto de Pesquisa Social e de Personalidade da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Sulloway publicou muitas pesquisas sobre o efeito da ordem do nascimento na rebeldia relativa dos irmãos, inteligência e até ativismo político.

Falando por telefone das Ilhas Galápagos, onde realizava uma pesquisa, Sulloway disse não esperar que o estudo tenha qualquer aplicação prática para técnicos de baseball, que baseiam suas convocações e disposições nas habilidades dos jogadores, não na linhagem. No entanto, ele disse, o estudo contribui para a compreensão da psicologia dos irmãos, pois oferece evidência de como as diferenças desenvolvidas na infância continuam muito além da puberdade.

“Tendemos a não mostrar diferenças da ordem de nascimento o tempo todo na fase adulta – nós a empregamos em situações com irmãos, pois é dali que vem o comportamento”, disse Sulloway. “Mas encontramos isso aqui, e é significativo”.

Os cientistas, incluindo Stephen Jay Gould e Edward M. Purcell, que ganharam o Nobel de Física em 1952 pelo trabalho sobre o magnetismo em núcleos atômicos, se interessaram por estatísticas do beisebol mais como uma distração de assuntos mais significativos. Sulloway disse que os volumes de registros de beisebol desde o século 19 apresentam uma oportunidade única para a pesquisa. “Tivemos 700 jogadores e 300 mil atos atléticos para analisar”, ele disse. “Como cientista comportamental, essa é uma base de dados dos sonhos”.

Os dados foram convertidos logaritmicamente e vários outros fatores foram considerados, como diferenças de idade, tamanho corporal e até mesmo a ordem em que os jogadores foram promovidos à liga principal. E aí está uma questão plausível sobre se os irmãos mais novos aprenderam a estratégia do beisebol mais por assistir aos irmãos mais velhos quando cresciam, o que Zweigenhaft, professor de psicologia do Guilford College, em Greensboro, Carolina do Norte, disse que poderia ser um fator de contribuição.

No entanto, ele disse: “Adorei trabalhar neste estudo, revisando padrões estatísticos de tantos nomes famosos. Foi como se eu estivesse jogando”.

© 2010 New York Times News Service