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Novos livros tratam do controle sobre a própria saúde e da história da dieta nos EUA

Por Abigail Zuger

The New York Times

31/05/2010 20h00

Agora que o prontuário médico eletrônico do nosso hospital monitora de forma razoavelmente eficiente os resultados de exames de sangue e raios X dos pacientes, não arquivamos mais as cópias. E agora que eu ofereço essas cópias aos pacientes, aprendo que o mundo está divido quando se fala em autoconhecimento médico.

Metade dos meus pacientes recua e recusa os papéis, como se eu tivesse oferecido uma bomba-relógio. A outra metade se ilumina – de repente, é Natal! – e arranca os papéis alegremente da minha mão. Então, eles aparecem na próxima consulta com as trechos sublinhados nas páginas e uma listinha de perguntas.

Assim, possivelmente a metade do público leitor irá passar pelo novo livro de Thomas Goetz, “The Decision Three” (“A Árvore da Decisão”, em tradução livre), com olhos pouco atentos. Os outros (e você sabe quem são) serão irresistivelmente atraídos por esta nova variação do velho gênero de autoajuda.

O livro de Goetz é publicado pela Rodale, o conglomerado editorial por trás da revista “Prevention” e sua mensagem não tão subliminar de que a maioria das doenças do corpo pode ser evitada com dieta, exercício e atenção vigilante aos venenos escondidos em toda parte.

No início, Goetz segue essa linha: “Na verdade, estamos constantemente tomando uma série de decisões, algumas inconscientes, algumas com grande intenção, que se unem para gerar nossa saúde”. Sua “árvore da decisão” tem os troncos comuns: você aborda seus riscos genéticos de saúde, avalia criticamente seu estilo de vida, adota hábitos preventivos e emerge em controle total, administrando sua saúde (na analogia de Goetz) como faz com seus investimentos.

Tudo bem, desde que você não conte todos aqueles acontecimentos ligados à saúde que claramente resultam da malevolência ociosa dos céus. Com os recentes caprichos do mercado de ações, o controle da saúde e do nosso portfólio de investimentos pode ser um pouco mais ilusório do que os gurus da autoajuda gostariam.
Mas Goetz traz talentos especiais para esse velho gênero. Diretor executivo da revista “Wired”, ele tem domínio sobre todas as novas ferramentas de saúde baseadas na internet, e as detalha para nossa análise. É aqui que o livro fica interessante.

Em uma apologia ao poder dos dados brutos, Goetz nos apresenta a comunidades online gigantes de enfermos e saudáveis, todos eles rastreando compulsivamente dezenas de produtores de bem-estar ou doença, de calorias consumidas a distâncias corridas, passando por miligramas de medicamentos ingeridos.

As gerações anteriores podem temer questões de privacidade inerentes a esses descarregamentos em massa, mas a geração conectada dá de ombros: o temor de que qualquer informação de saúde (como testes genéticos) possa ser perigosa ou de alguma forma destrutiva, ele escreve, “é uma ideia antiga e realmente ainda mais perigosa”.

Goetz percorre algoritmos derivados de computador para interpretar alguns dos indicadores biológicos mais imprevisíveis (como PSA, a substância associada ao câncer de próstata). Ele resume os esforços de cientistas para buscar nos bilhões de moléculas de proteína do corpo humano sinais de câncer menos ambíguos.

Ele acaba indo parar nas fronteiras filosóficas da medicina, onde poucos da comunidade de autoajuda se aventuram. O que é exatamente uma boa decisão médica? Como é possível aplicar modelos estatísticos rígidos para o terreno confuso do bem-estar humano? Será que realmente queremos abolir a incerteza de todos os nossos cálculos médicos – afinal, o que é incerteza, a não ser outra palavra para esperança?

No fim das contas, Goetz compilou uma atualização sofisticada e que gera reflexão para aqueles que tendem a querer conduzir seu próprio destino médico.

História da dieta

Os que preferem não fazê-lo sempre podem deixar que alguém o faça. Mas em um momento eles estarão para sempre sozinhos: por exemplo, o que escolher para almoçar. Mesmo que controlar não seja sua praia, você estará sempre preso a escolher sua própria comida. Mas se você adora o empoderamento pessoal, existe oportunidade melhor de exercitá-lo do que ajustando suas refeições e, por tabela, seu peso, forma e destino?

Já se foram os dias em que o alimento era apenas um combustível, como coloca Susan Yager em “The Hundred Year Diet” (Rodale), sua nova e enérgica análise da obsessão dos americanos por dieta e perda de peso no último século. Foi um fabricante britânico de caixões, William Banting, que começou tudo: sua “Carta sobre a corpulência, endereçada ao público”, descreveu sua descoberta de uma dieta livre de pão, manteiga, leite, açúcar e cerveja. Ele perdeu peso, se sentiu ótimo, e o público ficou enlouquecido para seguir seu exemplo, mas isso foi apenas o começo.

Horace Fletcher perdeu peso mastigando – ele mastigava 100 vezes por minuto, sem engolir até que cada garfada ficasse liquefeita. John Harvey Kellogg, de Battle Creek, Michigan, eliminou pão fermentado, carne e condimentos da cozinha de seu sanatório, junto com café e bebida alcoólica (já Banting gostava de um drinque à noite).

Então vieram as dietas com base em combinações especiais de alimentos (abacaxi com costeletas de carneiro; banana com leite desnatado). Então vieram ajudas químicas para emagrecer (dinitrofenol, fucoxantina e anfetaminas). Depois vieram os substitutos para refeições (Metrecal e seus concorrentes), adoçantes artificiais, refrigerantes, regimes de alto teor de proteína, ou pobres em gordura – as mais novas invariavelmente reencarnações das de décadas atrás. Até mesmo o Dr. Robert C. Atkins foi herdeiro intelectual de um antropólogo canadense que se alimentava de uma dieta de esquimós.

Há tanto material que Yager, professora de nutrição na New York University, mal tem tempo de respirar, quanto mais de compreender melhor o que tudo isso significa. Para as pessoas obcecadas por dieta, seu livro é uma leitura fascinante; as outras pessoas provavelmente o deixarão de lado e sairão para almoçar.

*Abigail Zuger é médica

 

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