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"Ainda não sabemos interpretar o genoma", explica pesquisadora

Tatiana Pronin

Editora do UOL Ciência e Saúde

26/06/2010 05h00

O genoma humano custou cerca de US$ 3 bilhões para ser mapeado por um consórcio internacional em 2000. Dez anos depois, muita gente se pergunta quando será possível conhecer seu código genético por um preço razoável. A resposta depende do tamanho do seu bolso. Uma empresa anunciou, no ano passado, que pode fazer o trabalho para eventuais interessados pela bagatela de US$ 4.400 (cerca de R$ 7.800), graças a uma nova técnica de sequenciamento. Pouco antes disso, o custo estava em US$ 100 mil (R$ 178 mil).

Mas não pense que a leitura do seu mapa genético vai trazer muitas informações práticas sobre o seu destino. “Sabemos ler, mas ainda não sabemos interpretar o genoma”, explica a professora e pesquisadora Lygia Pereira, do departamento de genética e biologia evolutiva da USP (Universidade de São Paulo).

Exceto nos casos de doenças genéticas raras (mendelianas), provocadas pela alteração de um gene único, conhecer sua própria “receita de bolo” pode, no máximo, indicar que você tem uma ou outra alteração genética que já foi relacionada, em estudos, a males como diabetes, infartos, hipertensão ou câncer. O que está bem distante de ser um atestado para o seu futuro.

“Essas doenças são poligênicas, ou seja, causadas por múltiplas alterações genéticas que agem em interação com fatores ambientais”, explica o geneticista Sérgio Pena, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. O problema é que, infelizmente, são justamente essas as enfermidades que mais matam.

Mais cinco ou dez anos

Só quando os cientistas decodificarem os genomas de milhares de pessoas é que será possível estabelecer conexões mais concretas e compreender a raiz dessas doenças tão comuns. Para o médico Salmo Raskin, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica (SBGM), isso deve acontecer nos próximos cinco ou dez anos, quando os sequenciamentos estiverem mais baratos. Estima-se que antes de 2020 será possível decifrar um genoma completo em apenas um dia e por menos de R$ 2 mil.

Raskin explica que o sequenciamento do genoma trouxe uma evolução no conhecimento das doenças genéticas raras acima das expectativas. Já em relação às doenças comuns, a caminhada é mais lenta. Ele explica que a maior parte dos estudos busca encontrar alterações nas letras que compõem o código genético de quem sofre desses males. Só que existe o risco de a raiz dos problemas não estar aí, mas em um estágio posterior, ou seja, a produção de proteínas.

“Só o fato de muito recentemente termos descoberto que ao menos metade do ‘lixo genético’ é composto por sequências fundamentais na regulação do genoma já mostra o quanto sabemos pouco sobre a genética humana, dez anos depois do anúncio do sequenciamento”, diz o médico, em artigo publicado sobre os dez anos do genoma para a SBGM.

Parafraseando Sócrates, o geneticista diz que a frase “Só sei que nada sei” nunca esteve tão atual.