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Fórmula redefinida suaviza malhação feminina

Por Tara Parker-Pope

The New York Times

14/07/2010 13h05

Se você é uma mulher que se exercita, prepare-se para fazer algumas contas. Pesquisadores da Northwestern Medicine, em Chicago, anunciaram uma nova fórmula para calcular a frequência cardíaca máxima de uma mulher, uma medição comumente usada por atletas para definir seu ritmo e monitorar seus progressos. Num estudo com quase 5.500 mulheres saudáveis, cientistas descobriram que uma fórmula de décadas atrás, usada para calcular a frequência cardíaca, é inexata para mulheres – resultando em um número alto demais.

A novidade pode ser uma anistia a muitas mulheres que lutaram para acompanhar as altas frequências cardíacas propostas por treinadores e programadas em visores de esteiras.

A fórmula geralmente usada subtrai a idade da pessoa de 220. Mas, com base nos dados coletados no estudo de Chicago, a fórmula correta para calcular a frequência cardíaca máxima de uma mulher é um pouco mais complicada: 206 menos 88% da idade da mulher.

A descoberta é significativa porque muitos corredores, ciclistas e outros atletas monitoram obsessivamente suas frequências cardíacas através do pulso, e dependem da velha fórmula para avaliar a intensidade da malhação. O objetivo comum é se manter entre 65 e 85% da frequência máxima estimada, dependendo de se o atleta está tentando desenvolver capacidade aeróbica ou aprimorar a resistência.

Porém, o novo estudo mostra que, para mulheres, o número geralmente obtido pela fórmula padrão está bem longe da marca. Usando a velha fórmula de 220 menos a idade, uma mulher de 40 anos atingiria uma frequência cardíaca máxima de 180 batimentos por minuto. Isso significa que seu pulso deveria ficar em torno de 153 batimentos por minuto durante o treinamento – atingindo uma frequência-alvo de 85%.

No entanto, com base no novo cálculo, a frequência máxima da mesma mulher ficaria em 171 batimentos por minuto, significando que sua frequência-alvo seria de apenas 145 batimentos, 8 batimentos a menos do que sob a fórmula antiga. Embora o intervalo pareça pequeno no papel, ele pode representar a diferença entre um treinamento estimulante e um frustrante, que termina com a exaustão.

“Não há nada errado em atingir uma frequência cardíaca mais alta com o exercício, e se você consegue manter isso, tudo bem”, disse a Dra. Martha Gulati, cardiologista e professora-assistente de medicina e medicina preventiva na Northwestern, que conduziu o estudo. “Mas pode ser que algumas mulheres estejam ficando cansadas e precisem parar, ou desacelerar, por não conseguirem manter sua frequência cardíaca no nível mais alto. E elas estão usando os números errados”.

Durante o estudo, pesquisadores coletaram dados de frequência cardíaca de 5.437 mulheres saudáveis, idades entre 35 e 93 anos, que participaram de exames na esteira – durante os quais elas tiveram de se exercitar no ritmo mais alto e pelo maior tempo que conseguiram até precisarem parar. Após acompanhar as mulheres por 16 anos, os pesquisadores descobriram uma ligação entre respostas anormais de frequência cardíaca e maiores riscos de ataques cardíacos.

Mas os dados também ajudaram a gerar a nova fórmula para calcular a frequência cardíaca máxima. E é importante lembrar que mesmo essa fórmula é baseada em médias, aponta Gulati. Algumas mulheres podem achar que o cálculo da frequência está alto ou baixo demais. O Dr. Michael Lauer, diretor da divisão de ciência cardiovascular no Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue dos EUA, afirmou que o trabalho é “o melhor estudo de exercícios em mulheres assintomáticas que temos hoje”.

“Nós sempre dissemos às pessoas para usarem 220 menos a idade, e nos baseávamos em dados com homens”, disse Lauer. “Esta nova equação pode dar às mulheres uma estimativa melhor de qual deve ser seu pico em batimentos cardíacos”.

Obviamente, a nova fórmula para mulheres também levanta novas questões sobre a confiabilidade dos velhos cálculos de frequência para homens. A fórmula original resulta de pesquisas do início dos anos 1970, que analisaram a média das frequências cardíacas máximas em 10 estudos com homens. A fórmula foi um cálculo geral criado para estimular a discussão entre acadêmicos, e nunca para ser divulgada ao público.

Entretanto, a simplicidade do cálculo atraiu uma geração de atletas que buscavam orientações em relação a quanto deveriam se pressionar para melhorar a forma física e aprimorar a saúde cardíaca. Empresas promovendo monitores de frequência cardíaca, clubes de malhação, médicos de família, todos adotaram a fórmula como uma medição simples de aptidão física – e o cálculo de 220 menos a idade se tornou um padrão para o exercício físico.

Mesmo assim, muitos pesquisadores dizem ser ridículo basear metas de exercícios na idade de um indivíduo, e não em seu nível individual de aptidão.

“A indústria da boa forma, ao anexar isso a cada esteira já produzida, praticamente perpetuou a fórmula”, diz o Dr. Tim Church, pesquisador de exercícios e diretor de medicina preventiva do centro Pennington Biomedical Research, em Baton Rouge, Louisiana. “Existe a ideia de que a fórmula de alguma forma não funcionava para mulheres, mas eu diria que ela não funciona para ninguém”.

Em 2001, uma equipe da Universidade do Colorado concluiu que a equação padrão para frequência cardíaca era inexata tanto para homens quanto para mulheres. Eles desenvolveram uma fórmula similar que, segundo eles, se aplicava a ambos os sexos – frequência cardíaca máxima é igual a 208 menos 0,7 vezes a idade –, mas a equação nunca foi amplamente aceita junto ao público.

Church diz que, exceto por atletas de elite, o monitoramento da frequência cardíaca não é muito útil, e pode evitar que a pessoa encontre um programa de exercícios de que goste e realmente desenvolva. “Cada pessoa tem seu próprio ritmo natural”, explica Church. “Se você gosta de um ritmo mais forte, busque isso. Se você gosta de se exercitar com menor intensidade e por mais tempo, faça isso. Descubra o que funciona para você”.