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Hudson Canyon, ao lado de Nova York, torna-se paraíso de estudiosos do meio ambiente

Por William J. Broad

20/07/2010 16h48

Logo ao lado da cidade de Nova York fica o Hudson Canyon, uma enorme fissura no fundo do mar que se prolonga por centenas de quilômetros. Barcos de frete e pescadores comerciais sabem, há tempos, que as águas do cânion são repletas de atum, peixes-espada, caranguejos vermelhos e outros animais marinhos.
Agora, cientistas descobriram uma surpreendente causa potencial para ao menos parte das riquezas do cânion – metano borbulhando para cima, desde o fundo do mar.

  • The New York Times

    Mapa mostra onde fica o Hudson Canyon, próximo da cidade de Nova York

Uma equipe da Universidade Rutgers e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, da sigla em inglês) realizou três viagens ao cânion desde 2007, e está preparando outra para o próximo mês. Eles já descobriram altos níveis de metano nas águas e, rastreando pistas químicas e geológicas, agora enxergam o gás natural, que é associado a depósitos de petróleo, como a possível primeira refeição de uma grande cadeia alimentar.

Na próxima expedição, a equipe pretende usar um submarino robótico equipado com uma câmera – para fotografar áreas do solo e lados do cânion pela primeira vez. Os cientistas esperam reunir evidências de criaturas profundas que vivem direta ou indiretamente do metano, talvez incluindo moluscos e caranguejos, mexilhões e pólipos.

Tais ecossistemas bizarros ocorrem globalmente. Petróleo e gases escapando no fundo do Golfo do México resultam em muita vida nas profundezas, assim como vazamentos petroquímicos em Angola, Chile, Indonésia, Peru e Trinidad. Porém, cientistas nunca encontraram tal hábitat com tanta proximidade à cidade de Nova York.
Os ecossistemas escuros são conhecidos como quimiossintéticos, pois os micróbios que servem como fundação derivam sua energia de elementos químicos – diferente das plantas, que usam a luz solar para a fotossíntese.

“A grande descoberta seria um ecossistema quimiossintético”, disse Peter A. Rona, cientista marinho da Rutgers que lidera as expedições, numa entrevista.

“Alguém certa vez disse: ‘Você coloca seu polegar na água e já está na natureza selvagem’”, afirmou Rona. “Isso é verdade”.

Há aproximadamente 10 mil anos, o aquecimento da terra enviou as geleiras numa retirada para o norte. O derretimento do gelo resultou em águas que corriam para o mar cheias de rochas e fragmentos. Cientistas dizem que a torrente cortou o Hudson Canyon, fazendo sua fenda atingir mais de um quilômetro de profundidade – quase tão profunda quanto à do Grand Canyon. A grande descida começa cerca de 160 quilômetros a sudeste do Rio Hudson.

O cânion foi pouco estudado até 2002, quando Rona, a U.S. Geological Survey, o Instituto Oceanográfico Woods Hole e a agência federal dos oceanos se juntaram para uma viagem de exploração. O barco da NOAA, chamado Ron Brown, usou o som para mapear os recessos do cânion em detalhes.

Com esse primeiro mapa em mãos, os cientistas voltaram-se à questão do que teria tornado o cânion um local tão disputado biologicamente, assim como se seus buracos e fendas poderiam abrigar alguns dos ecossistemas e criaturas mais exóticos da natureza.

“Nós temos um mandato para proteger hábitats delicados”, afirmou o Dr. Vincent G. Guida, biólogo do NOAA Northeast Fisheries Science Center, que conduziu expedições posteriores com Rona.

Robô

Em 2007, os cientistas utilizaram um robô de nado livre que mapeou a cabeça do cânion com maiores detalhes. Ele veio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Submarina, um empreendimento conjunto da NOAA e da Universidade do Mississipi. Em 2008, os cientistas descobriram altos níveis de metano na água, e confirmaram essa descoberta em 2009.

Os mapas feitos no ano passado revelaram que o fundo do mar congelado estava coberto de buracos gigantes. Rona explicou que essas características são bem conhecidas, com geólogos ligando-as ao encolhimento e desmoronamento de gelo de metano, conhecido como hidrato de metano.

“Encontramos famílias inteiras dessas coisas”, disse ele.

Os buracos no fundo do mar variavam, em tamanho, de mesas de pingue-pongue até crateras gigantes com quase 800 metros de diâmetro.

Em dezembro, Rona, Guida e 10 outros cientistas apresentaram suas descobertas do Hudson Canyon à conferência anual da União Americana de Geofísica. A Dra. Mary Scranton, da Universidade Stony Brook, fez a análise do metano.

No próximo mês, os cientistas pretendem empregar um novo tipo de robô do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Submarinha nos locais que não recebem luz solar. As luzes e câmeras do robô – de foto e vídeo – prometem iluminar as profundezas, revelando muito mais.

A descoberta de ecossistemas escuros, segundo Rona, sugeriria uma nova rodada de pesquisas, buscando compreender o papel dos hábitats quimiossintéticos na manutenção da vitalidade geral do cânion.
“Pode haver sistemas de organismos que vão para cima na cadeia alimentar”, como no Golfo do México, disse ele.

Rona acrescentou que o cânion provavelmente guardava mais surpresas. “Ele fica bem na soleira da Nova York metropolitana”, afirmou. “Mas segue amplamente inexplorada”.