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Honestidade é a melhor política quando seu filho pergunta se você já usou drogas

Por Perri Klass*

The New York Times

26/07/2010 19h15

Há muitos anos, quando eu era residente em pediatria, um paciente adolescente me perguntou se eu já havia fumado maconha. Não era uma pergunta amigável, mas uma resposta malcriada aos meus próprios questionamentos, como uma advertência.

Nenhum paciente havia me perguntado isso em décadas. Recentemente, porém, me vi participando de diversas conversas entre pediatras sobre como os pais devem lidar com as perguntas de seus filhos nesse tópico. Os médicos, e os pais que vão até eles em busca de conselhos, precisam de uma forma de integrar seus padrões de honestidade com o que sabemos sobre evitar o abuso de substâncias – e com novas pesquisas, que deixam claro que sabemos muito mais hoje do que qualquer pessoa quando éramos jovens.

Em especial, cientistas compreendem muito mais sobre a neurobiologia do cérebro adolescente e os riscos da experimentação de drogas e álcool durante a adolescência. Enquanto costumávamos achar que o cérebro estava relativamente amadurecido com 16 ou 18 anos, na verdade ele ainda está se desenvolvendo por volta dos 25 anos.

O que se desenvolve cedo é a área de busca por prazer, o núcleo acumbente. As regiões que ajudam com o pensamento abstrato, a tomada de decisões e o julgamento ainda estão amadurecendo, e por isso têm menos chances de inibir o comportamento da procura de prazer. Assim, drogas e álcool podem realmente levar a mudanças permanentes na forma como o cérebro trabalha – em particular, segundo muitos especialistas, uma maior probabilidade de dependência na vida adulta.

Mas dar conselhos sábios aos jovens nunca foi uma tarefa simples. Quando o histórico do próprio pai é abordado, isso fica ainda mais complicado.

Existe uma questão moral, para os adultos que se orgulham de sua honestidade e transparência. Há um medo de que, independente de quão cuidadoso você seja para soletrar a lição de sua própria história, você pode estar oferecendo a seu filho uma lição implícita sobre a falta de consequências, um tipo de parábola “eu fiz isso e estou bem”.

E existe uma ansiedade comum nos pais a respeito de perder a base superior da moral, um medo de que, algum dia, isso seja jogado na sua cara. Isso pode ser especialmente preocupante em situações de maior carga, quando as crianças ou os pais (ou ambos) estão lidando com problemas de drogas ou álcool.

Contar ou não?

“Isso aparece sempre quando estou aconselhando os pais”, disse a Dra. Sharon Levy, diretora do programa de abuso de substâncias em adolescentes do Children’s Hospital Boston. “Eles dizem: ‘Bem, o que devo contar para ela – ou não?’” A pesquisa, nesse ponto, é limitada. Mas há evidências para sugerir que, quando os pais fornecem mais informações e melhor modelagem logo cedo, o risco de abuso de substâncias para seus filhos é reduzido. E um estudo de 2009, conduzido pelo centro de tratamento Hazelden, em Minnesota, descobriu evidências de que muitos adolescentes acreditavam que a honestidade dos pais a respeito do abuso de álcool era uma influência positiva.

Obviamente, cada pai, cada filho e cada situação são diferentes, e não existe uma regra definida dizendo que pais e médicos precisam compartilhar quaisquer informações a respeito de seu uso de drogas e álcool, passado ou atual.

Em vez disso, é importante descobrir “por que você pergunta, o que está acontecendo ao seu redor?”, explicou a Dra. Janet F. Williams, professora de pediatria do Centro de Saúde e Ciência da Universidade do Texas, em San Antonio, e presidente do comitê sobre abuso de substâncias da Academia Americana de Pediatria.

“O que você acha que eles querem saber pode não ser tudo que estão perguntando”, disse ela. E, como em outras conversas importantes, leve em consideração o estágio de desenvolvimento da criança; você responde a uma pergunta de uma criança de 12 anos, e de um jovem de 22, com termos e detalhes diferentes.

Não minta

Mas se uma criança faz uma pergunta, e a maioria dos especialistas concorda sobre isso, não minta. “Diga a eles sem glorificar o assunto”, afirmou Levy, “e se você acha que cometeu um erro, diga isso a eles também”.

Na verdade, uma criança que faz esse tipo de pergunta a seus pais pode ter passado por certa quantidade de preocupação a respeito de como e quando fazê-lo. Não deduza que a agonia e o constrangimento estão todos do seu lado.

Trate a questão com respeito, e use-o, como dizem os especialistas, para manter a conversa rolando. Pode não ser uma pergunta que você particularmente queria responder, mas trata-se de uma conversa mais ampla que, como pais, precisamos encorajar (dois sites úteis em inglês são teens.drugabuse.gov, com informações dirigidas a adolescentes, e teen-safe.org, que oferece conselhos sobre como conversar com adolescentes).

E aquele pesadelo familiar da paternidade, o adolescente nervoso que reage a disciplina e censura voltando-os para você, com uma acusação sobre suas próprias transgressões? Deborah R. Simkin, psiquiatra que faz parte do comitê de Williams da Academia Americana de Psiquiatria Infantil e Adolescente, criou uma analogia a um alcoólatra que resiste ao tratamento ao abordar problemas de outras pessoas.

“A criança está tentando desviar a atenção da intervenção apropriada de um pai”, disse ela. Em casos como esse, a resposta dos pais deve ser clara: “Nós não vamos discutir o que eu fiz, mas o que você fez”.

O que queremos, como pais, é transmitir sabedoria – mesmo que a tenhamos adquirido da pior forma – sem que nossos filhos assumam riscos. “Se você dirigiu sem o cinto de segurança e não morreu num acidente de carro, isso significa que você quer seus filhos dirigindo sem o cinto?”, perguntou Levy.

Ou, como William colocou: “Se a forma pela qual isso for apresentado for ‘Isso é arriscado, e espero que você não tenha de tocar o forno quente para descobrir que sairá queimado’, eles não precisam correr o mesmo risco”.

Finalmente, após todos os avisos e ansiedades, é essencial retornar aos pontos positivos – “sempre se lembrando de notar o que há de bom em seu filho”, disse Williams.

Afinal, a mensagem mais importante de um pai não é sobre os erros que podem desencaminhar uma criança, mas sobre as alegrias de encontrar seu próprio caminho.

Diga a seu filho, nas palavras de Simkin: “Eu prefiro que você trabalhe em descobrir sua paixão, descobrindo o que você quer fazer na vida” – e comemore esse potencial. Por esse exato motivo, concluiu Williams, “Eu gostaria que eles tivessem todos os neurônios que podem ter”.
 

* Perri Klass é médica