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Entenda o que significa ecologia médica

Por Cristina Almeida

Especial para o UOL Ciência e Saúde

10/09/2010 07h00

“O homem moderno é como um animal selvagem que passa sua vida num zoológico e, como tal, é alimentado com abundância, protegido das intempéries, mas está privado dos estímulos naturais e essenciais para muitas funções de seu corpo e mente. Os homens foram alijados não só dos outros homens, da natureza, mas também do mais importante: das camadas profundas do seu eu fundamental”.

O fragmento acima foi extraído de um texto escrito pelo microbiologista americano, Rene Dubos, que na década de 1960 já observava o impacto do meio ambiente e do progresso tecnológico na vida dos seres humanos. Descobridor da gramicidina, um antibiótico tópico contra bactérias, foi ele quem usou pela primeira vez o termo "ecologia médica". Naquela época, seu objetivo era dar destaque à importância da exploração adequada dos sistemas naturais que, para ele, seriam capazes de prover muitas das necessidades humanas.

Atualmente, "ecologia médica", "medicina ecológica" ou "ecomedicina" são as formas utilizadas para definir um ramo da medicina que estuda a relação existente entre fatores ambientais e saúde. Na base dessa observação científica está o homem, tido como parte integrante da natureza, capaz de interagir com ela e vice-versa. O objetivo é ser o ponto de ligação entre o ser humano e seu ambiente, para estimular a conscientização do impacto dessa interação na saúde e na natureza.

Autor do livro "Medicina Ecológica – Descubra como cuidar da sua saúde sem sacrificar o planeta" (Ed. Nova Era), o médico Alex Botsaris, especialista em doenças infecciosas e parasitárias e em medicina chinesa, afirma que toneladas de substâncias químicas têm sido despejadas na superfície do planeta, contaminando ar, água, alimentos e a própria a vida. “Por isso, os seres humanos estão cada vez menos saudáveis, mesmo com todos os avanços tecnológicos, principalmente porque o meio ambiente é inadequado, e está mais agressivo e contaminado”.

De acordo com o médico homeopata Fernando Bignardi, coordenador do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp e diretor do Centro de Ecologia Médica Florescer da Mata, para melhor entender os fins da ecologia médica, antes é preciso saber que a medicina convencional é topográfica e se concentra nas partes de cada corpo humano. O raciocínio médico parte de uma pergunta: onde? Assim, a terapêutica é sempre linear, e não ultrapassa a barreira do órgão afetado.

“Já os princípios da ecologia médica exigem que o doente e a doença sejam analisados considerando suas possíveis relações com aspectos nutricionais, toxinas, alergias e fatores ambientais”, diz Bignardi. A partir dessa observação, “a sustentabilidade na saúde clama pela prática de ações harmônicas, alinhadas com os mesmos padrões sistêmicos naturais a tudo o que existe”, acrescenta.

“Ecologia médica é, portanto, um olhar para o fenômeno do adoecer de uma maneira ecológica. A doença se manifesta no indivíduo, mas a causa pode estar na forma como um alimento foi produzido”. “Essa é a razão porque se costuma dizer que, às vezes, para tratar a doença do vovô, antes precisamos cuidar de seu genro”, conclui o Bignardi.