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Gravidez não é doença, mas exige alguns cuidados

Tatiana Pronin, editora do UOL Ciência e Saúde

Em São Paulo

16/09/2010 10h00

Embora os especialistas reforcem que gravidez não é doença, carregar um ser em formação no ventre requer alguns cuidados que podem alterar a rotina da futura mamãe.

Mulheres que fumam e bebem, por exemplo, são obrigadas a abrir mão ou restringir o hábito ao máximo. O uso de remédios, mesmo fitoterápicos, deve ser avaliado. Alguns ajustes na alimentação e na prática de atividade física são recomendáveis e até certos rituais de beleza, como alisamentos, tinturas e tratamentos para acne, devem ser adiados.

Uma simples aspirina pode representar perigo para quem está esperando um filho. Por isso, o ideal é preparar uma lista de perguntas para levar ao médico assim que o resultado der positivo. A paciente não deve ter vergonha de perguntar: é sempre melhor pecar pelo excesso.

Com ajuda de especialistas, o UOL Ciência e Saúde selecionou, abaixo, alguns itens que devem ser levados em conta ao se descobrir a gravidez:

Cigarro

Os prejuízos do cigarro para o feto são incontestáveis. Estudos indicam que o fumo aumenta o risco de o bebê nascer com baixo peso e com problemas respiratórios. Além disso, eleva a probabilidade de parto prematuro.

O ideal é fazer um tratamento para abandonar o fumo antes de tentar engravidar. Como isso nem sempre é possível, a saída é jogar o maço no lixo assim que descobrir a gestação. Algo que, infelizmente, nem todas as tabagistas conseguem fazer. “Muitas gestantes fumam escondido e se culpam muito”, conta a ginecologista e obstetra Helena Junqueira, do Hospital e Maternidade Santa Joana.

Como tratamentos com adesivos de nicotina e medicamentos são contraindicados nessa fase, muitos médicos acabam permitindo que pacientes com alto grau de dependência reduzam o consumo para dois ou três cigarros por dia, pois a interrupção do vício costuma gerar estresse para o organismo.

Junqueira comenta que participar de um grupos de apoio pode ser útil para aliviar a ansiedade e manter o comprometimento de não fumar.

Álcool

Bebida e gravidez são coisas que não combinam – disso nenhum médico duvida. Mas, enquanto alguns especialistas sugerem que mesmo doses pequenas de álcool podem prejudicar o feto, outros permitem que a mulher consuma uma taça de vinho ou um copo de cerveja esporadicamente.

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é uma doença grave e irreversível provocada pelo consumo de bebidas durante a gravidez. Pode causar retardo no desenvolvimento do feto, malformações e até distúrbios comportamentais na criança.

“Em geral, a gente pede para a paciente não beber no primeiro trimestre e, a partir do segundo, restringir o consumo para doses pequenas em ocasiões esporádicas”, diz a ginecologista. Em outras palavras, o hábito de tomar um ou dois chopinhos no fim de semana está fora de cogitação (esqueça o velho mito de que cerveja preta ajuda na produção de leite). Mas não há motivos para entrar em pânico se você tomou algumas cervejas antes de saber que estava grávida, ou se não resistiu a uma taça de espumante na virada do ano.

Adoçantes

O uso de adoçantes na gravidez é outro tema que gera controvérsias. Isso porque não existem estudos científicos de grande escala que garantam a segurança deste ou daquele produto para gestantes. “Em geral, recomendamos que se evite o ciclamato”, afirma o ginecologista e obstetra Claudio Bonduki, professor afiliado do departamento de ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

O ideal é optar por adoçantes naturais, como stévia e frutose. Ou mesmo consumir açúcar, mas em pouca quantidade, já que o excesso de peso na gravidez deve ser evitado. Já as diabéticas não precisam abrir mão do aspartame ou da sucralose, conforme recomendação médica. “Mas é bom evitar o consumo exagerado”, avisa Junqueira.

Cafeína

Não é incomum a gestante perder a vontade de tomar café, especialmente no primeiro trimestre, quando os enjoos costumam surgir. Se não for o caso, não há necessidade de abolir a bebida do cardápio, apenas moderar a quantidade. “Uma xícara pequena no café e outra depois do almoço não vão fazer mal”, diz a médica do Santa Joana.

A cafeína em excesso é contraindicada porque a substância aumenta os batimentos cardíacos e pode causar prejuízos ao feto. Lembre-se que, além do café, refrigerantes à base de cola, chás e chocolates também contêm cafeína.

Alimentos

De acordo com Bonduki, a única regra que as gestantes devem considerar em relação à dieta é redobrar a atenção com a higiene dos alimentos. Frutas e vegetais mal lavados, assim como carnes e peixes crus, podem causar doenças como salmonela e toxoplasmose, perigosas na gravidez (sim, a toxoplasmose também pode ser contraída por alimentos).

Além do cuidado para evitar infecções, a gestante deve buscar o equilíbrio na alimentação e evitar aquilo que não lhe cai bem. Se está com gases, deve evitar itens que fermentam. Se tem muito enjoo, deve evitar passar muito tempo em jejum. Em geral, a recomendação é caprichar nas fibras, e nos vegetais que são ricos em vitaminas e cálcio. E lembrar que grávida não precisa comer por dois.

Tratamentos de beleza

Mulheres que utilizam cremes à base de ácido glicólico ou retinoico para prevenir espinhas ou clarear a pele devem interromper o tratamento durante a gestação. É sempre bom consultar o dermatologista ou o próprio obstetra para saber quais produtos utilizar. “Vale lembrar que toda gestante deve caprichar no uso de filtro solar”, lembra a médica, pois a gravidez aumenta o risco de adquirir manchas.

O uso de tinturas para cabelo e alisantes que contêm amônia ou formol também é contraindicado. A partir do segundo trimestre, em geral libera-se o uso de tinturas naturais, como a henna. Junqueira também permite que a gestante faça luzes ou reflexo nesse período. Já Bonduki é contra: “Há sempre o risco de o produto encostar na raiz”. Na dúvida, consulte seu médico de confiança.

Em relação a massagens e drenagem linfática, é importante avisar o profissional sobre a gravidez. E quem costuma tomar banho de banheira ou ofurô deve evitar temperaturas altas, pois a água muito quente pode causar queda de pressão e até desmaios.

A depilação está liberada, mas o uso do laser para remoção definitiva dos pelos deve ser adiado.

Atividade física

A atividade física não só não é vetada na gravidez, como deve ser estimulada, já que melhora a circulação, evita o inchaço e o ganho de peso excessivos e previne as dores na coluna, comuns depois que a barriga fica saliente. Em geral, os especialistas recomendam apenas que a gestante exercícios de alto impacto, como a corrida, a não ser que já pratique há muito tempo e tenha o aval do médico.

Para quem já pratica, alguns médicos recomendam reduzir a intensidade no primeiro trimestre. Ao longo da gravidez, é necessário redobrar o cuidado com movimentos que possam resultar em lesões ou quedas. “Os melhores exercícios para a grávida são a caminhada, a bicicleta ergométrica, a ioga para gestantes, a natação e a hidroginástica”, diz Bonduki.

Remédios

Antes de um medicamento ser lançado no mercado, ele é testado em animais e, posteriormente, em um número grande de indivíduos. Por motivos éticos, esses estudos clínicos não podem ser feitos em gestantes. É por isto que os médicos evitam ao máximo a indicação de drogas na gravidez: nem sempre há provas suficientes de segurança para o feto. Conclusão? Assim que você tiver a confirmação da gravidez, deve consultar o obstetra antes de tomar qualquer medicamento.

“Ao indicar algum remédio na gravidez, o médico sempre analisa o risco-benefício”, pondera Junqueira. Em alguns casos, como no câncer, não há como adiar o tratamento. E se a mulher sofre de depressão, o especialista pode escolher uma droga que tenha sido mais estudada em gestantes.

Mesmo suplementos alimentares, complexos vitamínicos, fitoterápicos e chás medicinais podem ser prejudiciais para o bebê, por isso não esqueça de comunicar ao médico caso esteja consumindo algum desses produtos.

Sexo

É natural que a mulher e seu parceiro tenham dúvidas sobre a possibilidade de ter relações sexuais na gravidez. “Se não houver ameaça de abortamento ou de parto prematuro, não há qualquer contraindicação”, garante Junqueira.

A penetração não traz riscos ao feto, como muitas mulheres podem achar. Basta buscar as posições mais confortáveis para a gestante. E também não há qualquer problema com o orgasmo – pelo contrário, a sensação de bem-estar também deve afetar o bebê.

Vale dizer que a libido da mulher pode variar bastante durante a gestação. No início, é comum haver uma queda no desejo por causa dos hormônios em ebulição e dos enjoos, enfrentado por muitas mulheres. Já no segundo trimestre a vontade retorna e, no último, pode voltar a cair em decorrência do desconforto físico que algumas grávidas sentem.