Achar que energético melhora performance é um equívoco, dizem especialistas
Com a promessa de trazer mais disposição e aumentar a performance atlética, as bebidas energéticas registraram um saldo de vendas fora do comum nos últimos cinco anos. Entre 2006 e 2010, o consumo dos chamados energéticos cresceu 325%, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (Abir). Em meio aos recordes de vendas, a cada ano surgem novas evidências indicando que o consumo exagerado do produto pode resultar em problemas de saúde, sobretudo do coração.
Entre os alvos do marketing de energéticos estão os atletas e os adeptos da malhação. “A propaganda exalta várias vantagens com o uso dessas bebidas, como melhora da performance, concentração, velocidade, tempo de reação e aumento do metabolismo. Isso induz o consumidor a pensar que quanto mais tomar energético maior será o benefício, enquanto na realidade maiores serão os riscos”, esclarece o cardiologista e especialista em medicina do esporte, Luciano Vacanti.
O também cardiologista e médico do esporte Nabil Ghorayeb diz que não recomenda mais de 3 ou 4 doses de café (ou qualquer outra fonte de cafeína) por dia. “E é bom lembrar que vários alimentos possuem cafeína; além do café e dos energéticos tem também o chocolate, o chá preto, o chá mate, os refrigerantes de cola etc.”, acrescenta.
Outra conta importante é que uma latinha de energético tem em média a mesma quantidade de cafeína que uma xícara de café; 80 mg. Mas há produtos que tem mais do que isso.
Desempenho prejudicado
Além da quantidade, outro mito em relação aos energéticos é o aumento do desempenho do atleta. De acordo com Ghorayeb, os atletas precisam ficar atentos a algumas questões. “Essas bebidas atrapalham o ritmo do coração aos treinamentos. Os energéticos estimulam o coração a acelerar de forma não fisiológica (uma resposta natural seria uma forte emoção ou a prática de exercícios por si só, por exemplo); é como acelerar o motor do carro sem nenhuma necessidade”, alerta o cardiologista.
Não confunda energético com isotônico
Muitos frequentadores de academia e adeptos da malhação também confundem energético com isotônico. Segundo a nutricionista Patricia Rebelo, os dois produtos são bem diferentes. “Os isotônicos atuam na recuperação de carboidratos e eletrólitos que nosso corpo perde durante o exercício, enquanto os energéticos promovem a desidratação do corpo”. Isso porque a cafeína também age no aumento da temperatura corporal e é diurética, faz os rins trabalharem mais.
Rebelo também explica que o carboidrato presente nos isotônicos (frutose e glicose) é mais bem utilizado pelos músculos. Já o energético é uma fonte de energia vinda da sacarose, carboidrato que não é bem tolerado durante o exercício porque causa gases em sua digestão. “Outro problema para a prática esportiva é a quantidade de cafeína dos energéticos, pois aumentam o batimento cardíaco e, portanto, são ruins para treinos aeróbicos”, adverte a nutricionista.
Como médico, Ghorayeb diz não recomendar o uso de nenhum estimulante, incluindo energéticos, para aumentar a performance atlética. “Quem usa estimulantes nas provas engana sua verdade física. O ideal é ter essa energia guardada no organismo sob a forma de carboidrato, gordura, etc., ou seja, fazer uma alimentação conveniente organizada por um nutricionista”, aconselha.
O cardiologista adverte ainda para o fato de que há muita confusão envolvendo o conceito de energia. “Energia é a força que o músculo precisa para se movimentar. Isso só se consegue com uma alimentação balanceada e o que dá energia de fato para o organismo não é a cafeína presente nos energéticos e sim o carboidrato, esclarece Ghorayeb.
Para melhorar a concentração e a disposição em geral, Vacanti recomenda uma vida em equilíbrio e inteligência emocional, com respeito às limitações individuais, como a necessidade de um sono reparador, a prática de atividade física regular e uma alimentação balanceada com grandes porções de frutas, legumes e verduras.
Falsa sensação
É comum jovens tomarem energéticos às vésperas das provas ou pessoas recorrerem a eles para trabalhar por mais tempo, adiando a chegada do sono, porém nem sempre isso dá certo. Vacanti conta que, “embora a cafeína possa dar uma falsa sensação de melhor performance, quando os indivíduos são submetidos a testes objetivos, a substância não consegue, por exemplo, aumentar a concentração ou o tempo de reação. Então, qual a vantagem de se manter acordado mais tempo para estudar se o conteúdo não será fixado?"
Além disso, Ghorayeb lembra que se a pessoa não dorme o suficiente, no dia seguinte fica até mais cansada, pois não descansou o tanto que o corpo pediu. É o tal do efeito rebote, uma compensação exigida pelo organismo. Ou a pessoa dorme mais ou ingere mais cafeína, entrando em um ciclo vicioso.
Risco de viciar
Também são motivos de preocupação envolvendo energéticos a associação com álcool, cada vez mais comum entre os jovens, e o perigo de se viciar.
Segundo o cardiologista, as bebidas têm um efeito de ordem cerebral que pode criar dependência do ponto de vista físico e psicológico. “Isso também é uma constatação fácil de perceber em consultório; atendo pessoas que relatam insegurança em fazer as coisas sem energético, que só se sentem bem após ingerir a bebida”.
Assim como o álcool e outros produtos a base de cafeína (café, chocolate, etc.), o consumo excessivo pode gerar tolerância. Vacanti explica que uma pessoa mais acostumada à ingestão de cafeína pode passar a sentir menos seus efeitos e daí passa a consumir cada vez mais produtos cafeinados como forma de compensação. Só que mesmo quem é tolerante pode ser vítima dos riscos à saúde se abusar demais da quantidade.
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