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Alimentação do diabético

Ceres Prado<br>Do UOL Ciência e Saúde

Em São Paulo

27/06/2011 00h00

A alimentação balanceada é um dos três pilares do tratamento do diabético, junto com o exercício e a medicação. Mas o que é saudável para o diabético é o que é bom para todas as pessoas, diz a nutricionista Maristela Bassi Strufaldi, da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ). Os diabéticos devem fazer uma alimentação balanceada normal, contendo carboidratos, proteínas, laticínios, frutas e vegetais. Strufaldi indica a nova recomendação americana que se baseia no prato para mostrar a quantidade que deve ser ingerida de cada tipo de alimento para uma dieta saudável (veja o prato que substituiu a pirâmide alimentar nas recomendações americanas).

Ela explica que não adianta cortar o açúcar da dieta, pois a glicemia sanguínea é alterada por todos os tipos de carboidratos, além das gorduras e das proteínas, em menor proporção. Além disso, os carboidratos são necessários para fornecer energia para as células e não podem ser eliminados da dieta.

O diabético precisa apenas prestar atenção aos carboidratos ingeridos. Num indivíduo normal, o pâncreas produz insulina na dose exata para que o carboidrato ingerido, que será digerido em glicose, entre nas células. O diabético tem problemas na produção ou utilização dessa glicose, então, precisa ficar atendo às doses de carboidratos para cada refeição. O tratamento deve ser feito para atingir certas metas de glicemia nas diferentes situações (como jejum e duas horas depois de comer). (Entenda as metas glicêmicas)

Aqueles que utilizam medicação oral ou fazem tratamento apenas com dieta e exercício devem ficar atentos para a quantidade de carboidrato recomendada por refeição (normalmente prescrita pelo nutricionista) e para a qualidade dos carboidratos, quanto mais complexos mais demorada é a transformação do carboidrato em glicose, dando tempo para o corpo conseguir encaminhar a glicose produzida para dentro das células.

Fibras e gorduras monoinsaturadas retardam a absorção no estômago do carboidrato, e, desta forma, ele demora mais para chegar à corrente sanguínea. Assim, o corpo e o medicamento têm mais tempo para agir na utilização da glicose, evitando que a glicemia dê picos após as refeições.

Os usuários de insulina podem fazer dois tipos de tratamento, com doses fixas de insulina - que exigem quantidade fixa carboidratos nas refeições, podendo alterar o alimento, mas o total de carboidratos deve ser o mesmo - ou com a adaptação da dose de insulina para a quantidade de carboidratos ingerida, chamado de contagem de carboidratos. Para estes tratamentos também é importante ingerir alimentos que não causem um aumento muito rápido da glicose sanguínea, dando tempo para a insulina agir.

Em qualquer um dos tipos de tratamento é importante procurar alimentos que ofereçam nutrientes essenciais e não só calorias e carboidratos vazios, como os doces e refrigerantes com açúcar. Os líquidos com altos índices de carboidratos como sucos de fruta coados (sem as fibras da casca e bagaço) e refrigerantes açucarados devem ser evitados, pois a absorção deles é muito rápida, não dando tempo para o corpo e a medicação agirem, causando picos glicêmicos que são prejudiciais ao tratamento.

As gorduras, além de causar ganho de peso, aumentam a glicemia em média quatro horas depois de ingeridas. Esse aumento tardio da glicemia pode confundir o diabético e atrapalhar o controle, já que não associa a ingestão do alimento há tanto tempo com o aumento glicêmico.

Na hora de escolher os alimentos, é importante saber ler o rótulo para tomar uma decisão consciente. Segundo Strufaldi, todas as informações contidas no rótulo são importantes, desde o seu valor calórico até o seu prazo de validade. O importante é saber interpretar as informações descritas.

Lista de ingredientes: a relação de ingredientes de um produto segue a ordem decrescente, isto é, o primeiro ingrediente da lista está em maior quantidade no produto e o último, em menor quantidade. Por isso, se um produto contem açúcar refinado como primeiro ou segundo ingrediente da lista, grande parte dele é composto por esse ingrediente.

Conteúdo líquido: deve indicar a quantidade total do produto contido na embalagem, podendo estar em unidade de massa (quilo) ou volume (litro). É importante para saber a quantidade de porções que existem na embalagem toda, já que a tabela nutricional refere-se normalmente a uma fração da embalagem.

Informação nutricional: nesta tabela deve constar obrigatoriamente valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans, fibra alimentar e sódio. Os demais nutrientes podem ser incluídos de acordo com a preferência do fabricante.

Os valores de referência já pré-determinados pela Anvisa de uma dieta padrão de 2.000  calorias são:
• Valor energético: 2.000 kcal / 8.400kJ;
• Carboidratos: 300g;
• Proteínas: 75g;
• Gorduras Totais: 55g;
• Gorduras Saturadas: 22g;
• Fibra Alimentar: 25g;
• Sódio: 2,4 g;
• Gorduras trans: não há consenso de valor diário

Porção: A porção é quantidade média do alimento a ser consumido por uma pessoa sadia, de forma a manter uma alimentação saudável. É fundamental saber qual o tamanho da porção a quem as informações da embalagem se referem.

Os produtos apresentam, ao lado da quantidade de cada componente, a porcentagem deles em relação a esses valores padrão. Na indicação de porção, é obrigatório o produto informar a medida caseira normalmente utilizada pelo consumidor para medir alimentos. Por exemplo: fatias, unidades, pote, xícaras, copos, colheres de sopa.

O tamanho da porção descrita na embalagem é uma sugestão de quantidade caseira que não excede o que seria considerado uma porção saudável (dentro de uma dieta de 2.000 kcal). Além disso, é a essa porção que os nutrientes impressos na embalagem se referem.

Calorias: O nutricionista pode auxiliar no cálculo das calorias que devem ser consumidas em um dia, baseado em características físicas e de hábitos de vida. Assim, ele determina o valor ideal para manter ou atingir um peso saudável, sem restringir vitaminas e minerais, que são fundamentais para manter a vitalidade, a imunidade e a sua saúde em geral.

Carboidratos: o diabético deve ficar atento à quantidade de carboidratos do alimento para encaixá-lo em seu tratamento. Entretanto, vale ressaltar que ter poucos carboidratos não é indicação de que o alimento é para diabéticos. É preciso avaliar os outros nutrientes, como fibras que retardam a absorção dos carboidratos pelo estômago e outros nutrientes essenciais, evitando os alimentos que tenham muito carboidrato, sem fornecer os nutrientes que o corpo precisa. Além disso, alguns alimentos possuem menor quantidade de carboidratos, mas contém mais gorduras totais e saturadas, que prejudicam a saúde.

Os carboidratos também são importantes quando o diabético tem uma hipoglicemia (efeito colateral do tratamento), nesse caso é preciso priorizar alimentos que façam a glicemia subir rapidamente (leite, bebidas açucaradas ou alimentos com farinhas brancas), é importante ingerir de 15 a 30 gramas de carboidratos e medir a glicemia para saber se houve melhora no quadro. (Saiba mais sobre hipoglicemia)

Proteínas: muitos diabéticos acreditam que podem comer proteínas à vontade, mas elas podem aumentar a glicemia se consumidas em grande quantidade, 30% das proteínas se transforma em glicose no sangue. Em dietas muito ricas em proteína e pobres em carboidratos este índice pode ser maior. A quantidade de proteínas dos alimentos é de especial importância para os diabéticos com complicações renais, em geral o médico indica um consumo máximo diário.

Gorduras totais: parte das gorduras totais ingeridas se transformam em glicose no sangue de três a quatro horas depois da ingestão, além de causar aumento de peso. É importante verificar a quantidade de gordura de todos os alimentos, mas é igualmente importante entender a diferença entre os tipos de gorduras.

Gordura saturada: é a pior gordura, aumenta os níveis de colesterol e o risco cardíaco, a nutricionista recomenda que não se consuma alimentos cuja porção consumida tenha mais do que três gramas desse tipo de gordura.

Gordura insaturada (mono e polinsaturada): São as gorduras benéficas para o coração, elas auxiliam na diminuição do colesterol e diminuem a velocidade de transformação do alimento em glicose. Ela está presente, por exemplo, no azeite de oliva, óleo de canola e nas oleaginosas (nozes, castanhas etc.). Vale ressaltar que elas são calóricas e não devem ser consumidas em excesso, uma colher de sobremesa de azeite na salada é suficiente para fornecer os benefícios desse tipo de gordura.

Gorduras trans: a quantidade de gordura trans deve ser zero ou próximo disso. A partir da década de 80, estudos científicos provaram que a gordura trans é um dos grandes vilões da alimentação moderna, pois além de elevar o LDL (o coleterol ruim), reduz o HDL-colesterol (o bom), favorecendo o surgimento ou o agravamento de doenças cardiovasculares, em paralelo ao aumento da gordura visceral. 

Sódio: A quantidade recomendada por dia de sódio é dois gramas e meio, o que equivale a seis gramas de sal. Um sachê de sal fornecido em restaurantes, por exemplo, possui um grama de sal que contém 400 mg de sódio, mais de 16% da quantidade de sódio recomendada para o consumo diário. O sódio aumenta a pressão arterial, favorecendo o aparecimento de doenças cardiovasculares.

Fibras: As fibras aumentam a saciedade, auxiliando no controle do peso. Além disso, elas melhoram a absorção dos carboidratos pelo estômago, prevenindo picos de glicose na corrente sanguínea, dando tempo para o corpo e o medicamento metabolizar a glicose que vai sendo liberada aos poucos na corrente sanguínea. Para os diabéticos é importante que ela esteja presente em todas as refeições para evitar que a glicemia suba rapidamente.