Topo

Tratamentos do diabetes tipo 2

Ceres Prado<br>Do UOL Ciência e Saúde

Em São Paulo

27/06/2011 00h00

No diabetes tipo 2 a produção de insulina é geralmente normal, mas o organismo não consegue utilizá-la, elevando os níveis de glicose no sangue. Sua incidência é mais comum em pessoas com mais de 40 anos, em sua maioria acima do peso ou obesos, mas vem aumentando nos indivíduos mais jovens, e está intimamente ligado aos hábitos de vida. É comum que os indivíduos com diabetes tenham peso acima do ideal, colesterol alto e pressão alta, mas existem exceções. Segundo Salles, o tipo 2 corresponde a 90% dos casos de diabetes. 

Nesse tipo de diabetes a insulina produzida pelo corpo é normal (com exceção de raros casos em que a insulina produzida é defeituosa), mas os receptores da insulina são defeituosos ou em número insuficiente, eles são os responsáveis por levar o sinal para a abertura da entrada de glicose na célula. No início da doença o pâncreas ainda consegue produzir mais insulina para superar a resistência das células, mas com o tempo a insulina passa a não ser suficiente para manter a glicose sanguínea em níveis normais, por isso o aumento da glicemia sanguínea é gradual, o paciente pode ter a doença por anos sem perceber. A glicemia de jejum considerada normal é 100 mg/dl, até 126 mg/dl ela está alterada e acima de 126mg/dl há o diagnóstico de diabetes

Não se sabe por que, mas após anos de diabetes tipo 2 o pâncreas diminui a quantidade de insulina produzida (que no início é até maior do que a de uma indivíduo normal) sendo muitas vezes necessária a aplicação de insulina para complementar a que é produzida pelo pâncreas nos estágios mais avançados da doença.

Em diabéticos obesos, a diminuição ponderal se mostrou eficiente no controle da glicemia, muitas vezes fazendo com que o paciente não necessite mais de outros tratamentos. Por isso a cirurgia de redução do estômago tem sido utilizada também para "curar" o diabetes em indivíduos obesos, mas só o fato de ter diabetes não significa que esta cirurgia seja indicada, outros fatores precisam ser avaliados pelo médico.

Os tratamentos para esse tipo de diabetes vão desde dieta e exercício (a perda de peso e os exercícios aumentam a sensibilidade à insulina), até medicamentos orais, injetáveis e insulina (também injetável). Mas a dieta (veja a relação da diabetes com a alimentação) e os exercícios (entenda o efeito do exercício no corpo do diabético) têm papel fundamental no tratamento desse diabético, mesmo que sejam utilizadas medicações e insulina. Como o diabético tipo 2 tem uma resposta mais lenta para utilizar o carboidrato que foi ingerido, a dieta deve priorizar alimentos que demorem na digestão (chamados alimentos com baixo índice glicêmico, que demoram para virar glicose), de preferência com fibras que retardam o aumento da glicemia.

Este tipo de diabetes não é comum em crianças e jovens, mas, com o aumento da obesidade infantil e juvenil ela está passando a ser diagnosticada em indivíduos cada vez mais novos. Como os sintomas são leves, é recomendável que quem possui histórico familiar de diabetes tipo 2, quem tem mais de 40 anos e quem está acima do peso faça exames preventivos pelo menos uma vez por ano.

Os medicamentos orais para diabetes tipo 2 são classificados pela sua classe terapêutica (remédios que possuem características semelhantes de ação). O médico ira decidir qual medicamento ou combinação de medicamentos pelo resultado dos exames de glicemia de jejum e hemoglobina glicada, além dos hábitos de vida. No caso do tratamento causar muitas hipoglicemias (entenda as hipoglicemias) o médico pode alterar a medicação para melhorar a qualidade de vida do diabético.

Sulfoniuréias: esse tipo de medicamento aumenta secreção de insulina pelo pâncreas. Elas podem causar hipoglicemias pela maior quantidade de insulina circulante no corpo. São exemplos desse tipo de medicamento: glimepirida, glicasida, glipsida e glibenclamida.

Biguanidas: aumentam  a sensibilidade à insulina no músculo e nas células de gordura. Os efeitos colaterais mais comuns são o desconforto gástrico e a diarreia, que é proporcional à dose ingerida e costuma diminuir com a continuidade do tratamento. Em pacientes com insuficiência renal, pode causar acidose lática (aumento do ácido lático no corpo). Um exemplo desse tipo de medicamento é a metformina.

Inibidores da alfa-glicosidade: este tipo de medicamento age retardando a absorção dos carboidratos pelo intestino, facilitando o controle da glicemia após a ingestão de alimentos. Os efeitos colaterais mais comuns são diarreia, dor abdominal e flatulência. Eles devem ser tomados no início da refeição e dose deve ser lentamente titulada (aumentando aos poucos) para reduzir os efeitos adversos. Um exemplo desse tipo de medicamento é a acarbose.

Tiazolidinedionas: aumentam a sensibilidade à insulina. Tem como efeitos colaterais a retenção hídrica (inchaço), ganho de peso podem aumentar o risco de fraturas e piorar a Insuficiência cardíaca. Um exemplo desse tipo de medicamento é a rosiglitazona.

Incretinomiméticos (semelhante ao hormônio GLP 1): estes medicamentos imitam a ação do GLP 1 que estimula a produção de insulina, inibe a secreção de glucagon e aumenta a saciedade, mas não são destruídos pela DPP4 como o GLP 1 do corpo. Eles têm a  vantagem de estimular a produção de insulina quando a pessoa se alimenta, reduzindo a secreção do glucagon (hormônio que age ao inverso da insulina, ele eleva a glicose no sangue) Essas medicações tem como vantagem não apresentarem maior risco de hipoglicemia e redução de peso. Pode causar mal estar gastrointestinal, pois deixa mais lento o esvaziamento gástrico, por isso também diminui o apetite além da atuação na saciedade, auxiliando a perda de peso. As medicações desse tipo já no mercado nacional são o exenatide e liraglutida

Inibidores da DPP4 (glipitinas): a enzima DPP-IV inativa o GLP-1  endógeno (produzido pelo corpo) que é degradado em questão de minutos. A inibição dessa enzima aumenta a vida média do GLP-1 para algumas horas, estendendo, assim, sua ação fisiológica. O GLP 1 estimula a produção de insulina, inibe a secreção de glucagon e aumenta a saciedade. Esses medicamentos tem a vantagem não apresentarem como efeito colateral os distúrbios gastrointestinais que os incretinomiméticos, pois reduzem menos a velocidade do esvaziamento gástrico e não causam hipoglicemia, mas possuem pouco efeito no peso corporal. Exemplo desse tipo de medicamento são a sitaglipitina, a vildagliptina, a saxaglipitina e recentente foi aprovada linaglipitina.

Outros secretagogos de Insulina:  esses medicamentos aumentam a secreção da insulina, podem causar hipoglicemia, pois a secreção de insulina é aumentada mesmo fora do momento da alimentação. Eles estimulam a secreção pancreática de insulina por um período de uma ou duas horas. Um exemplo desse tipo de medicamento é a repaglinida

Insulinas: As insulinas utilizadas no tratamento do diabetes tipo 2 são as mesmas do tratamento do diabético tipo 1 (veja como funciona o tratamento insulínico), mas elas podem ser combinadas com a medicação oral pela prescrição do médico.

Fontes: Ministério da Saúde, International Diabetes Federation (IDF), Denise Reis Franco (endocrinologista diretora da Associação de Diabetes Juvenil - ADJ), Maristela Bassi (nutricionista da ADJ), Saulo Cavalcanti (endocrinologista presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes - SBD), João Eduardo Nunes Salles (endocrinologista e professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo), American Diabetes Association, Associação Nacional de Assistência ao Diabético (Anad)