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Teste com célula embrionária em humanos no Brasil ainda pode demorar, segundo Mayana Zatz

Do UOL

Em São Paulo

14/02/2012 07h00

Desde que o STF (Supremo Tribunal Federal) votou pela continuidade das pesquisas com células-tronco de embriões, em 2008, muita gente alimentou a esperança de obter uma cura para lesões e doenças do sistema nervoso, como Parkinson. Mas ainda não é possível prever quando essas células serão testadas em humanos no país, afirmou a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e professora da USP (Universidade de São Paulo), em sabatina promovida pelo UOL e pela Folha nesta segunda-feira (13).

Assista à integra da sabatina UOL/Folha com a geneticista Mayana Zatz

Criadora da Associação Brasileira de Distrofia Muscular, em 1981, Zatz teve atuação fundamental para que os estudos com embriões descartados por clínicas de fertilização fossem permitidos no país. “A aproximação com os pacientes é o que me motivou a brigar pela aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias”, comentou no evento. Segundo ela, o objetivo era ter certeza de que seria possível fazer no Brasil o que estava sendo feito em outros países. "Nós sempre deixamos claro que nossa briga era pela liberdade de pesquisa, e nunca prometemos uma cura", disse.

Em resposta aos internautas que enviaram perguntas sobre as perspectivas de pesquisas com células-tronco embrionárias em humanos, ela foi realista: “Não podemos definir uma data e não estamos atrás de cobaias”, respondeu. Ela esclareceu que ainda é preciso assegurar a segurança das terapias em experimentos com animais, para depois realizar estudos com número muito pequeno de pacientes em estágios mais graves, o que ainda pode demorar.

O grande desafio do uso de células-tronco embrionárias é evitar a formação de tumores, já que é difícil controlar o processo de diferenciação celular. É por isso que a cientista condena a existência de clínicas que oferecem esse tipo de tratamento clandestinamente, como ocorre na China, e ainda por cima a preços altos. “Se é pesquisa não pode ser cobrado, então se alguém estiver cobrando, é preciso tomar cuidado”, alertou. Ela também foi crítica em relação a dermatologistas que oferecem o tratamento conter o envelhecimento da pele: disse que o campo é promissor, mas que ainda é arriscado tentar esse tipo de procedimento pela falta de controle sobre as células.

A pesquisadora também contou um pouco dos dilemas éticos experimentados no trabalho com aconselhamento genético no Centro de Estudos do Genoma Humano. Ela relatou, por exemplo, que aproximadamente 10% dos casos atendidos envolvem falsa paternidade e em muitos casos é preciso contar a verdade aos pacientes.

Segredos dos centenários

Zatz também falou sobre uma pesquisa sobre envelhecimento que está em fase inicial no Centro de Estudos do Genoma Humano. Os pesquisadores estão recrutando brasileiros com mais de 80 anos que sejam saudáveis, para rastrear os fatores genéticos que explicam o fato de certas pessoas chegarem aos 100 com saúde e lucidez.

Recentemente, pesquisadores de Boston, nos EUA, sequenciaram os genomas de dois “supercentenários”, um homem e uma mulher que passaram dos 110 anos. Ambos apresentaram genes associados a diversas doenças, o que reforça a hipótese de que existam outros capazes de anular seu efeito. “Queremos ir atrás desses genes protetores”, conta a cientista.

A cientista conta que mais de 400 idosos já foram inscritos – a pesquisa deve contar com aproximadamente 1.000 pessoas. Todos eles terão seus genomas sequenciados e serão submetidos a uma ressonância magnética. Os interessados em participar do estudo devem escrever para 80mais@gmail.com.