Topo

Pesquisas destacam importância de espécies individuais para a conservação de comunidades ecológicas

Do UOL

Em São Paulo

27/03/2012 12h05

A fim de investigar a organização de interações entre espécies em comunidades ecológicas, estudos recentes têm utilizado diferentes estratégias que vão da modelagem matemática a estudos de campo comparativos ou experimentais. Independentemente da abordagem utilizada, um aspecto comum sobressai nesses estudos: a importância crucial de determinadas espécies individuais para a conservação da comunidade e para a manutenção funcional dos ecossistemas.

Essa tendência nos estudos sobre redes ecológicas foi destacada em artigo publicado na edição atual da revista Science por Thomas Lewinsohn, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Luciano Cagnolo, do Instituto Multidisciplinar de Biologia Vegetal da Universidade Nacional de Córdoba (Argentina).

O artigo foi publicado na seção Perspectives da revista, na qual especialistas mundialmente consagrados em suas áreas comentam e avaliam avanços recentes em um tema específico.

Lewinsohn e Cagnolo foram convidados para comentar três artigos publicados entre fevereiro e março na Science, que apresentavam diferentes maneiras de investigar a organização de interações entre espécies em comunidades ecológicas.

O artigo discute criticamente as diferentes abordagens utilizadas nos três estudos e examina a aplicabilidade desses trabalhos para avaliar a importância de espécies para a manutenção funcional de ecossistemas, além de destacar prioridades para pesquisa futura na área de redes ecológicas.

De acordo com Lewinsohn, os três estudos usaram abordagens bem diferentes entre si. Um deles empregou modelagem matemática, com o uso de dados complexos de diferentes sistemas ecológicos.

Outros dois foram estudos realizados em campo: um deles esmiuçou as interações entre os diversos componentes biológicos de um agroecossistema na Inglaterra e o outro utilizou como experimento natural uma série de morretes localizados no pampa ao sul de Buenos Aires, na Argentina, analisando como as características desses morretes estavam ligadas a mudanças na organização de redes ecológicas.

Diferentemente dos estudos que, com o objetivo de orientar as práticas de conservação, elegem uma determinada espécie por sua raridade ou vulnerabilidade, esses trabalhos procuram determinar quais espécies são a “pedra de toque” de toda a comunidade: isto é, caso sejam suprimidas, são capazes de “derrubar” a funcionalidade de todo o sistema ecológico.

O trabalho que descrevia um experimento com um agrossistema na Inglaterra, por exemplo, demonstrou que determinadas espécies de plantas tinham um papel crítico na estabilidade do sistema.

Segundo Lewinsohn quando aquelas espécies de plantas eram retiradas, o sistema todo era ‘derrubado’, com um efeito dominó que atingia parasitas e predadores. Assim, o que é fundamental não é a importância de cada espécie de planta em si, mas sua importância em relação a todas as espécies que estão relacionadas a ela.

Sistemas e comportamentos

Para Lewinsohn, a área de redes ecológicas, que passou a crescer de forma acelerada há cerca de dez anos, envolve, no estudo sobre a organização e interações em comunidades ecológicas, a aplicação da teoria de redes completas, oriunda da matemática e da física.

A análise dos pesquisadores indica que está chegando ao fim a primeira fase das pesquisas em redes ecológicas que tem caráter exploratório. A tendência é entrar em uma nova fase que trará estudos que permitirão entender fenômenos importantes em ecologia, impulsionando a capacidade de fazer previsões.

A capacidade preditiva, segundo o professor do Instituto de Biologia da Unicamp, é especialmente crucial para os estudos ecológicos.

Ele aponta que compreender como diferentes sistemas ecológicos se comportam diante das mudanças globais em curso no clima, na conversão do uso do solo ou na circulação de espécies invasoras exóticas é de extrema importância para os estudiosos.

Ao mesmo tempo, eles também querem usar os conhecimentos para prever maneiras de mitigar os efeitos dessas mudanças, preservando as propriedades funcionais dos ecossistemas.

O artigo Keystones in a Tangled Bank (doi:10.1126/science.1220138), de Thomas Lewinsohn e Luciano Cagnolo, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org/content/335/6075/1449.summary.

(Com Agência Fapesp)