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Astrônomos explicam comportamento estranho de nebulosa planetária

Do UOL, em São Paulo

09/11/2012 12h46

Astrônomos do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) conseguiram desvendar o mistério que cercava as nebulosas planetárias, segundo estudo publicado nesta sexta-feira (9) na prestigiada revista Science. Esse tipo de nebulosa não é formada por planetas e trata-se, na verdade, de uma concha brilhante de gás que fica em volta de anãs brancas (estrelas como o nosso Sol, mas que já estão na fase final de suas vidas).

Para entender o que controla a aparência espetacular e simétrica do material que é lançado no cosmos pelas nebulosas planetárias, os pesquisadores passaram a observar a Fleming 1, que fica na constelação austral de Centauro e possui  jatos extraordinariamente simétricos e entrelaçados em padrões curvos e nodosos. A equipe examinou a radiação emitida e descobriu que a nebulosa tem provavelmente duas anãs brancas no seu centro, orbitando uma em torno da outra a cada 1,2 dia.

"A origem das belas e complicadas formas da Fleming 1, e objetos semelhantes, tem gerado muito controvérsia ao longo de décadas. Os astrônomos já tinham sugerido uma estrela binária, mas pensou-se sempre que, sendo esse o caso, o par estaria bem separado, com um período orbital de dezenas de anos ou ainda mais longo", diz Henri Boffin, líder da equipe que fez as observações com o telescópio VLT, no Chile.

"Graças aos nossos modelos [de computador] e observações, que nos permitiram examinar este incomum sistema com muito detalhe e investigar até mesmo o interior do coração da nebulosa, descobrimos que as estrelas do par se encontram vários milhares de vezes mais próximas entre si", completa.

Jatos simétricos

Quando uma estrela com massa de até oito vezes maior que a do Sol está próxima do final da sua vida, ela ejeta suas camadas exteriores e, assim, passa a perder boa parte da sua massa. Ou seja, o núcleo quente da estrela emite material intensamente e faz com que o casulo de gás se desloque para o exterior, brilhando fortemente sob a forma de nebulosa planetária.

Embora as estrelas sejam esféricas, muitas das nebulosas planetárias são complexas, com nódulos, filamentos e jatos intensos de material que formam padrões intrincados. Algumas das nebulosas planetárias mais espetaculares, como é o caso da Fleming 1, mostram estruturas simétricas com pontas – isso dá a sensação de que o material é expelido a partir dos polos da região central.

Mas o novo estudo demonstra que estes padrões na Fleming 1 são o resultado da interação próxima entre o par de estrelas. À medida que a dupla está em órbitas muito próximas, elas passam a interagir com o disco formado pela matéria expelida por uma e sugada pela outra, o que faz com que o objeto circular se comporte como um pião rodando de forma desengonçada. Esse movimento afeta o comportamento do material ao seu redor, provocando os padrões simétricos em torno de nebulosas planetárias.

“Este é o estudo mais completo feito de uma estrela central binária, onde as simulações predizem corretamente qual a forma da nebulosa circundante e de um modo verdadeiramente espetacular”, explica o coautor Brent Miszalski, pesquisador da África do Sul.