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Expedição acha 'continente perdido' a 1.500 km do litoral do Brasil

Vinícius Lisboa

Da Agência Brasil, no Rio de Janeiro

06/05/2013 16h27

Uma expedição do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), com a cooperação da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar (Jamstec), deixou pesquisadores mais perto de concluírem que a Elevação do Alto Rio Grande, região mais rasa localizada a cerca de 1.500 quilômetro da costa Sudeste do país, é uma parte da Plataforma Continental Brasileira que se desprendeu e afundou com o movimento das placas tectônicas.

O anúncio foi feita nesta segunda-feira (6) no Píer Mauá, no Rio de Janeiro, onde representantes da Jamstec, da Embaixada do Japão no Brasil e do governo brasileiro se reuniram  para celebrar a cooperação entre os dois países e para dar início à exposição A Nova Fronteira do Conhecimento.

As novas conclusões foram obtidas a partir do apoio do submergível japonês Shinkai 6500, capaz de chegar a 6.500 metros de profundidade e que foi usado para coletar material da região do Alto Rio Grande. Por meio de dragagem, pesquisadores brasileiros já tinham encontrado granito na região e, agora, confirmaram a presença da rocha com os mergulhos possibilitados pelo veículo. Menos denso que as rochas normalmente do fundo do oceano, o granito está mais associado aos continentes. O Pão de Açúcar, por exemplo, é feito de granito.

"O fato de haver um continente naquela região nos abre outras possibilidades. Até que ponto [o achado] foi uma extensão de São Paulo que se desgarrou e ficou para trás? Isso nos leva a pensar no que fazer para a região. Não só conhecer, mas requerer essa área", disse Roberto Ventura, diretor de Geologia e Recursos Minerais do CPRM. Ele conta que o Alto Rio Grande tem sido chamado de "Atlântida" no órgão em referência ao mitológico continente que teria afundado no oceano.

O tamanho do Alto Rio Grande ainda não foi definido com clareza, mas Ventura estima que seja comparável ao estado de São Paulo. O diretor conta que países como Rússia e França já reivindicam áreas no Atlântico Sul, onde a China também realiza pesquisas, o que torna o estudo estratégico para o Brasil, que tem a maior costa do oceano. A longo prazo, segundo o geólogo, a região pode se tornar um ponto de mineração submarina, com a perspectiva de extração de ferro, manganês e cobalto.

O Shinkai 6500 custou cerca de US$ 130 milhões ao governo japonês e faz pesquisas em águas profundas desde 1991. Também foram investidos US$ 100 milhões no navio Yokosuka, para adequar a embarcação para transportar o submergível. Hiroshi Kitazato, pesquisador japonês que coordenou os trabalhos da Jamstec na expedição, destacou o interesse do país asiático em pesquisar o oceano: "Essa é a região que menos foi explorada no mundo inteiro. Então, acreditamos que é muito importante pesquisá-la. Antes, o Shinkai fez expedições mais próximas ao Japão, no Índico e no Pacífico".

Roberto Ventura conta que um submergível como o Shinkai e um navio como o Yokosuka são tecnologias que "não podem ser compradas em prateleiras", pois precisam ser desenvolvidas e operadas por pessoal capacitado, condições de que o Brasil ainda não dispõe. O pesquisador criticou a burocracia a que estão submetidas pesquisas científicas, que precisam de importações de peças. "O nosso amadurecimento precisa ser na questão burocrática também. Para a gente competir, do ponto de vista tecnológico, em ciência, a gente precisa ser muito mais ágil", destacou.

O pesquisador do CPRM Eugênio Frazão esteve em um dos sete mergulhos em grande profundidade. Ele levou cerca de uma hora e meia para atingir a profundidade de 4.200 metros - o mergulho durou cerca de oito horas. Ele destaca que, além de rochas continentais, foram encontradas espécies não conhecidas em situações muito adversas e até um coral com caraterísticas específicas de águas profundas.

A expedição Iatá-Piuna (navegando em águas profundas e escuras, em tupi-guarani) teve início em 13 de abril, na Cidade do Cabo, na África do Sul e percorreu, no primeiro trecho, a Elevação do Rio Grande e a Cordilheira de São Paulo. No segundo trecho, será explorado o Platô de São Paulo. Seis pesquisadores brasileiros acompanham o navio que depois de pesquisar o Atlântico Sul, segue para o Mar do Caribe.