Topo

Famoso entre esportistas, 'whey protein' ajuda a controlar diabetes

O soro do leite, conhecido pelos esportistas como "whey protein", pode ser um instrumento importante no controle do diabetes, além de ajudar no crescimento da massa muscular, segundo pesquisa da Unicamp - Agência Fapesp
O soro do leite, conhecido pelos esportistas como "whey protein", pode ser um instrumento importante no controle do diabetes, além de ajudar no crescimento da massa muscular, segundo pesquisa da Unicamp Imagem: Agência Fapesp

Da Agência Fapesp

15/08/2013 12h08Atualizada em 20/08/2013 20h32

As proteínas do soro do leite (PSLs) são um suplemento nutricional bastante familiar aos esportistas. Chamadas genericamente com o termo em inglês de whey proteins, elas são vendidas com diferentes marcas e apresentações.

Graças à riqueza em aminoácidos de cadeia lateral ramificada  - os aminoácidos essenciais que os seres humanos não conseguem sintetizar -, as PSLs promovem o crescimento e estimulam a produção de massa muscular. Tal propriedade também faz delas um complemento nutricional para pessoas em condições patológicas de depleção da musculatura.

As PSLs têm também funções anti-hipertensiva e antiulcerosa, que já eram conhecidas. Mas, com novas pesquisas em ratos, uma equipe da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) descobriu mais duas propriedades benéficas quando as proteínas são hidrolisadas por meio de enzimas: redução da hiperglicemia e de proteção celular e minoração do estresse.

As descobertas foram feitas no Laboratório de Fontes Proteicas da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, coordenadas por Jaime Amaya Farfan - a equipe publicou, neste ano, dois artigos na revista Food Chemistry, e um terceiro deve sair também na PLoS One. Agora, os pesquisadores pretendem estudar os efeitos nos humanos das PSLHs, que  acionam o transporte da glicose e a sua utilização, da mesma forma que o exercício físico.

Falta de açúcar

A hiperglicemia é caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue, da ordem de mais de 100 miligramas por decilitro. "No diabético, a taxa de glicose no sangue não baixa com o metabolismo, geralmente porque ou falta insulina ou o transportador principal da glicose não funciona", explicou Farfan. "As PSLHs, então, propiciam uma via alternativa para a retirada da glicose da circulação e sua introdução nas células, para gerar energia ou ser armazenada na forma de glicogênio [polímero estocado no fígado e nos músculos]."

Essa 'via alternativa' é a ativação do transportador de glicose-4 (GLUT-4), que "repousam em vesículas intracelulares". A ativação é típica dos exercícios físicos, mas o experimento mostrou que, com a ingestão das PSLHs, pode ocorrer também em condições de sedentariedade.

"Sem a intenção de desestimular o exercício, essas proteínas se projetam como possível alternativa para o manejo da hiperglicemia em indivíduos que, por sua condição de saúde, estão impedidos de praticar atividades físicas, pois o efeito se mostra tanto substitutivo quanto aditivo ao produzido pelo exercício."

Nos experimentos, o grupo constatou que os ratos alimentados com caseína (proteína insolúvel do leite, que dá origem ao soro) ou PSLs também ativaram uma certa quantidade de GLUT-4. Mas aqueles alimentados exclusivamente com PSLHs mobilizaram quase o dobro.

Atividade de proteção celular

Quanto à proteção celular, que pode estar associada ao efeito anti-hiperglicêmico, ela se deve ao estímulo que as proteínas de soro de leite, e mais ainda as proteínas de soro de leite hidrolisadas, produzem sobre a concentração das proteínas endógenas de proteção, as chamadas HSPs (heat shock proteins).

Essas proteínas compõem um mecanismo natural de defesa, capaz de proteger e reparar danos causados às estruturas de natureza proteica: elas dão maior tolerância e resistência às celulas contra uma série de agentes agressores, garantindo a sobrevivência durante períodos de estresse.

Os pesquisadores constataram que os animais mantidos durante com dieta exclusiva de proteínas de soro de leite hidrolisadas conservavam todos os parâmetros normais, menos em relação a uma enzima, que se apresentava diminuída: a glutaminase.

Como ela é a principal fonte de energia para os intestinos, os pesquisadores passaram a monitorar os hormônios relacionados ao estresse e descobriram que a redução da substância era um bom indício.

"Era de se esperar que animais submetidos a estresse do exercício físico tivessem a glutaminase aumentada, por causa da demanda dos intestinos. O fato de a glutaminase diminuir sugeria que os ratos alimentados com PSLHs estavam menos estressados pelos exercícios exaustivos do que os outros grupos", disse Farfan. "O exercício produz uma certa quantidade de HSPs e a dieta com as proteínas hidrolisadas também. Quando se combinam as duas coisas, os efeitos se complementam. Assim, encontramos uma explicação para o efeito antiestresse."

A proteção das PSLHs explica o efeito antiestresse em animais exercitados até a exaustão, que apresentaram rendimento no trabalho físico muito superior aos alimentados com caseína ou mesmo com PSL. Ao mesmo tempo, a ativação dos GLUT-4 explica seu efeito poupador do glicogênio muscular nos animais levados à exaustão e de estímulo à síntese e acúmulo de glicogênio nos sedentários.