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Bactéria ativa neurônios para relaxar defesa do corpo durante infecção

Do UOL, em São Paulo

24/08/2013 06h00

Um estudo do Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos, promete mudar a forma como médicos tratam uma grande variedade de infecções conhecidas por seu caráter doloroso e invasivo, como meningite, cáries dentárias e problemas urinários e estomacais.

O grupo descobriu que a dor causada nesses quadros de infecção não se dá pela resposta imunológica do corpo, como todos acreditavam, mas, sim, devido à ação da própria bactéria que gera a infecção. A dor é intensificada ainda mais quando a bactéria "conversa" com o sistema nervoso do corpo: quando os "neurônios da dor" percebem sua presença, eles "relaxam" o sistema imunológico, permitindo mais atuação do micro-organismo.

O neuroimunologista Isaac Chiu, que coordenou a pesquisa, ficou surpreso com a revelação, pois não imaginava que o corpo não acionava o sistema imunológico na chegada das bactérias. Mas, segundo ele, isso ocorre como uma tentativa de preservar os tecidos cutâneos envolvidos no quadro de infecção, minimizando as áreas de inflamação. É como se o corpo deixasse de lutar para guardar forças para a longa batalha que está em curso.

 "Se pudermos bloquear a dor nos tecidos infectados e também prevenir a ação dos neurônios sensíveis à ela [que alertam o corpo da presença da bactéria, favorecendo sua ação], poderemos tratar infecções bacterianas de forma muito mais eficiente", explica. 

No estudo divulgado nesta semana na revista Nature,  Chiu afirma que a ideia surgiu durante o cultivo de neurônios sensíveis a dor e células do sistema imunológico em laboratório. "Surpreendentemente notamos que os neurônios respondiam de imediato à presença de bactérias", diz.

Para chegar ao resultado, a equipe utilizou camundongos com infecções cutâneas estafilocócicas e analisaram fatores como dor, inchaço dos tecidos, número de células imunitárias e número de bactérias vivas nas cobaias. Eles 

Assim, descobriram que o nível de dor tinha relação direta com o número de bactérias presentes na infecção, com seu pico no inchaço dos tecidos - que é causado pela ação da bactéria e não por uma resposta do corpo no local inflamado. Por isso, diz Chiu, a descoberta indica um avanço no tratamento de infecções.