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Quantos sabores podemos sentir? Um novo gosto explica amor por carboidrato

Aquela vontade doida de comer hambúrguer pode ter a ver com receptor gustativo - iStock
Aquela vontade doida de comer hambúrguer pode ter a ver com receptor gustativo Imagem: iStock

De VivaBem, em São Paulo

07/12/2022 04h00

Se você já comeu alimentos doces, amargos, azedos, salgados... e umami, pode sentir-se um vencedor: é um ser humano que já experimentou todos os cinco sabores que o nosso organismo consegue detectar.

Cinco sabores? Sim, provavelmente você já sentiu o gosto umami, mas não tem ideia. Em japonês, este termo significa algo muito saboroso ou delicioso. O umami define o que sentimos ao experimentar o sabor dos glutamatos, aminoácidos presentes nos alimentos ricos em proteínas.

Na prática, o umami é reconhecido por ser duradouro, ficando na boca por mais tempo do que os demais sabores.

Esta substância pode ser encontrada em quase todos os pratos da culinária japonesa, e em vários alimentos e temperos que ocupam a mesa do brasileiro, como o queijo parmesão, os peixes, os frutos do mar, o tomate, a ervilha, os cogumelos, o molho shoyu, algumas carnes, o caldo de galinha e até no leite materno.

Isto acontece porque, antes mesmo de nascermos, recebemos informações sobre os sabores da dieta de nossas mães, transmitidas através do líquido amniótico.

Nos últimos anos, estudos revelaram que o corpo humano possui um receptor gustativo exclusivo para detectar o umami, indicando que ele é mesmo um sabor. Esse receptor garante que consumamos a quantidade adequada de proteína para o bom funcionamento do organismo.

Ao comer ou beber algo são acionados de 7.500 a 12.000 botões gustativos, que ficam na boca. O que parece simples e automático é identificado pela língua, que percebe os gostos doce, azedo, salgado, amargo e umami, e transmite as informações para o cérebro por meio dos nervos gustativos.

Um estudo divulgado em 2016 pela revista Chemical Senses, da Universidade de Oxford, no entanto, aponta ainda que existe um sexto gosto, ligado aos carboidratos. Ele é descrito inclusive com a palavra inglesa starchy, que significa algo como gosto de amido.

De acordo com Juyun Lim, da Universidade Estadual de Oregon e uma das autoras do estudo, os carboidratos complexos (ligações de moléculas de açúcar que garantem energia) estão presentes em todas as culturas, mas os cientistas ignoravam que pudéssemos sentir seu sabor. Achavam que o gosto era identificado como doce, já que nossa saliva quebra os alimentos com amido em pequenas cadeias de moléculas de açúcar.

Eles deram diferentes soluções de carboidratos longos e curtos a voluntários, que identificaram na amostra o gosto de amido —e não o doce. Isso aconteceu inclusive quando receberam composto que bloqueava os receptores da boca que detectam substâncias adocicadas.

Asiáticos disseram que era parecido com arroz, enquanto caucasianos afirmaram ser similar a pão ou macarrão. É como comer farinha
Juyun Lim

O estudo indica que podemos sentir o gosto do carboidrato antes dele ser quebrado em moléculas de açúcar e soma-se a outros que apontam que nossos receptores gustativos vão muito além dos já conhecidos.

Mas, antes de qualquer novo gosto ser oficializado, ele tem que passar por rigorosos critérios da comunidade científica. Os gostos precisam ser reconhecíveis, ter seus próprios receptores gustativos e ativar algum tipo de resposta psicológica. Isso ainda não aconteceu. Outro sabor recentemente identificado, mas não oficializado, foi o kokumi, que seria responsável por deixar alimentos com pouca gordura mais gostosos.

Os gostos de cálcio, de bebidas gaseificadas, de gordura, de metal no sangue e de aminoácidos também são investigados por cientistas.

Que cheiro é esse?

ciencia - Reprodução/ YouTube/ Guinness World Records - Reprodução/ YouTube/ Guinness World Records
O ser humano é capaz de reconhecer milhares de odores diferentes
Imagem: Reprodução/ YouTube/ Guinness World Records

Quanto aos odores, podemos senti-los aos milhares. Odores são moléculas pequenas que evaporam facilmente e são carregadas pelo ar. Quando inspiramos, essas moléculas entram no nosso nariz e grudam no muco das paredes do sistema nasal. Essas paredes estão cobertas com células receptoras do olfato, conectadas diretamente ao cérebro. Elas enviam sinais para o órgão, detectando o cheiro que sentimos.

O curioso é que, dependendo da cultura, das crenças, da experiência e até mesmo da genética, as pessoas podem ter reações diferentes a um mesmo cheiro. Poucos cheiros são bons ou ruins para todo mundo.

Olfato ajuda no sabor

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Crianças têm o olfato em pleno funcionamento
Imagem: Getty Images

Nosso olfato é fundamental para a nossa sobrevivência. É através dele que aprendemos quais alimentos são seguros para ser comidos.

Mas, enquanto crianças têm o sentido em pleno funcionamento, para aprenderem, sobre cheiros agradáveis e odores estranhos, os idosos têm o olfato afetado pelo uso contínuo através dos anos. Neles, o sentido não funciona muito bem, e existem dificuldades em distinguir cheiros diferentes.

O mau funcionamento do olfato pode afetar o paladar e até mesmo provocar a desnutrição em idosos.

Fontes: Leslie J. Stein, pesquisador do Monell Chemical Senses Center e diretor de comunicação do instituto.