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Documentário do Inpe quer comover público sobre perigos de raios

Ingrid Tavares

Do UOL, em São Paulo

23/09/2013 06h00

Julio Cezar diz hoje sentir medo e não sair de casa quando começa a chover. A angústia apareceu em meados de 2011 depois de o policial do Bope (Batalhão de Operações Especiais) sofrer um grave acidente na rodovia Dutra, a caminho de casa em Taubaté, no interior de São Paulo.

A causa não foi a pista molhada pelo mau tempo nem o desrespeito aos limites de velocidade, mas, sim, um raio que atingiu sua cabeça. Só não morreu na hora porque trafegava com capacete, que amorteceu o impacto da descarga elétrica, como descobriu uma semana mais tarde, já internado no hospital.

O Brasil é o "campeão mundial" dos raios, com mais de 50 milhões de incidências por ano devido à localização geográfica: somos a maior porção de terra dentro da zona tropical terrestre, cujo clima mais quente favorece a formação de tempestades.

Ficar próximo de um meio de transporte ou de um veículo aberto, como a motocicleta de Julio Cezar, é a segunda maior causa de mortes por raios no país, perdendo apenas para a agropecuária, segundo pesquisa do Elat, o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Uma compilação do Instituto, feita a partir de dados do Ministério da Saúde e da Defesa Civil, aponta 1.601 vítimas no país entre 2000 e 2012. Mas o que mais impressionou um jornalista científica do Elat foi descobrir que oito em cada dez (80%) dessas mortes poderiam ser evitadas com informações simples.

"Por mais bonitos que sejam, eles representam um forte perigo. Queria mostrar isso, mas de um jeito que pudesse impressionar e, ao mesmo tempo, envolver as pessoas", explica Iara Cardoso sobre a direção e o roteiro de Fragmentos de Paixão.

Com produção do Inpe, o primeiro documentário nacional sobre o tema tem estreia prevista no próximo dia 11 de outubro no Rio de Janeiro e São Paulo.

"O intuito do documentário é de divulgação científica, mas sem ficar restrito só a um público. A intenção sempre foi trazer esse conceito de filme com uma narrativa mais poética, desse olhar da ficção para a realidade para comover as pessoas sobre o tema."

Seis histórias em uma

A ideia do documentário surgiu há três anos, quando Iara voltou de sua temporada nos Estados Unidos trazendo diplomas dos cursos de telejornalismo e cinema na bagagem. Para a jornalista, o melhor jeito de alertar sobre os perigos das descargas elétricas era envolver as pessoas com uma boa história - ou melhor, seis.

"Fiquei me perguntado o que intrigava as pessoas quando comecei a trabalhar no roteiro. E entrei com esse conceito do efeito borboleta, de um instante alterar todo o resto, como uma reação em cadeia. E o raio é muito impactante nesse sentido, é uma fração de segundo que pode influenciar a vida de uma pessoa."

Iara pesquisou, então, casos de 50 pessoas no ano passado até chegar aos seis melhores representantes. São as vidas - e as tragédias - desses personagens que sustentam o enredo, fazendo ora um passeio histórico, como o primeiro raio fotografado no Brasil em 1885, no Rio de Janeiro; ora mítico, como a crença de povos indígenas sobre o fenômeno.

O viés científico fica a cargo do geofísico Osmar Pinto Jr., coordenador do Elat, que percorre quatro Estados do Brasil em busca dessas histórias.