Topo

Macaco brasileiro "conversa" e até espera hora de "falar", revela pesquisa

Do UOL, em São Paulo

28/10/2013 06h00

Uma pesquisa conduzida pela Universidade Princeton, nos Estados Unidos, investigou hábitos de macacos da espécie sagui-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus) e concluiu que esses animais são capazes de "conversar" entre si por até meia hora, sem interromper uns aos outros e inclusive esperando sua hora de "falar". O estudo foi  publicado na mais recente edição da revista científica Current Biology

O estudo afirma que os macacos claramente esperam a hora de "falar" quando um outro animal da espécie está "discursando" e se envolvem em longas trocas de ruídos que lembram diálogos.

Essa capacidade de "papear" educadamente foi identificada após observação de pares desses primatas —cuja espécie é nativa do Brasil— confinados em um mesmo ambiente.

Para os pesquisadores, é muito possível que os macacos achem relaxante o padrão sonoro produzido por esse hábito, principalmente quando separados de outros membros do grupo por grandes distâncias na selva.

A pesquisa acrescenta que o diálogo estabelecido entre os saguis-de-tufos-brancos também ocorre quando animais de outros bandos tentam travar algum tipo de comunicação.

A capacidade de conversação diferencia esses macacos de outros primatas maiores, como os chimpanzés, que raramente produzem sons com o intuito de comunicação e tampouco esperam a vez de o fazer quando outro animal está produzido ruídos.

Evolução convergente

Envolvido diretamente no estudo de Princeton, o pesquisador brasileiro Daniel Takahashi conta que a ideia de analisar o hábito da espécie surgiu a partir da curiosidade sobre a origem da fala humana. "Queríamos entender como a comunicação vocal humana surgiu do ponto de vista evolutivo. Em particular, verificar se os saguis eram capazes de cooperar e coordenar suas vocalizações", diz. "O melhor entendimento dessas habilidades não só ajuda na compreensão da linguagem humana, como também auxilia na compreensão do surgimento de patologias".

Takahashi acredita que a capacidade de "conversar" confere ao sagui-de-tufos-brancos uma semelhança única com os seres humanos, mas originada de forma distinta. "Há duas características que distinguem o ser humano e o sagui de outros primatas: ambos são muito vocais e seus pais os criam com a ajuda de outros membros da família. Isso indica maior grau de cooperaração entre indivíduos do mesmo grupo. A nossa hipótese, então, é de que essas duas características foram cruciais ao surgimento da capacidade de alternar turnos em uma conversa", explica.

"Como outros primatas evolutivamente mais próximos da nossa linhagem aparentemente não apresentam essa capacidade, concluímos que se trate de um exemplo de evolução convergente, em que duas espécies desenvolvem a mesma capacidade independentemente."

O pesquisador afirma que outras espécies nativas do Brasil também poderiam surpreender caso um dia tivessem sua capacidade vocal testada. É o caso, por exemplo, de outros macacos da família Callitrichidae que ocorrem no Norte e Nordeste brasileiro, como o mico-leão-dourado e o mico-leão-preto. "São animais conhecidos por emitirem muitos sons. Não se sabe se eles usam a comunicação vocal da mesma forma que os sagui-de-tufos-brancos, mas é muito provável que seja o caso."