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Psicologia, mercado e até leis da física explicam a desigualdade social

Manifestante utiliza mascara de Guy Fawkes, símbolo do movimento "Occupy Wall Street", durante protestos em Tampa, na Flórida (EUA) - Mladen Antonov/AFP
Manifestante utiliza mascara de Guy Fawkes, símbolo do movimento "Occupy Wall Street", durante protestos em Tampa, na Flórida (EUA) Imagem: Mladen Antonov/AFP

Do UOL, em São Paulo

24/05/2014 06h00

Já se acreditou que economias maduras naturalmente caminhariam para uma distribuição de renda menos desigual. Mas agora os estudiosos do tema voltaram atrás na famosa fórmula de “fazer o bolo crescer antes de reparti-lo”. Em uma série de artigos publicados na revista Science desta semana, estudiosos do tema deram seu parecer. E, ao que parece, economias emergentes, como China e África do Sul – além do Brasil – , têm péssimos indicadores distributivos.

Cruzando dados de mais de um século sobre a renda dos indivíduos no mundo desenvolvido, o economista francês Thomas Piketty concluiu que a Europa, mais desigual que os Estados Unidos no início do século 20, terminou o século passado com melhor distribuição de riqueza que a potência americana. O crescimento europeu foi interrompido por duas grandes guerras e depressões econômicas severas, mas essas crises podem ter contribuído para a reconstrução da economia em moldes mais igualitários.

Pesquisas e análises sobre as origens da desigualdade ganharam força depois da emergência dos movimentos “Occupy”, que denunciam a crescente desigualdade de renda em diversas sociedades.

Uma vertente já bem conhecida faz uma abordagem histórica do problema, detalhando como os mais ricos permanecem mais ricos fazendo uso de suas prerrogativas materiais. Na mesma linha, o pesquisador Adrian Cho inova ao usar a segunda lei da termodinâmica ( "A quantidade de entropia de qualquer sistema isolado tende a incrementar-se com o tempo") para explicar a permanência da desigualdade em diferentes sociedades, isoladas por sistemas jurídico-políticos diferentes.

A saúde e a psicologia também oferecem explicações para a perpetuação da desigualdade. Janet Currie cruzou dados de renda familiar com a incidência de doenças na infância e descobriu que crianças mais pobres estão expostas a mais riscos, ainda que os indicadores de saúde tenham melhorado entre elas. Johannes Haushofer e Ernst Fehr identificaram um ciclo de pobreza do qual é difícil escapar, já que pessoas pobres passam por mais situações de stress e, por isso, tendem a tomar decisões piores com relação a educação e finanças.

Para David Autor, o principal fator sustentando a desigualdade de renda hoje é a crescente remuneração para pessoas de escolaridade mais alta. A demanda da economia por mais conhecimento técnico e maior capacidade de aprendizado e análise, segundo ele, cresceu mais que a oferta de educação de qualidade, especialmente em nível de pós-graduação. Os salários da pequena parcela dos muitíssimo bem educados sobe, deixando a maior parte dos trabalhadores para trás.