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Pesquisadores questionam inteligência atribuída a golfinhos

Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

11/06/2014 06h00

Todo mundo logo pensa nos golfinhos quando a ideia é listar os animais mais inteligentes do planeta. Tudo começou nos anos de 1950, com as experiências feitas pelo neurocientista John Lilly. Ele conectou eletrodos ao cérebro dos golfinhos e descobriu que eles emitem sons altos quando estão prestes a ser assassinados, o que foi interpretado como uma tentativa de comunicação com o agressor.

Depois de outros experimentos, Lilly se convenceu de que esses animais têm uma capacidade de comunicação comparável à dos humanos. Ele escreveu diversos livros sobre o tema, e acreditava que os golfinhos chegavam a ter um senso de ética. É importante mencionar (sem querer desmerecer o pesquisador) que Lilly fazia experiências com LSD e muito do que ele escreveu foi utilizado pela cultura "New Age".

Atualmente, há certos pesquisadores nadando na contramão de Lilly. Um deles é Paul Manger, um neuroetólogo (especialista que estuda a ligação entre o comportamento animal e o sistema nervoso) da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul. Ele garante que muito do que é atribuído a esses cetáceos não passa de mito.

Enquanto biólogos dizem que golfinhos são capazes de compreender conceitos como o de "muito"e "pouco", Manger diz que larvas de besouro também são.  Ele argumenta, ainda, que a capacidade de reconhecer certos símbolos ensinada aos golfinhos não é exclusiva - leões marinhos seriam capazes da mesma proeza.

Embora se diga que esses cetáceos simpáticos utilizam um assobio específico para se identificarem no grupo, especialistas hoje sabem que isso não é nada do outro mundo - muitos insetos e animais marinhos possuem sinais acústicos que funcionam como RG.

Em um livro chamado "Are Dolphins really smart?"("Os golfinhos são realmente inteligentes?", em tradução livre), o zoólogo Justin Gregg também tenta tirar esses animais do pedestal, lembrando que certas espécies de tubarões e até de roedores têm virtudes igualmente nobres.

Comparados a outros mamíferos, os golfinhos têm cérebros bem grandes, característica que engorda a ideia de que eles são mais inteligentes. Porém, Manger defende que o tamanho aumentado do crânio dos cetáceos, em geral, têm uma função voltada à sobrevivência: a massa extra ajudaria a manter o cérebro aquecido. Em artigo que ele próprio assinou no "The Global Herald", em 2011, Manger descreve sua estrutura cerebral como bastante simples e com poucos neurônios.

Apesar de deixar claro que sua intenção não é dar fundamento a quem ameaça a existência dos golfinhos, nem é preciso dizer que Manger tem muitos inimigos. Defensores dos cetáceos até já pediram sua suspensão na universidade, em 2006, quando ele começou a questionar os diferenciais atribuídos ao cérebro desses animais, segundo reportagem do Daily Mail.

A bióloga marinha Karsten Brensin, da Whale and Dolphin Conservation (WDC), organização em defesa das baleias e golfinhos, critica essa "mania"de Manger ficar comparando habilidades dos golfinhos individualmente. Para ela, se usarmos o mesmo método para falar de seres humanos, vamos concluir que o Homo sapiens não é tão sabido assim.

A neurocientista Lori Marino, da Universidade de Atlanta, também ressalta os diversos estudos científicos de qualidade que destacam a habilidade dos golfinhos de trabalhar em grupo, cultivar relacionamentos, lutar pelo poder e até se reconhecer no espelho -- algo que ela mesma testou, ao lado da psicóloga Diana Reiss. (com Daily Mail e The Global Herald)