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Clique Ciência: por que o pelo coça quando cresce?

Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

01/07/2014 06h00

Se você é mulher e costuma usar minissaias, shorts, biquínis e regatas, passa por isto com frequência: alguns dias depois de se depilar, uma coceira terrível toma conta do local onde os pelos voltam a crescer.

Se você é homem e atleta, ou simplesmente é vaidoso e não curte o visual "Tony Ramos" que os genes lhe deram, também conhece a agonia. E se você nunca se depilou, mas já foi obrigado a raspar os pelos em regiões íntimas antes de alguma cirurgia, também conhece o sofrimento.

Para certas pessoas com tendência ao encravamento dos pelos, a depilação com cera é "tiro e queda" para sofrer com a maldita coceira, ainda mais se ela for quente.

Isso porque o canal folicular (aquele que leva o pelo do folículo, seu ponto de origem, para fora da pele) fica obstruído com gordura ou queratina (proteína) depois que o pelo é arrancado próximo à raiz. E o fio fica todo enrolado lá dentro, pressionando a pele para fora, gerando inflamação e dor.

"A esfoliação no dia anterior e posterior à depilação com cera, desde que suave, sem agredir a pele, pode ajudar a evitar o encravamento de pelos, mas é contraindicada se a pele estiver sensibilizada", recomenda a médica Juliana Jordão, que faz parte da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

"Cremes calmantes, como aqueles à base de aloe vera, auxiliam na redução da vermelhidão, ardência e coceira provocadas pela depilação", diz a dermatologista.

Mas ela avisa que é importante dar preferência a cremes mais fluidos, para evitar a obstrução de poros e consequente encravamento do pelo. Calças ou colarinhos apertados também podem gerar o mesmo efeito e, portanto, devem ser evitados.

Para quem costuma sofrer com o pelo "preso" dentro da pele, o uso da lâmina é mais indicado. E o método não aumenta a quantidade, nem o diâmetro do pelo, como muita gente acredita.

Para algumas pessoas, porém, raspar causa ainda mais coceira do que depilar. A forma como o pelo é cortado faz com que ele cresça espetado, como se fosse uma agulha, o que é uma tortura para quem tem pele sensível.

Utilizar lâmina para retirar os pelos também funciona como uma espécie de peeling, removendo a proteção natural da pele, o que pode agravar a irritação. Para piorar, o resultado dura poucos dias, e o ritual masoquista precisa ser repetido mais vezes.

Os cremes depilatórios funcionam de forma parecida e não deixam o pelo tão espetado, mas podem provocar alergias em pessoas com pele sensível.

Laser ou luz pulsada

"Para os pacientes que evoluem com coceira após a depilação convencional, a remoção prolongada de pelos com laser ou luz intensa pulsada pode reduzir o sintoma", aconselha Juliana Jordão.

Mas é bom lembrar que esses métodos não são definitivos --eles exigem sessões frequentes e, depois, manutenção.

Se você ainda não testou o laser ou a luz pulsada, prepare-se para uma notícia não muito animadora: "Após a aplicação de uma dessas tecnologias, alguns pacientes experimentam, especialmente nas primeiras sessões, coceira que dura em geral poucas horas e é controlada com medicações prescritas pelo médico dermatologista", diz Juliana.

Para entender como funcionam esses métodos com efeito prolongado, é preciso conhecer um pouco sobre o ciclo de vida dos pelos: na fase anágena, o crescimento é acelerado. Na catágena, há uma estagnação. E na telógena, o pelo sofre uma queda espontânea.

A dermatologista explica que os tratamentos com laser ou luz intensa pulsada têm como alvo o pigmento escuro do pelo, e a fase em que há maior concentração dele é a anágena.

Nesse período, as aplicações são feitas para atingir a região do folículo conhecida como "bulge", onde estão as células-tronco que promovem a regeneração do pelo.

Cada pessoa, um método

Justamente por buscar o pigmento é que o laser e a luz pulsada têm melhor resultado em pelos escuros e espessos como os da barba, das axilas e da virilha.

Nas áreas em que o pelo é mais fino e, portanto, mais claro, são necessárias mais sessões, nem sempre com resultados positivos. E as peles muito escuras podem ficar manchadas, pelo mesmo motivo.

Também é bom lembrar que pessoas que usam certos medicamentos, ou mulheres que possuem síndrome dos ovários policísticos terão menos sucesso.

Quer dizer que não há uma técnica que funcione para todo mundo? Isso mesmo. "Não há um método melhor ou pior. Para cada paciente existe uma opção mais adequada", diz a médica.  E não há remoção definitiva dos pelos, pois a permanência dos resultados depende de fatores individuais.

Segundo a especialista, há uma substância que apresenta comprovação científica na redução da espessura dos pelos, tornando-os menos visíveis: a eflornitina.

Cremes com o componente podem ser úteis para casos em que há contraindicação para tratamentos com laser ou luz pulsada, como por exemplo peles morenas ou pelos claros.

"É bom lembrar que o tratamento é prolongado, de custo elevado, e ainda não está disponível para venda no Brasil", afirma a médica Juliana Jordão.

Enquanto não inventam uma solução barata e eficaz para acabar de vez com os pelos, quem sofre com a coceira pós-depilação deve procurar orientação de um profissional para minimizar o problema. Ou, então, assumir de vez a tão odiada penugem, como algumas mulheres têm feito.

Se depender da velocidade da evolução humana, que, segundo biólogos, deu preferência a indivíduos com menos pelos por causa de pulgas, piolhos e carrapatos, vai demorar bastante para nos livrarmos dessa cobertura tão indesejada em certas partes do corpo.