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Unicamp terá museu de ossos humanos que ajudará na solução de crimes

Ossada que fará parte do acervo do museu. Da esq. para dir., os cientistas Rafael Araújo, Luiz Francisquini Júnior, Eduardo Daruge Júnior e Rodrigo Matoso  - Divulgação
Ossada que fará parte do acervo do museu. Da esq. para dir., os cientistas Rafael Araújo, Luiz Francisquini Júnior, Eduardo Daruge Júnior e Rodrigo Matoso Imagem: Divulgação

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

22/07/2014 06h00

Um museu de ossos humanos será instalado dentro da Faculdade de Odontologia da Unicamp, em Piracicaba (160 km de São Paulo), com a finalidade de criar um banco de dados que ajude na identificação de ossadas. As informações poderão ajudar diretamente na solução de crimes que envolvam morte.

Ao todo, 500 esqueletos humanos serão catalogados e identificados por cor, estatura, idade e gênero, sendo o maior do setor no Brasil, segundo a universidade. O museu deve abrir ao público em janeiro de 2015.

O estudo das ossadas fornecidas por cemitérios da região vai permitir o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre a população brasileira e criar um banco nacional de informações que ajudem na identificação de corpos, útil na solução de crimes, segundo Eduardo Daruge Júnior, coordenador da área de Odontologia Legal e Deontologia da faculdade.

Medidas dos ossos dão as pistas

As medidas dos ossos é que vão ‘traduzir’ as características do morto, pois já é sabido, por exemplo, que mulheres têm ossos da bacia mais largos e homens têm o crânio mais pesado e robusto. A idade do corpo pode ser analisada a partir de suturas cranianas que se fecham com o passar dos anos. Brancos, negros e orientais têm estrutura óssea diferente, o que também permite a identificação da cor mesmo sem a presença de pele e sangue.

“Atualmente usamos tabelas europeias na hora de identificar tipos de ossadas, o que não reflete a nossa realidade de povo miscigenado. Toda vez que se encontra um corpo em decomposição tem que se fazer o levantamento das medidas para determinar o sexo, a idade, cor da pele e estatura. Temos que ter estudos baseados no perfil brasileiro”, diz Daruge, idealizador do museu.

O uso de teste de DNA para identificar o corpo é o último recurso usado na identificação, pois há necessidade de comparar o seu resultado com o de outra pessoa.

“Quando encontramos um esqueleto sem condições de ser reconhecido pela digital ou pelos dentes, catalogamos as medidas antropométricas [dos ossos] dela e a comparamos com dados de pessoas desaparecidas de perfil semelhante. Somente depois de afunilar ao máximo a possível identificação do cadáver é que se faz o exame”, diz.

O museu vai viabilizar a criação de softwares com dados oriundos das análises, para que em futuros trabalhos de identificação sejam usadas as tabelas desenvolvidas pela Unicamp.

Estudo de ossadas identifica causa da morte

“Toda vez que um homicida mata uma pessoa ele tenta de todas as formas ocultar o cadáver. Nessa tentativa, o corpo pode ser encontrado já em decomposição ou em esqueleto e, para ser levantada a causa da morte, o primeiro passo é a identificação humana. Se isso não ocorre, não há como fazer a investigação”, afirma Daruge.

Estudos de ossadas humanas já permitem identificar a causa da morte por sufocamento e por traumatismo craniano, por exemplo.

“Esqueletos encontrados com os dentes rosados indicam morte por sufocamento, assim como perfurações no crânio podem indicar morte por arma de fogo ou traumatismo craniano”, afirma.

O museu será aberto para visitação de escolas, mas terá foco em pesquisadores brasileiros e latino-americanos.

Embora os estudos se voltem a esqueletos da região sudeste, futuramente a universidade pretende expandir as pesquisas para outras regiões do país para criar uma tabela nacional de identificação de corpos.

O projeto da Unicamp conta com parceria de outras universidades como a Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR).