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É a melhor época para nascer: expectativa de vida atinge recorde

Doni Bloomfield

Da Bloomberg

18/12/2014 14h20

Essa é uma época boa para ser um bebê. Uma criança nascida no ano passado viverá seis anos mais, em média, do que outra que nasceu em 1990. É a primeira vez na história que a expectativa mundial de vida ultrapassa os 70 anos de idade.

Boa parte desse aumento veio dos países pobres, onde uma melhor infraestrutura de saúde ajudou as pessoas a viverem vidas muito mais longas, segundo um estudo publicado hoje no jornal Lancet. Nos países ricos, novas drogas e outros avanços estão esticando o tempo de vida, disseram os autores.

Os africanos do leste subsaariano viram um ganho de 9,2 anos na expectativa de vida entre 1990 e 2013, maior incremento de qualquer região do planeta. Em alguns países, como Ruanda, Nepal, Níger e Irã, a perspectiva melhorou em mais de 12 anos.

"Fora do sul da África, tem havido uma melhora bastante substancial na expectativa de vida em todo lugar", disse Christopher Murray, autor principal do estudo e professor da Universidade de Washington, em Seattle. Excetuando 1993, quando a estimativa mundial foi prejudicada pelo genocídio em Ruanda, "você pode ver que a expectativa de vida global, particularmente desde 2000, subiu 0,3 por ano".

Mundialmente, a duração esperada de vida de um bebê nascido no ano passado cresceu 6,2 anos, para 71,5 anos de idade, segundo o estudo, que é patrocinado pela Fundação Bill Melinda Gates.

Os pesquisadores descobriram melhorias especialmente grandes entre as doenças passíveis de ajuda externa e programas básicos de saúde pública. As mortes causadas por diarreia e doenças infecciosas comuns caíram cerca de 50 por cento e a taxa de doenças tropicais como a malária tiveram um declínio de 25 por cento. A aceleração da ajuda internacional desde 2000 tem sido particularmente importante, disse Murray, em entrevista por telefone.

HIV, malária

"É muito difícil não reconhecer a contribuição desses programas de desenvolvimento de saúde para o HIV e a malária. As conexões causais são irrefutáveis", disse Murray. A assistência ao desenvolvimento dos países ricos para os pobres aumentou para mais de US$ 120 bilhões em 2008, contra menos de US$ 80 bilhões em 2000, com valores ajustados pela inflação, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Embora as mortes originadas pela violência tenham caído -- houve 69 por cento menos mortes devido a guerras e conflitos do que em 1990 --, esse ainda é um flagelo em algumas regiões do mundo. Na Síria, cerca de 30.000 pessoas foram mortas em guerras no ano passado, o que transforma o país na principal causa de anos de vida perdidos, uma medida usada para contabilizar as mortes prematuras. A violência é a principal causa de anos perdidos na parte central da América Latina, inclusive na Colômbia e na Venezuela. Em todo o mundo, os suicídios caíram 23 por cento.

Embora os grandes avanços sejam vistos nos países em desenvolvimento, as nações ricas também registraram ganhos, particularmente devido à melhora nas intervenções de doenças cardíacas e câncer. Nos EUA, a expectativa de vida cresceu 3,5 anos porque as taxas de tabagismo caíram quase pela metade, segundo o Surgeon General. Uma área que preocupa são as enfermidades crônicas, como o mal de Alzheimer e as doenças renais, pois ambas registraram grandes aumentos.

Para Murray, autor principal do estudo, não há motivo para pensar que estejamos chegando a um limite para o aumento.

"Não se vê nem mesmo uma ligeira redução nos lugares mais abastados", disse Murray. A Austrália, por exemplo, ganhou 4,8 anos de expectativa de vida de 1990 para cá. "Não há sinal de desaceleração ainda".