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Geladeira eficiente consome menos energia e pode esquentar água de chuveiro

O professor José Roberto Simões Moreira, coordenador do Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli-USP, liderou o estudo - Divulgação
O professor José Roberto Simões Moreira, coordenador do Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli-USP, liderou o estudo Imagem: Divulgação

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

17/05/2015 06h00

Uma geladeira que resfria os alimentos, esquenta a água do chuveiro e das torneiras e ainda gasta menos energia em seu funcionamento. Parece magia, mas esse sistema já é real. Ele foi  desenvolvido e patenteado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e pode chegar ao mercado em breve.

"O calor gerado pela geladeira vai para o ambiente e é dissipado. Com o sistema, esse calor deixa de ser perdido e é utilizado para esquentar a água", comenta o professor José Roberto Simões Moreira, coordenador do Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli.

Para entender como funciona o sistema, é preciso entender o funcionamento da geladeira: o processo de circulação refrigerante é feito através de um gás, que é aspirado pelo compressor e comprimido, o que resulta em aumento da pressão e temperatura do gás. Esse gás prossegue para um condensador — uma espécie de serpentina que fica na parte posterior da geladeira doméstica, onde o calor é dissipado, e assim a geladeira é gelada.

A energia térmica liberada pela geladeira pode chegar a 60°C. “Inserimos um tanque de água entre o compressor e o condensador permitindo, assim, que o calor do gás quente fosse transferido para a água em vez de ser dissipado para o ambiente em que se encontra a geladeira”, acrescenta.

O sistema deve custar ao consumidor cerca de R$ 200, se houver fabricação industrial. De forma artesanal, o custo estimado para a instalação seria de R$ 400. O uso pode ser para geladeiras residenciais e comerciais.

Projeto

A pesquisa, coordenada por Simões, durou oito meses e teve a parceria do aluno de graduação Lucas Zuzarte. Segundo os pesquisadores, o invento pode, em teoria, ser utilizado em todos os refrigeradores do país, número estimado em 50 milhões pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Nos testes em laboratório, feitos com uma geladeira comercial de 565 litros e um tanque de 25 litros de água acoplado ao sistema, a temperatura final da água chegou a 55ºC, com aumento médio de 5ºC por hora. Quanto mais o equipamento é utilizado, mais rápido e intenso é o aquecimento. "Se formos levar em conta o custo para aquecimento dessa quantidade de água por mês, a economia seria de aproximadamente R$ 35 ao mês", disse.

Consumo

Outra vantagem do sistema é que ele melhora o desempenho da geladeira e diminui o consumo de energia elétrica. Nos testes, o coeficiente de performance do refrigerador, que mensura sua eficiência energética, aumentou mais de 13%. Já o consumo de energia do compressor caiu entre 7% e 18%.

"Além de garantir água quente, a instalação do equipamento melhora o desempenho da geladeira. Além disso, ele pode diminuir o consumo de ar-condicionado, já que o calor que iria para o ambiente e aumentaria a temperatura do local onde a geladeira está”, garante.

Potência

Simões pondera que o processo é mais eficiente em refrigeradores comerciais por causa da potência dos aparelhos. “Creio que para restaurantes, lojas de conveniência de postos combustíveis e outros pontos comerciais do gênero será uma inovação muito bem-vinda, porque pode otimizar a economia de energia de fato, mas em residências sua aplicação também é viabilizada.”

Além disso, o sistema tem como vantagem ser fácil e barato de instalar. “Pode ser facilmente instalado por qualquer técnico de refrigeração”, diz. Trata-se, basicamente, de um tanque, que no caso dos testes foi feito em aço inox, mas pode ser confeccionado com material mais barato, alguns tubos de cobre e de PVC.

Mercado

Simões acredita que, como a patente já foi concedida e as pesquisas demonstraram todo o potencial de aplicação do sistema, é possível que a inovação chegue efetivamente ao mercado em alguns meses. Segundo ele, a indústria levaria menos de três meses para fazer as adaptações necessárias e o desenvolvimento final do produto.

“Em princípio, a ideia é apresentar o sistema aos fabricantes de geladeiras, que teriam condições de oferecê-lo como opcional na compra do aparelho”, conta. 

Patente

Embora o invento de Simões seja o primeiro a ser patenteado no Brasil, um outro pedido de patente para um equipamento similar foi feito em 2001 pelo inventor Paulo Del Neri Batista. Por falta de uma das etapas do processo de obtenção da patente, entretanto, o pedido foi arquivado em 2005. Segundo Batista, um sistema que era capaz de esquentar a água a 40ºC foi apresentado por ele no XXVI Prêmio Governador do Estado - Invento Brasileiro, que teve comissão julgadora da própria USP. "Sou um empresário, um inventor amador. Dei entrada na patente, mas foi arquivada porque não houve interesse. Agora, vou pedir o desarquivamento", disse.

(reportagem atualizada em 19/05 às 16h59)