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Postura corporal afeta nas relações amorosas e sociais, diz estudo

Leticia Vilela/Arte UOL
Imagem: Leticia Vilela/Arte UOL

Gretchen Reynolds

19/07/2015 06h00

Equilibrar-se em uma perna só pode testar a estabilidade não apenas do seu corpo, mas do seu casamento e de outros relacionamentos íntimos, de acordo com um novo estudo de como a postura corporal é capaz de afetar o pensamento emocional.

Os resultados contribuem para uma área emergente da ciência conhecida como cognição incorporada, que estuda as interconexões entre a fisiologia e os sentimentos.

Para entender a cognição incorporada, pense por um momento sobre a palavra sentir, que se refere tanto a sentimento ou emoção quando ao processo tátil de tocar alguma coisa.

Para os cientistas envolvidos no estudo da cognição incorporada, esses dois significados se sobrepõem de maneiras inesperadas e vibrantes. Estudos anteriores mostraram, por exemplo, que as pessoas que seguram uma xícara de café quente tendem a considerar pessoas que não conhecem como possivelmente mais simpáticas e “calorosas” do que as pessoas que seguram uma xícara de café frio.

Para quantificar essa conexão, os pesquisadores de uma experiência neurológica recente pediram aos voluntários para ler mensagens amorosas e “calorosas” e outras emocionalmente neutras de amigos enquanto os estudiosos escaneavam sua atividade cerebral. Então, eles repetiram os escaneamentos enquanto os voluntários seguravam pacotes quentes e frios. Quando leram as mensagens calorosas e seguraram os objetos quentes, os voluntários apresentaram mais atividade em porções do cérebro conhecidas pelo envolvimento nos processos emocionais. Não houve sobreposição parecida na atividade do cérebro quando leram as mensagens neutras e seguraram algo frio.

Os resultados “deram credibilidade às descrições das experiências de conexão como ‘reconfortantes’”, concluem os autores.

No entanto, enquanto muitas pesquisas anteriores examinaram a cognição incorporada e as interações sociais gerais, poucas analisaram de perto como a cognição incorporada pode estar relacionada a nossos envolvimentos românticos, apesar de serem os mais apaixonados e, claro, quentes.

Por isso, no novo estudo, publicado no mês passado no Psychological Science, os cientistas da Universidade de Pittsburgh e da Universidade de Waterloo, no Canadá, decidiram examinar estabilidade, turbulência e amor.

Eles focaram na estabilidade porque é um termo que tem sentidos literais e abstratos. Nossos corpos podem ser fisicamente estáveis ou instáveis, assim como nossos relacionamentos íntimos.

Para ver como a estabilidade é descrita entre casais, os pesquisadores primeiro recrutaram um pequeno grupo de universitários que relataram estar em um relacionamento há mais de um ano.

Os pesquisadores então selecionaram aleatoriamente metade de seus voluntários para sentar em uma escrivaninha normal e a outra metade para assumir posições em móveis que foram um pouco alterados para que a cadeira e a mesa se movessem ligeiramente.

Os voluntários completaram questionários sobre suas vidas e relacionamentos românticos, incluindo o quão satisfeitos se sentiam com seus parceiros e se pensavam que o namoro ia durar. (Para encorajar a honestidade, apenas um dos membros do casal fez parte do estudo.)

Na avaliação, os pesquisadores encontraram uma correlação forte entre as escrivaninhas bambas e pares românticos não muito estáveis. Os alunos que se sentaram em mesas instáveis tinham mais tendência a perceber a instabilidade em suas vidas amorosas do que os que ocuparam mesas e cadeiras que não balançavam.

Mas esse teste, apesar de intrigante, foi muito limitado no tamanho e na homogeneidade de seus participantes, jovens e em sua maioria apenas namorando.

Assim, para a porção seguinte do estudo, os pesquisadores usaram um portal online para recrutar um grupo muito maior e mais diverso de voluntários, incluindo pessoas mais velhas, algumas das quais casadas há anos. Todos confirmaram que eram parte de um casal estabelecido e monogâmico.

Os pesquisadores colocaram os voluntários em frente a uma tela de computador.

Então, pediram à metade dos voluntários para se equilibrar em uma perna só, enquanto o resto permaneceu de pé normalmente.

Nessa posição, os voluntários completaram questionários sobre si mesmos e seu relacionamento romântico, como haviam feito os estudantes.

Mas agora os pesquisadores também pediram aos voluntários, que se apoiavam em um ou nos dois pés, para escrever uma mensagem curta para seus parceiros, descrevendo como a pessoa se sentia sobre ele naquele momento.

Os resultados dão o que pensar para qualquer pessoa que esteja querendo escrever o cartão do dia dos namorados equilibrando-se em um pé só. Em sua imensa maioria, os voluntários que cambaleavam sobre uma perna avaliaram seus relacionamentos como mais instáveis e com menos possibilidades de durar do que as pessoas que ficaram sobre os dois pés.

Suas mensagens para os parceiros também tenderam a ser mais queixosas, falando mais de trabalhos domésticos não compartilhados do que de abraços amorosos.

Claro que o estudo não mostra que um corpo instável cria uma vida amorosa instável, afirma Amanda Forest, professora de Psicologia na Universidade de Pittsburgh, que liderou a pesquisa, apenas que as pessoas que se sentem fisicamente instáveis tendem a perceber seus relacionamentos românticos também como turbulentos.

O estudo também não foi feito para explicar como a instabilidade do corpo influencia os sentimentos sobre as pessoas amadas, apesar de a resposta neural sobreposta estar quase certamente envolvida, diz Amanda, e esta é uma possibilidade que ela e seus colegas esperam analisar no futuro.

Por enquanto, as descobertas sugerem que, quando contemplando o estado de seu relacionamento, você deve apoiar seus dois pés firmemente no chão, ou sentar em uma cadeira forte e equilibrada, e que, ao contrário de histórias que nos contam quando crianças, casamentos entre instáveis estão todos condenados.