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Sondas buscam vida em outros planetas desde 1962 e tiram belas fotos

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

28/08/2015 06h00

Era 27 de agosto de 1962 quando a Mariner 2 deixou a Terra com destino a Vênus. Era a primeira vez que uma espaçonave saía daqui com a finalidade de estudar um planeta. Ela fez um sobrevoo no planeta mais brilhante do Sistema Solar, a uma distância de 34 mil quilômetros de Vênus, revelando pela primeira vez as altas temperaturas venusianas. Mais de 50 anos separam a jornada da Mariner 2 e da New Horizons, que em julho deste ano chegou ao planeta-anão Plutão, após percorrer quase 5 trilhões de quilômetros e nove anos e meio de viagem.

Nesse meio tempo, várias missões foram enviadas tanto pela Nasa quanto por outras agências espaciais para investigar os planetas do Sistema Solar, mas nenhuma delas teve a repercussão global que a New Horizons teve. O jornal norte-americano “The New York Times” chegou a comparar a chegada da sonda a Plutão a uma “véspera de Ano-Novo”, com o “clímax de uma década e meia de sonhos e esforços”. Cada nova informação ou imagem enviada pela New Horizons foi transmitida e compartilhada por milhares de pessoas ao redor do globo, tudo graças à internet e às redes sociais, a exemplo da imagem do “coração” na superfície do planeta-anão.

“Nas décadas de 1970 e 1980, quando várias missões foram enviadas ao espaço para investigar os planetas, não existiam os meios de comunicações que temos hoje, não havia internet, redes sociais. Hoje, a tecnologia nos permite isso, transmitir informação, conhecimento, para todos os pontos do planeta”, explica Daniel Mello, astrônomo do Observatório do Valongo, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ele conta ainda que naquela época, a chegada de uma espaçonave a um planeta era comemorada, mas as informações costumavam ficar mais restritas à comunidade acadêmica.

“Alô, alô, marciano”

Guardadas as devidas proporções e levando em consideração a época e os meios de comunicação existentes, a chegada a Marte em 1965 também causou um frisson na população mundial. Era o auge da corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, travada durante a Guerra Fria. Os americanos já tinham saído na frente enviando a Mariner 2 a Vênus, em 1962. Os soviéticos, por sua vez, não se deixaram abater e criaram o Programa Venera, mandando a sonda Venera 7 à superfície do planeta.

O outro vizinho foi o próximo alvo. “Marte sempre despertou o interesse das pessoas. Desde o final do século 19, alguns telescópios de melhor tecnologia já faziam observações sobre o planeta. Dois astrônomos chegaram a afirmar que o planeta tinha canais de escoamento de água e outro tipo de transporte. Então, as pessoas passaram a acreditar que tinha uma civilização mais inteligente morando lá”, conta Mello.

A imaginação foi ainda mais aguçada pelo advento dos filmes de ficção científica no começo do século 20. Mas, a chegada da Mariner 4 a Marte, em 1965, foi um banho de água fria no imaginário popular. Fotografias tiradas pela espaçonave chocaram ao revelar um planeta que parecia estar morto. Mas, Marte guarda inúmeros mistérios e a presença da sonda Curiosity desde 2012 tem justamente a missão de investigar se já houve ou se poderá haver vida no Planeta Vermelho.

“Ao infinito e além”

Muitos dos dados enviados à Terra por essas missões não foram sequer analisados pelos cientistas, a exemplo das sondas Voyager 1 e 2, lançadas no fim da década de 1970 e ainda hoje em funcionamento, já fora do Sistema Solar. “Há informações da Cassini, da Galileu, e vão vir muitas outras da New Horizons, que demorarão um tempo para serem analisadas”, disse o astrônomo. Depois de Plutão, a New Horizons continuará sua trajetória rumo ao Cinturão de Kuiper.

Na opinião de Daniel Mello, além da análise desses dados, os cientistas devem fazer investigações de ordem astrobiológica. “É a junção de outras ciências além da astronomia para identificar a possibilidade de haver vida nos corpos do Sistema Solar. Esse será o próximo foco das próximas missões espaciais”, contou.