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Pegadinha? 5 vezes que achamos que podia ter vida no espaço, mas não tinha

Em imagem divulgada pela Nasa é possível ver as listras estreitas e escuras onde os cientistas acreditam que exista água em estado líquido fluindo no solo de Marte - Universidade do Arizona/ NASA/JPL
Em imagem divulgada pela Nasa é possível ver as listras estreitas e escuras onde os cientistas acreditam que exista água em estado líquido fluindo no solo de Marte Imagem: Universidade do Arizona/ NASA/JPL

Maria Júlia Marques

Do UOL, em São Paulo

30/09/2015 06h00

A recente divulgação da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana) de que  provas da existência de água líquida e corrente em Marte fez com que a comunidade cientifica se empolgasse e criasse hipóteses de que agora encontrar vida no planeta vermelho pode ser apenas uma questão de tempo.

Embora alguns tenham animado-se com a notícia e imaginado como será morar em Marte, além de conhecer os marcianos, é bom lembrar que o assunto é delicado e alguns estudos já anunciaram ter encontrado vida fora do espaço, mas no fim a história não foi bem assim.

O UOL ouviu astrônomos para descobrir quais foram essas pesquisas falhas e, de acordo com o professor Enos Picazzio, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) na Universidade de São Paulo, o fato é que ninguém nunca achou nada que realmente prove a existência de vida fora da Terra.

Alias, os únicos que encontraram vida no espaço até hoje foram os ufólogos
Enos Picazzio

Meteorito Allan Hills 84001

Quem era vivo (e adulto) em 1996 deve se lembrar da notícia que surpreendeu o mundo: uma pedra marciana encontrada na Antártida tinha (pelo o que parecia) bactérias fossilizadas. A rocha foi nomeada como Allan Hills 84001, tinha cerda de 2 kg e tinha sido localizada em 1984 por caçadores de meteoritos. De acordo com os cientistas, a composição do meteorito indicava que ele seria originário de uma rocha vulcânica de Marte.

As teorias dos pesquisadores indicavam que um organismo unicelular era muito simples e vivia em abundância na água da superfície do planeta vermelho, em um passado distante. Para chegar à Terra, o organismo teria ficado preso na rocha durante uma erupção vulcânica, que poderia tê-lo atirado da superfície do planeta vermelho, ou ele poderia ter sido jogado no espaço pelo choque de um meteorito. As pressões exercidas contra a rocha no espaço teriam matado e fossilizado o organismo, preservando seu contorno e sua microestrutura.

Por mais que fosse mais bacana acreditar na vida em Marte, existia também a hipótese de que um organismo terrestre antigo tivesse penetrado no meteorito, que estava extremamente quente após passar pela atmosfera, e que esse organismo tenha ficado ali preso enquanto a rocha esfriava e endurecia.

A notícia enlouqueceu muitos terráqueos, mas até hoje não foi possível confirmar se realmente se tratam de restos de vida marciana, ou se são estruturas criadas por algum processo físico-químico.

Para estimular a imaginação dos otimistas com a vida em Marte, em 2014 uma equipe de cientistas da Nasa anunciou ter encontrado indícios de movimento de água no interior de outro meteorito marciano. Neste novo estudo, que conta com membros da mesma equipe da pesquisa de 1996, o meteorito analisado tem cerca de 13 kg e foi encontrado no Glaciar Yamato, na Antártida. A discussão sobre a vida no planeta voltou à tona, mas ainda não há conclusões.

‘Bactérias extraterrestres’

Em 2011, um artigo do astrobiólogo da Nasa, Richard Hoover, também causou alvoroço. O cientista dizia ter descoberto evidências de bactérias extraterrestres fossilizadas em três meteoritos que atingiram a Terra.

A teoria foi publicada no Journal of Cosmology, onde Hoover afirmava ter encontrado evidências de organismos similares às cianobactérias na estrutura das rochas. Porém, a composição dos organismos encontrados era diferente das bactérias terrestres, o que provaria que vinham do espaço.

O periódico recebeu duras críticas da comunidade científica por ter veiculado a pesquisa. Mesmo causando muito bochicho, não houve comprovação mais aprofundada da tese de Hoover.

Companhia para o Curiosity

O robô Curiosity, que está desde 2012 em Marte, descobriu quatro meses após sua chegada moléculas de água, enxofre e percolato, um composto formado por cloro e oxigênio, no solo do planeta vermelho. O perclorato tem partículas de carbono, elemento orgânico fundamental para a formação da vida. 

As cinco amostras foram coletadas na duna de areia Rocknest, que fica na cratera Gale, e foram analisadas, também, pelo CheMin e o Mahli, laboratórios e equipamentos instalados dentro do jipe-robô. A esperança reascendeu, mas ainda não era uma forma de vida.

Estrela doce

Uma equipe internacional de astrônomos detectou pela primeira vez açúcar ao redor de uma estrela jovem, informou o Observatório Austral Europeu (ESO, na sigla em inglês), em 2012.

O grupo conseguiu captar moléculas de açúcar no gás que rodeia a IRAS 16293-2422, uma estrela binária jovem que possui massa similar a do Sol e está localizada a 400 anos-luz da Terra.

Encontrar açúcar não soa como descobrir a vida no espaço, porém, os pesquisadores explicaram que a molécula encontrada é um dos ingredientes na formação do ácido ribonucleico (RNA), que, assim como o DNA, é um dos ingredientes fundamentais para a vida. Assim, este achado demonstra que os elementos essenciais para a vida se encontram no momento e lugar adequados para poder existir nos planetas que se formam ao redor da estrela.

Metano em Marte

Em fevereiro de 2005, cientistas da Nasa relataram novamente que poderiam ter encontrado alguma evidência de vida atual em Marte.

Os responsáveis pela descoberta eram os cientistas Carol Stoker e Larry Lemke. Ambos afirmaram que provaram que há vida em Marte por ter detectado metano na atmosfera de Marte. A produção, segundo a dupla, se assemelhava com a da vida primitiva na Terra.

Pela superficialidade da pesquisa, a Nasa se desvinculou do estudo, e os próprios cientistas recuaram das afirmações iniciais. Apesar da fragilidade, a descoberta do metano ainda é debatida por cientistas para aumentar as possibilidades de vida em solo marciano.

Sem perder a esperança 

Mesmo com muitas descobertas sem um final feliz, a esperança é sempre a última que morre.

Em abril deste ano, o cientista-chefe da Nasa, Ellen Stofan, afirmou durante um painel de discussões em Washington, nos Estados Unidos, que as descobertas mais excitantes estão para acontecer nos próximos anos. “Vamos ser otimistas… ainda no período de nossas vidas vamos descobrir que há vida em outros corpos celestiais do Sistema Solar, vamos descobrir as implicações disso para a evolução em nosso próprio mundo. Tudo isso vai acontecer nos próximos 20 a 30 anos”.

Agora, nos resta esperar.